UPPs – Modelo precisa ser repensado

Os novos conflitos no conjunto de favelas do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, representam a necessidade de reavaliar a ocupação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos morros cariocas, segundo especialistas.

Iniciado em 2008 no governo Sérgio Cabral, o modelo é um sistema de policiamento comunitário nas áreas de risco da cidade. Segundo avaliação da antropóloga da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Alba Zaluar, agora é o momento de repensar o formato das UPPs. “Qualquer política pública é assim. Esse é um trabalho que exige um esforço muito grande, pois foram muitos anos de domínio e muita coisa ainda precisa ser feita. Mas não estamos diante de um modelo que está degringolando. É cedo para afirmar isso”, disse ela.

Para o professor da Uerj, membro do Laboratório de Análise da Violência da instituição e sociólogo Ignácio Cano, o projeto de pacificação do governo de Sérgio Cabral cumpriu com seu objetivo inicial ao remover os traficantes e as armas das treze favelas do Complexo do Alemão. Agora, Cano defende o início de uma segunda fase, em que o modelo evolua e consolide uma gestão mais próxima das polícias comunitárias. “O Alemão nunca foi inteiramente pacificado. Pelo tamanho da região e suas características, é muito complicado. Mas as UPPs tiveram uma contribuição muito importante”, ressaltou o sociólogo.

Improvisação
Na opinião de ambos, a atuação rígida do Exército pode ser apontada como uma das causas dos recentes conflitos. “A UPP do Complexo do Alemão foi uma reação emergencial do poder público aos acontecimentos da época, por isso fugiu do planejamento normal previsto para as unidades. O Exército não tem essa função, então isso que está acontecendo hoje é o reflexo dessa improvisação”, analisa Cano. “Falta preparação e coerência das Forças Armadas para agir com a população.

As UPPs não deveriam representar somente uma ocupação militar e sim política, em que eles aprendem a ganhar o apoio da comunidade local”, argumenta Alba. A pesquisadora disse ainda que pretende visitar o Complexo do Alemão nos próximos dias para conversar com os moradores, para ter uma visão melhor dos acontecimentos.

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