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“Segurança da Copa está planejada e em andamento”, garante secretário

BRASÍLIA – Responsável por uma das áreas estratégicas da Copa, o Secretário de Segurança em Grandes Eventos, Andrei Rodrigues, garante que o complexo sistema desenvolvido para garantir a segurança de atletas, delegações, autoridades e torcedores durante o torneio está afinado, ensaiado e garantido. O investimento na área é de R$ 1,170 bilhão e Rodrigues assegura não haver atrasos na preparação.
 
ESTADO – Como está a preparação da segurança a 100 dias para a Copa?
Andrei Rodrigues – O sistema de comando e controle é um complexo de conjuntos de investimento, desde obras físicas, de adequações, de instalações para a criação de centros de comando e controle. Em cada unidade da federação das 12 sedes tem a construção deste centro com todos os equipamentos, sistemas, tecnologia agregados para a funcionalidade dos sistemas. A realidade hoje é que os que operaram na Copa das Confederações continuam e estamos agregando várias funcionalidades. Alguns, como no Ceará, funcionou em uma instalação e agora está em prédio mais moderno. O prazo final para tudo, prédio, instalação e a primeira capacitação é fim de abril.
 
ESTADO – Está tudo dentro do cronograma?
Andrei Rodrigues – Queria ressaltar isso. Li em algum lugar que os centros não estão prontos. Eles seguem o rigoroso cronograma de implantação, inclusive com antecipação em alguns casos. Alguns não estão prontos porque não eram para estar prontos, foram contratados com um prazo de execução e isso está sendo rigorosamente cumprido, até porque tem ações de capacitação, treinamento, testes, que não adianta você fazer um ano antes do evento porque, entre outras coisas, eu tenho de ter o plano operacional esboçado, que está sendo atualizado sempre, e colocar em prática. Não há atraso. Cada estado tem uma comissão estadual de segurança e defesa civil, que compõe o sistema. São ambiente onde a gente constrói os planos operacionais e os protocolos.
 
ESTADO – Quantos profissionais estarão envolvidos na segurança?
Andrei Rodrigues – No total, temos 5 mil profissionais de segurança, que construiram, em média, com 780 protocolos por cidades. Ou seja, cada ação realizada na segurança tem protocolo definido e uma matriz de eventos. Isso está pronto. Se a seleção chega no aeroporto e vai se deslocar em um local X, eu sei que a seleção vai chegar às 8 horas, então às 7 tenho de acionar a Infraero para decidir em qual local a aeronave vai estacionar. Às 7h30 eu tenho de acionar o comboio, e outras coisas, isso tem uma matriz e a gente fará acompanhamento minuto a minuto.
 
ESTADO – E sempre tem alternativas para imprevistos?
Andrei Rodrigues – Tem um princípio fundamental do planejamento que é a flexibilidade. É impossível prever todas as situações. A gente tem a regra, os padrões e as alternativas. Um exemplo clássico disso são as rotas protocolares de deslocamento, a gente nunca trabalha com uma só. Esses protocolos foram encaminhados em dezembro e estão agora numa fase de adequação em cada cidade. Neste mês de fevereiro, entregamos o plano tático da operação, é como se dará toda a operação de segurança. Ele foi entregue para os 12 estados, é um desenho geral da Copa. O plano tático é o maior. Aí você tem os operacionais e os protocolos com os detalhamentos. Tudo isso já está com os estados para fazer a adequação local. Em março, fechamos estes projetos e aí partimos para a integração, que é a palavra-chave da segurança, que é a integração dos nosso projetos de segurança com os projetos de atuação da defesa, da inteligência e também de outros eixos, como saúde, trânsito e telecomunicações. A gente vai fazer o interlaçamento desses planos entre março e abril. Antes disso teremos alguns exercícios internos, de mesa. Vamos simular um evento numa mesa, tem um jogo, você é da PM, quantos vai dispor e qual local. Nós temos os eventos de mesa, os exercícios simulados e os eventos-teste.
 
ESTADO – Os eventos-teste são os jogos nos estádios mesmo? Em Curitiba, por exemplo, não vai ter evento-teste da Fifa, como vai ser feito?
Andrei Rodrigues – A partir de 15 de maio que o estádio vai estar disponível. A gente pode fazer um evento simulado, já fizemos alguns e podemos trabalhar com essa perspectiva em Curitiba. Nós conversamos com algumas federações regionais de futebol para utilizar as finais dos campeonatos regionais para fazer testes reais de segurança dos jogos. Em boa parte, a gente vai estimular o uso desses eventos. O papel da secretaria não é de operação, é de coordenação, com respeito ao pacto federativo, autonomia das instituições, mas promover a integração e a coordenação. Então, a gente vai estimular esses testes nas finais, em meados de abril. Vamos finalizar os testes e entramos no dia 22 de maio no apronto operacional. É a data na qual todas as forças de segurança, defesa e inteligência estarão prontas para operar com equipamentos em dia, testes feitos e toda a estrutura focada no evento.
 
ESTADO – Tem uma estimativa já de efetivo? Algo por área, quero dizer?
Andrei Rodrigues – Como eu disse, o plano detalhado será fechado em março, aí eu posso dar o número exato. Estimativa por área é complicado, mas a estimativa total para a segurança pública é de aplicar 100 mil profissionais. Isso é no sentido amplo, envolvendo profissionais de trânsito, bombeiros, defesa civil e outras instituições. Não é só polícia.
 
ESTADO – São 100 mil só para os jogos ou também para outras áreas, como Fan Fests e outras coisas?
Andrei Rodrigues – Inclui Fan Fest e tudo o que a gente chama de área de interesse operacional. As cidades não param, tem o planejamento ordinário que está a cargo da secretaria de segurança local. Este número são de profissionais que a gente vai destacar na segurança pública da cidade também, numa área de interesse turístico, na via pública. E tem também este viés de garantir a segurança dos cidadãos, dos turistas, dos torcedores e de todos que de alguma maneira estarão participando dos eventos.
 
ESTADO – Já fecharam a política específica para segurança das seleções?
Andrei Rodrigues – Tem dois momentos distintos. Um é a segurança das delegações e outro dos centros de treinamento e locais em que estarão. A segurança das delegações segue o modelo testado, usado e aprovado na Copa das Confederações, onde a segurança aproximada das delegações é feita pela Polícia Federal, ou seja, aqueles carros que vão mais próximos são da PF. A gente tem uma integração no processo da escolta, com PM, PRF e ministério da Defesa, uma ação coordenada e conjunta. A segurança das instalações, estádio, centro de treinamento, hotel, enfim, são responsabilidade da Fifa, ou seja, segurança privada. É claro que a segurança pública estará presente com policiamento ostensivo na área externa, controle de trânsito e outras ações secundárias. Isso não quer dizer que nós não estaremos em cada uma destas instalações. Dentro do estádio haverá policial e em todos os locais de interesse do torneio. Estes policiais só serão empregados quando a segurança privada não puder atender o que a situação exige.
 
ESTADO – Como se fosse de sobreaviso?
Andrei Rodrigues – No caso mais visível é isso mesmo. Estará lá o grupo que a gente chama de pronta resposta. Estará lá para atender a uma demanda que a segurança privada não pode dar conta. Existem também as ações próprias da segurança pública, como varredura e inteligência.
 
ESTADO – Há a estimativa do efetivo dos policiais dentro dos estádios? Vai ser PM, PF, enfim, quem ficará?
Andrei Rodrigues – Vai ficar todo mundo. O policiamento ostensivo é da PM, a atividade de segurança aproximada de autoridades e chefes de estado é a PF que participa. A varredura é feita em conjunto PM, PF e Defesa. Os batedores em alguns casos são da PRF. E o estádio tem um centro de controle e comando local, gerido pelo COL, mas que tem integração com segurança pública. O Itaquerão, por exemplo, está em obras. Tem a planta, mas a gente tem de visualizar, ver onde ficará a segurança privada, as salas de pronta resposta, a capacidade real do estádio, venda de ingressos, cada jogo tem um perfil. Prefiro dar o número concreto depois. Não quero estimar aqui.
 
ESTADO – Em São Paulo, há um questionamento se haverá um esquema especial pelo fato de Estados Unidos e Irã estarem em locais próximos, há um planejamento específico?
Andrei Rodrigues – Há uma preparação específica para cada seleção, não só Irã e Estados Unidos. Eles estão próximos. Para cada seleção é feita uma classificação, que é uma regra internacional de segurança. É feita uma classificação de cada delegação e autoridade e a partir dessa classificação e somada à análise local é feito o dimensionamento. Há uma classificação se é um nível "full", com emprego de meios aéreos, ambulância no comboio, grupo tática. Tem CTs no interior com deslocamento de 1 quilômetro. Então tem variação.
 
ESTADO – Nesse caso específico é alto risco?
Andrei Rodrigues – Não diria alto risco, mas claro que são delegações que devido a todo o cenário internacionais são delegações que exigem uma atenção neste dimensionamento para que tenha uma resposta adequada a necessidade de segurança.
 
ESTADO – E como fazer isso sem complicar ainda mais o trânsito e a vida das pessoas?
Andrei Rodrigues – Segurança pública é complicado também por isso. Diferentemente de outras áreas, a segurança neste modelo que estamos propondo e implementamos na Copa das Confederações, uma das premissas é causar o menor impacto possível para a cidade, para o dia a dia dos cidadãos. Se haverá um deslocamento do ponto A para o B, a gente vai utilizar a rota que cause o menor impacto possível. Há uma preocupação de impactar o mínimo possível no dia a dia das pessoas. Agora, é claro que haverá reflexos.
 
ESTADO – Como está sendo trabalhada dentro do planejamento a possibilidade de manifestações?
Andrei Rodrigues – É preciso fazer uma distinção já de início para toda a conversa sobre isso. Nossa preocupação, nosso foco de segurança pública, não é manifestação, é a violência, o ato de violência, os crimes, as barbáries, que infelizmente culminou com um assassinato, o do Santiago (da TV Bandeirantes). Essa é a nossa preocupação, prevenir que ações criminosas aconteçam aproveitando este momento festivo. Essa é a premissa básica. Vivemos em um País livre, democrático e onde todos têm os seus direitos e seus deveres também. Todos tem o direito e a manifestação é um reflexo, um exercício de democracia. Cabe a nós, segurança pública, garantir esse direito. Agora, esses atos de criminosos, não há outra classificação, tem de ser evitados com ações preventivas de segurança, inteligência.
 
ESTADO – Qual o equilíbrio entre prevenir violência sem impedir manifestações?
Andrei Rodrigues – O foco, na questão de polícia, cito um exemplo concreto. No Rio Grande do Sul há mais de 80 inquéritos em andamento fruto dessas violências. No contexto destes inquéritos, várias medidas são adotadas que vão prevenir esse tipo de violência. São Paulo deu outro exemplo com as investigações em curso e que entendeu que deveria ouvir, realizou ações de polícia judiciária para tentar chegar neste grupo violento. A investigação não é em cima de movimento social, de manifestante. As investigações e o trabalho de inteligência têm a preocupação exclusiva da prevenção de violência. Cito também o caso do Rio de Janeiro, da morte do Santiago. Em dois dias já tinha um criminoso preso e dois dias depois o outro, em que pese mascarado e no meio do tumulto, a atividade de inteligência, de investigação, exemplar de polícia, prenderam criminoso em outra unidade da federação.
 
ESTADO – Em São Paulo você teve recentemente quase 300 prisões e questionamentos se todas as prisões eram de pessoas envolvidas em vandalismo. Como encontrar o equilíbrio?
Andrei Rodrigues – Este é o grande desafio no tópico de segurança pública de violência em manifestações. A ação que se viu ali, a ação que se viu foi tática, de inteligência, onde o grupo que atuou focou o isolamento de um grupo de pessoas que estava agindo com violência na manifestação. Havia mais de mil pessoas, mas este grupo, segundo a posição da polícia, estava agindo com violência. Dentre esse 260 haviam pessoas que não estavam cometendo atos de violência e vandalismo? Eu não sei. Isso só a ação policial vai poder apurar.
 
ESTADO – A gente tem informação de que uma alternativa discutida foi a de identificar manifestantes violentos e aplicar alguma medida para impedir que participe, como é feito no futebol em que se obriga a comparecer a delegacias. Vocês chegaram a alguma avanço nesse debate? Está no projeto?
Andrei Rodrigues – Eu tive a experiência na Espanha. Fui oficial de ligação em Madri, voltei agora, no ano passado. Existe normas e uma legislação rigorosa no futebol e em eventos esportivos em geral. Eu volto ao que comentei. O que é importante é ter normas claras para proteger as pessoas de bem, que têm boas intenções e também amparar a atuação da polícia. No ponto específico desta restrição, já existe na legislação brasileira restrições específicas de frequentar determinado local, no direito de família você tem a proibição de estar próximo a lugar A ou B, então já existem várias restrições semelhantes a essa. O que eu entendo é que no caso específico do evento esportivo, não só para a Copa, é um legado que fica para o País. Se a pessoa foi condenada, com processo regular, com trâmites, ampla defesa, com provas, e respeitado todo o processo e no final tenha essa restrição, para todos, para os cidadãos de bem, para os bem intencionados, para os que querem ver um jogo e não barbárie, acho que vem em excelente hora.
 
ESTADO – O senhor apoia uma legislação neste sentido?
Andrei Rodrigues – Eu entendo que uma legislação que venha a garantir segurança ao evento, afastando criminosos dessas oportunidades, acho que vem em boa hora.
 
ESTADO – Seria para afastar as pessoas de manifestações?
Andrei Rodrigues – O que eu entendo e fazendo paralelo com o futebol e outras legislações é o impedimento, pelo ato cometido, de frequentar determinados locais. Há casos, por exemplo, em que a pessoa tem de se apresentar em delegacia de polícia ou à Justiça em determinado horário. No Estatuto do Torcedor, isso funciona muito bem. Recife é um bom exemplo. Em outras cidades não tão bem, mas essa é uma preocupação do CNJ de ampliar essa boa prática de Pernambuco. Há situações já de condenação em que torcedores com histórico de violência tem de se apresentar em local X no dia do jogo.
 
ESTADO – Mas nesse caso específico, seria proibir de ir a uma manifestação?
Andrei Rodrigues – No caso do Estatuto do Torcedor, nesse caso de Recife, tem um jogo Sport e Santa Cruz. No dia do jogo, tem de se apresentar e ficar até uma hora depois. Com isso cumpre a pena, em um processo regular, e aí é indiretamente proibido de entrar.
 
ESTADO – Na Copa, dentro deste efetivo está também uma segurança adicional para manifestações?
Andrei Rodrigues – A segurança tem vários níveis. Temos nosso desenho e tem todas as sequências disso. Talvez um pouco a preocupação é a questão da contingência. As próprias forças policiais já tem suas reservas. Não estamos empregando 100% de efetivo em nenhum evento. Existe também a possibilidade de utilização da Força Nacional de Segurança Pública, que é um grupo organizado e que está à disposição das 12 unidades da federação e serão empregadas se o governo estadual entender que esta força possa ser útil. Aí, em um terceiro momento, existe uma força de contingência, prevista no planejamento estratégico, que é das Forças Armadas. No caso do esgotamento da capacidade das forças de segurança pública existe ainda essa alternativa de empregar as Forças Armadas.
 
ESTADO – O planejamento inicial não colocará as Forças Armadas na linha de frente?
Andrei Rodrigues – Tem dois eixos, tem atuações que são das Forças Armadas e elas atuarão, como controle de espaço aéreo, proteção de defesa estratégica, varredura, enfim, alguns eixos de ação. Para essas ações já existe previsão legal e as Forças Armadas atuarão integradas e em parceria com a coordenação de segurança pública. Na contingência, não serão militares das Forças que estarão nas ruas, mas poderão estar por solicitação de governador do estado e autorizado pela Presidência da República. 
 
ESTADO – A presidente já se manifestou favorável, então no caso de solicitação do governador deve ser atendido?
Andrei Rodrigues – Não me cabe comentar a manifestação da presidente, mas as forças estão previstas e no planejamento estratégico para essas situações. O que é a preocupação de todos? É garantir a integridade, ter uma Copa do Mundo segura e pacífico. Existe todo o regramento legal, começa forças de segurança, contingências próprias e no momento que o governador entender que é necessário o emprego das Forças Armadas ele pode solicitar. Já existe todo um planejamento integrado. Em todas as unidades há unidades militares e já existe uma preparação. Nosso plano de segurança é integrado com a Defesa, já estamos trabalhando juntos.
 
ESTADO – Qual a estimativa de investimento na área de segurança?
Andrei Rodrigues – O investimento total é de R$ 1,170 bilhão e tem uma coisa que gosto de insistir: há uma premissa fundamental de que esse investimento tem de ser útil para a segurança da cidade no dia a dia. Não existe um centavo investido na segurança pública que não seja de um bem útil também para a segurança da cidade, antes da Copa e depois dela. Equipamentos antibombas já têm sido utilizados. O comando móvel já foi utilizado no Rio de Janeiro no Rock in Rio e naquele problema que teve dos arrastões. Bahia está utilizando 100% dos equipamentos para o carnaval. Nossa premissa básica é essa. Nessa rubrica existe parte de custeio, capacitação, deslocamento de servidores. O recurso para a operação terá ainda uma outra rubrica que vai ser fechada quando estiver concluído o plano operacional.
 
ESTADO – Terrorismo é uma preocupação ou o nível de risco é baixo devido ao histórico do Brasil?
Andrei Rodrigues – Historicamente o Brasil nunca teve registros de ações desta natureza e há instituições, cito a PF e a Abin, que tem um trabalho antiterrorismo e levanta informações que abastecem o trabalho da segurança no planejamento das ações. Enfim, o que posso dizer é que estamos trabalhando integrados, com as Forças Armadas também, e fazendo um planejamento adequado. Mas claro que o Brasil é um País pacífico, que não tem histórico, mas nós estamos adotando já todas as medidas e cautelas porque seremos cenário de um grande evento com atenção do mundo inteiro e isso merece atenção.

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