General do povo, não

General do povo, não
 

Elio Gaspari


No século passado, havia generais de direita e de esquerda, deu em ditadura, assassinatos e tortura

A cena de confraternização do general Gonçalves Dias, comandante da 6ª Região Militar, com os PMs amotinados de Salvador foi constrangedora e impertinente.

Constrangedora porque o general foi aos amotinados, recebeu um bolo de aniversário e abraçou um deles. Esqueceu-se de que estava no comando de uma operação militar. Desde o início do motim, mais de 135 pessoas foram assassinadas em Salvador. A Assembleia Legislativa fora ocupada. Lojas e casas foram saqueadas. O prejuízo do comércio vai a centenas de milhões de reais, e os rebelados cantavam "Ôôô, o Carnaval acabou".

O general foi impertinente ao dizer o seguinte: "Peço aos senhores: se as pautas que estão sendo discutidas pelos políticos não forem atendidas, vamos voltar a uma negociação. Não poderá haver confronto entre os militares. Eu estarei aqui, bem no meio dos senhores, sem colete".

A primeira impertinência esteve na afirmação de que "as pautas estão sendo discutidas pelos políticos". A negociação estava na alçada dos Poderes constituídos, aos quais as Forças Armadas estão subordinadas. A segunda impertinência estava na afirmação de que "não poderá haver confronto entre os militares". Os PMs amotinados não estavam ali como militares, mas como desordeiros, cabeças-de-ponte de um motim articulado que se estendeu ao Rio de Janeiro. A ideia de que a negociação estava nas mãos dos "políticos" e de que "não poderá haver confronto entre os militares" é subversiva e caquética.

A tropa do Exército é mobilizada para exercer um efeito dissuasório. O discurso do general e a cena do bolo transformaram o poderio militar em alegoria carnavalesca. Se "não poderia haver confronto", com que autoridade um coronel ordenaria a um capitão que respondesse a uma agressão? (No dia seguinte, no peito, cerca de 50 pessoas furaram o cerco da tropa e juntaram-se ao motim. Na quinta-feira, no Rio, a polícia baixou o pau nos trabalhadores vitimados pela SuperVia.)

No século passado havia os "generais da UDN" e a eles contrapuseram-se os "generais do povo". Deu no que deu. O tenente que em 1964 comandava os tanques que guarneciam o Palácio Laranjeiras tornou-se um dos "doutores" da Casa da Morte, onde se assassinavam presos políticos. Em 1981, estava no carro que jogou a bomba na casa de força do Riocentro.

Outra explodiu antes da hora, matou um sargento e estripou um capitão.

CINCO E-MAILS PARA DILMA.ROUSSEFF@GOV

De Barack.Obama@gov:
"Onde está o general Stanley McChrystal? A senhora não sabe. Se eu não o tivesse mandado embora em 2010, depois de dizer bobagens, minha Presidência estaria na lata do lixo. (Ele é um dos diretores da JetBlue.)"

De João.Figueiredo@com:
"Se eu tivesse demitido o comandante do 1º Exército depois da explosão da bomba do Riocentro, não teria deixado o Palácio do Planalto pela porta lateral."

De Ernesto.Geisel@edu:
"Se eu não tivesse demitido o ministro Sylvio Frota em outubro de 1977, a senhora teria voltado para a 'Torre das Donzelas'. Ele estava de olho na sua vida, e o SNI dizia que a senhora articulava uma tal de Junta de Coordenação Revolucionária, uma invenção do Pinochet."

De Castello.Branco@edu:
"Em 1965, quando o general Costa e Silva fez um discurso impertinente em Itapeva, eu deveria demiti-lo. O Costa emparedou-me e forçou sua indicação para a Presidência."

De João.Goulart@com:
"O general Castello Branco disse-me que se eu tivesse prendido os marinheiros rebelados no início de março de 1964, não teria sido deposto."

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