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BRASILIANAS – A importância do Gripen para o desenvolvimento tecnológico

 

Luiz de Queiroz
Jornal GGN
Agência Dinheiro Vivo

Matéria do evento Brasiliana Org Link Original


As negociações do Brasil com a Suécia estão avançando e a expectativa das autoridades dos dois países é que até o início de dezembro seja assinado o contrato de desenvolvimento conjunto do jato Gripen NG (New Generation). O projeto marca uma nova fase para a indústria nacional de defesa, que busca absorver a tecnologia estrangeira e conquistar mais autonomia.

Três modelos de avião participaram da concorrência do projeto F-X2, que busca modernizar a frota de aeronaves militares supersônicas da Força Aérea Brasileira (FAB): o americano Boeing F/A-18 Super Hornet, o francês Dassault Rafale e o sueco SAAB Gripen NG. Os três foram aprovados nos testes realizados pelos pilotos brasileiros, que simularam as necessidades operacionais da FAB. O Gripen foi escolhido, entre outros motivos, pela possibilidade de desenvolvimento conjunto.

O assunto foi tema no 50º Fórum de Debates Brasilianas.org, que reuniu especialistas para discutir a decisão. Na opinião de Sami Youssef Hassuani, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), o projeto é extraordinário e representa um bom negócio para o Brasil, mas não garante que o País terá independência tecnológica. “O motor não vai ser feito aqui, a bomba de combustível não vai ser feita aqui. É um bom negócio? É. Mas não nos dá independência tecnológica”, disse.

O executivo tem um olhar crítico para o conceito de transferência de tecnologia. “Transferência de tecnologia não existe. Nenhum país transfere tecnologia. O know how é apenas uma transferência técnica. É reproduzir processos e produtos já definidos, sem a capacidade de inovar”, afirmou.

No entanto, ele defende que é possível absorver tecnologia e, nesse ponto, entende que o Gripen está na direção certa. “Tecnologia pode ser absorvida por meio da realização conjunta de programas, do desenvolvimento conjunto. Isso sim vai trazer capacidade para gerar novos processos e desenvolver novos produtos”.

Vianney Junior, editor chefe de avaliações da DefesaNet, teve a oportunidade de testar os três caças que participaram da concorrência. Experiente, com mais de 12 mil horas de vôo em 80 tipos de aeronaves, ele garante que os três modelos atendem aos requisitos da Força Aérea Brasileira. “A avaliação foi feita independentemente e os testes simulavam missões que as aeronaves teriam que cumprir. Não existe uma aeronave melhor, a pergunta não é essa. Existe a aeronave que se adequa aos meus parâmetros. Quanto à questão do cumprimento da missão operacional, todas cumpriram dentro do esperado”, garantiu.
 


Ele entende que os benefícios do Gripen para o Brasil vão além da aviação militar e no médio prazo atingem toda a indústria. “A indústria de defesa é um lead de tecnologia para toda a sociedade. Ela trabalha na ponta da lança. Às vezes a gente pensa que isso se resume àquela empresa que vai produzir um componente, que vai se especializar em como lidar com um determinado metal, um determinado compósito, que vai ser a produtora da pecinha da ponta da asa. Não. Aquela tecnologia que ela vai incorporar pode ser aplicada em vários outros empregos civis. E o que vai ficar é o conhecimento, o que vai ficar é o domínio desses materiais, o domínio dos processos de transformação e a instrumentação. Isso é importantíssimo”, defendeu.

Fundador da DefesaNet, Nelson Francisco Düring concordou com o piloto, e citou uma série de exemplos nos quais aviões militares trouxeram conhecimento para a aviação civil. “Na década de 50, o jato Gloster Meteor nos ensinou a operar com querosene de aviação; na década de 70, o Xavante da  Aermacchi nos ensinou a operar linha de montagem e o Northrop F-5 nos obrigou a aprender a colar metais e desenvolver estruturas mais leves; nos anos 80, o AMX nos ensinou a projetar sistemas de controle de vôo; e nos anos 90, com o projeto SIVAM, aprendemos a fazer integração de sistemas eletrônicos e compatibilidade eletromagnética”, listou.

“Hoje, não podemos dizer com certeza qual será o real ganho do Gripen. Mas todos esses eram projetos essencialmente militares que deram retorno de 10 a 15 anos depois”.

O assessor de defesa da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Samuel César da Cruz Junior, lembra que a base industrial de defesa não envolve apenas o produto. “Tem empresas de serviços, indústria, engenharia, centros de pesquisa e desenvolvimento e universidades”.

Os especialistas concordam que o projeto deve trazer ganhos tecnológicos para o Brasil. A questão é se, por si só, essa tecnologia ainda será relevante quando estiver finalmente disponível.

Contando as duas etapas, F-X e F-X2, o processo de modernização da frota nacional já dura quase 15 anos. A princípio, o Brasil vai produzir com a Suécia 36 caças Gripen NG. Mas a necessidade do país até 2023 será de 120 aeronaves. Estamos falando de caças que, hoje em dia, são atuais. Mas até lá eles já estarão competindo com modelos novos, de quinta geração, como os F-35 norte-americanos.

O que preocupa, portanto, é se o Brasil não estará se comprometendo, pelos próximos 40 anos, com um projeto que estará defasado nos próximos quatro a dez anos.

Sami Youssef Hassuani, da ABIMDE, lembra que o País gasta menos do que a média mundial com defesa. Os gastos militares nacionais são de US$ 31,4 bilhões. Em termos absolutos, é mais do que qualquer outro país da América Latina, mas se levarmos em conta o percentual em relação ao PIB, só estamos à frente da Argentina. Na comparação com os BRICS, o Brasil só investe mais do que a África do Sul.

Atualmente, no Brasil, a única indústria de alta tecnologia com (modesto) saldo positivo na balança comercial é a aeronáutica e aeroespacial. Sami entende que é essencial aumentar os investimentos nessa área, pois “Estatisticamente, para cada dólar investido no setor de defesa, exporta-se 10”.

Lâminas da apresentação do Presidente da ABIMDE –

 



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