“Sol e vento” no apagão do planejamento energético Brasileiro

Hidreletrica de Binacional Itaipu

Lorenzo Carrasco
MSiA


Desde que o Brasil passou a tratar eletricidade como “commodity”, em vez de um insumo estratégico, no governo FHC, o sistema elétrico nacional deixou de ser planejado e operado pelos técnicos altamente qualificados do sistema Eletrobrás, ficando submetido aos interesses de investidores privados nacionais e estrangeiros e estatais estrangeiros.

Além disso, o seu formato passou a ser fortemente influenciado pela agenda ambiental e climática e seus agentes operativos no País, muitos deles em órgãos do próprio Estado.

Por isso, não admira que o planejamento energético esteja passando por um virtual apagão, com mais de 90% dos projetos programados até 2030 sendo de usinas eólicas e solares intermitentes.

Que, por sua vez, já geram um excesso de eletricidade que não pode ser absorvido pela rede de transmissão existente, obrigando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a promover cortes frequentes, o chamado “curtailment”, gerando grandes prejuízos que as empresas geradores estão disputando na Justiça (e que ninguém se surpreenda se acabarem sendo lançados na conta dos consumidores).

A última reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), em 1º de outubro, indica que o problema pode se agravar ainda mais, com a criação de um grupo de trabalho para debater o marco legal das eólicas offshore, cujo potencial na costa brasileira é estimado em 1.200 gigawatts (GW), seis vezes a capacidade de geração instalada no País.

Se os atuais 34 GW de eólicas instaladas já causam tantos problemas, imaginem o que pode acrescentar qualquer acréscimo proveniente das usinas marítimas. Outro assunto tratado foi um programa de estudo para o aproveitamento da energia geotérmica.

Ora, situado no centro da placa tectônica Sul-Americana, o Brasil não tem as características geológicas para a exploração de fontes geotérmicas em escala relevante, como ocorre nos EUA, Itália, Islândia, Filipinas, Indonésia, Turquia, Nova Zelândia, México e Quênia, países com localização favorável próxima aos limites das placas.

Aqui, no máximo, além de fontes termais, poder-se-iam explorar fontes localizadas de baixas temperaturas para aquecimento, aquicultura, dessalinização ou outras atividades, mas sem condições para a geração elétrica, que exige fontes de altas temperaturas.

Enquanto isso, mais uma vez, foi adiada uma decisão sobre a conclusão da construção da usina nuclear Angra 3, paralisada há anos, esta sim, uma fonte de energia firme e vital para a preservação da capacitação técnica no setor.

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