Força Nacional chega no próximo dia 10 no DF

Mara Puljiz
Thalita Lins

Pela primeira vez na história do Distrito Federal, a Força Nacional vai ajudar no combate à criminalidade. A chegada de 133 homens, enviados pelo Ministério da Justiça, está prevista para o próximo dia 10 e o grupo deve trabalhar por um período de três meses. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, os militares atuarão no controle de veículos em barreiras montadas nas 39 saídas do DF para o Entorno.

O anúncio do apoio da Força Nacional pegou muitos militares de surpresa, inclusive o comandante-geral da Polícia Militar do DF, coronel Suamy Santana. O chefe da corporação disse não ter sido consultado para discutir o aspecto operacional da atuação, mas destacou que a Força Nacional não provocará alteração no policiamento ostensivo, hoje feito com cerca de 15 mil homens. "É um apoio importante, mas é ínfimo dentro da realidade da segurança pública", disse.

Os militares trabalharão em escala de 12 horas de serviço por dois dias de folga. A média será de 20 homens em atividade por dia. Questionado se o reforço da Força Nacional provocou mal-estar dentro da PM, Suamy respondeu que "o mal-estar ocorreu não em razão da decisão de aceitar o reforço, mas da má interpretação em relação a isso". "Não haverá nenhuma intervenção no DF, mas uma cooperação. Todos que queiram contribuir são sempre bem-vindos", explicou o comandante. Suamy destacou também que 53 dos integrantes da Força Nacional são PMs cedidos do DF.

A força atuará nas regiões próximas às divisas do DF com o Entorno. O objetivo é prender traficantes e ladrões de carro, a fim de reduzir os índices de roubos com restrição de liberdade, chamados de sequestros relâmpagos. Nessa modalidade de crime, os bandidos rendem os motoristas e ficam com as vítimas para retardar a ação da polícia. Geralmente, os carros são roubados e levados para pontos de desmanche, nos quais recebem placa e documentação do veículo adulterado.

Entre 1º e 23 de agosto, a Secretaria de Segurança Pública calcula ter registrado 42 sequestros relâmpagos. A média é de quase dois casos por dia. Na semana passada, Débora Crivella, filha do ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, também foi vítima de roubo com restrição de liberdade (Veja memória). Na última terça-feira, uma mulher chegava em casa, na Quadra 711 da Asa Norte, quando três homens a abordaram, sendo um deles armado. Um dos criminosos assumiu a direção do carro e levou a vítima para o Setor de Chácaras do Incra 6, próximo a Brazlândia. A mulher foi abandonada e o grupo fugiu com o carro dela. A vítima pediu ajuda a um morador e a PM fez buscas na região, mas os criminosos não foram encontrados.

Afronta

A notícia de reforço incomodou integrantes da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do DF (Assor). Para o presidente, o coronel reformado Manoel Bambrila, a medida é uma afronta ao trabalho ostensivo realizado pela polícia. "Se for para atuar nas rodovias federais em apoio à Polícia Rodoviária Federal, não vemos como medida de intervenção. Mas, se for para executar atividades típicas da PM, nos colocamos contra essa medida porque julgamos inoportuna, intempestiva e ofensiva à nossa dignidade profissional", declarou, em entrevista ao Correio.

O secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, frisou que a chegada da Força Nacional não vai interferir na atuação da PM local e explicou que o trabalho das duas corporações é diferente. Ao ser questionado sobre um suposto constrangimento entre a secretaria e o Comando da Polícia Militar, Avelar negou que houvesse um desentendimento. "Os policiais militares continuarão fazendo o que eles têm feito. A corporação tem sido eficaz e brilhante. A Força Nacional veio com o objetivo de apoiar e nos ajudar a fazer a segurança daqui", reforçou o secretário.

A tropa ocupará áreas fora do perímetro urbano, como rodovias. O período de atuação poderá ser prorrogado. "A Força Nacional irá impedir a entrada de entorpecentes, como pasta-base (de cocaína)", exemplificou Sandro Avelar. A base da equipe será no Gama.Avelar afirmou que os atuais 15 mil homens da PM não dariam conta do serviço.

"Hoje, existe uma carência. A vinda da Força Nacional tem o intuito de fortalecer a segurança dos brasilienses, afinal, somos a terceira maior região metropolitana do país, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro", declarou. Para o secretário, os 130 policiais serão suficientes para o serviço. "Eles farão um trabalho pontual. Todas as saídas do DF terão barreiras flutuantes, o que quer dizer que os policiais não ficarão o tempo todo em um certo ponto. O apoio será bem-vindo", detalhou.


Memória
Crime recorrente
Casos de sequestro relâmpago têm assustado os moradores do DF. Na semana passada, um enfermeiro ficou sob a mira de um revólver durante mais de uma hora. Os bandidos o abordaram no Setor de Oficinas do Sudoeste, levaram o Fiat Siena em que ele estava e o abandonaram em um matagal próximo à BR-020, na região de Sobradinho. No último dia 22, a empresária Deborah Christine Crivella, filha do ministro da Pesca, Marcelo Crivella, também foi vítima de um ladrão. Ela estava dentro do carro, um Hyundai ix35, na 408 Sul, quando o criminoso entrou e a obrigou a dirigir até Ceilândia. Em um descuido do bandido, Deborah conseguiu descer do carro e pedir socorro.

No dia seguinte, os bandidos deram outro sinal de ousadia no Lago Norte. Armado, um trio fechou o carro conduzido pela jornalista Eliane Cantanhêde, obrigou-a a descer do veículo e fugiu com o Mitsubishi ASX. Eliane voltava para casa pela pista principal do bairro, quando, ao notar que era seguida, reduziu a velocidade para o outro automóvel a ultrapassar. O motorista do carro que a seguia, no entanto, deu um cavalo de pau na frente de Eliane, bloqueando a passagem.

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