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Desarmamento estratégico: os diferentes motivos dos EUA e da Rússia

Os EUA preparam-se para novas negociações com a Rússia sobre desarmamento estratégico, declarou recentemente Rose Gottemoeller, vice-secretária de estado interina dos EUA para o controle de armamentos e segurança internacional.

Provavelmente os pormenores da iniciativa para o desarmamento do presidente Obama serão conhecidos depois do seu encontro com o presidente da Rússia Putin na cúpula dos “vinte” de 17 e 18 de junho em Los Cabos.

Gottemoeller afirmou que os EUA estão a rever suas necessidades em forças de contenção e seus planos nucleares, o que permitirá aos Estados Unidos “preparar a sua posição para as negociações de um novo tratado com a Rússia” que deverá incluir o armamento nuclear não-estratégico e não instalado. Trata-se de um aspeto completamente novo, visto que nenhum dos acordos anteriores incluia esses tipos de armas.

A ideia de um mundo desnuclearizado proposta por Obama, e que se subentende para as conversações sobre o desarmamento, surgiu como desenvolvimento de uma iniciativa inter-partidária de quatro ex-secretários de estado dos EUA com políticos de destaque e militares na reserva. O pedido de novas negociações com a Rússia deve confirmar que a tendência para um entendimento com Moscou é a única tendência correta e com futuro. Quaisquer conversações sobre desarmamento nuclear reforçam em grande medida as posições das potências nucleares e, antes de mais, dos EUA na resolução dos problemas de não-proliferação das armas nucleares, ou seja dos programas nucleares iraniano e norte-coreano. Na esteira do conceito da força “racional” também permitem melhorar o prestígio dos Estados Unidos que saiu abalado das guerras no Iraque e no Afeganistão.

Mas existem circunstâncias concretas. “Além dos compromissos em reduzir o número de armas nucleares, a atual administração é adepta da redução do seu papel na estratégia de segurança nacional, sublinhou Gottemoeller. Nós não concebemos novas armas nucleares, não colocamos novas tarefas para a utilização de armas nucleares, mas trabalhamos na criação de condições em que a contenção seja a única finalidade das armas nucleares”. Realmente, nos últimos quase 70 anos, as armas nucleares só foram utilizadas em Hiroshima e Nagasaki. Desde então, elas nunca foram utilizadas como meio bélico, mas foram comprovadamente um meio dissuasor.

Entretanto, as inovações na área do armamento geram sistemas de armas cada vez mais requintadas: armas de alta precisão, veículos aéreos não-tripulados, ciberarmas e armas estratégicas de versões não-nucleares. Esses meios para fazer a guerra permitem cumprir as tarefas de combate com um mínimo de risco e com um máximo de eficácia. Também é verdade que não são nada baratos.

Com esse pano de fundo surgiu a ideia de incluir na agenda das futuras conversações a redução dos armamentos estratégicos não instalados. Depois da realização dos tratados anteriores os EUA acumularam muitas destas armas e a sua conservação não é mais barata do que a sua manutenção em estado de prontidão, e este é um problema mais para os Estados Unidos do que para a Rússia. Outra coisa é a redução do armamento não-estratégico, também chamado armamento nuclear tático (ANT). Trata-se de bombas de aviação, projéteis de artilharia, minas, mísseis de pequeno raio de ação, etc.

De acordo com muitas análises, a Rússia tem um arsenal de ANT que supera em vários milhares o que têm os EUA na Europa. Mas para a Rússia, os ANT têm hoje uma importância crítica para garantir a sua segurança a nível regional, tanto na parte europeia como na parte asiática, e a sua redução colocaria a Rússia numa posição vulnerável.  Por fim, as conversações para uma redução futura do armamento estratégico, que foi o objeto das declarações de Gottemoeller, atingem o equilíbrio geral das forças. Este estará comprometido se os planos de criação da EuroDAM continuarem em vigor, o que foi confirmado mais uma vez, no dia 5 de junho, pela vice-secretária de Estado Hellen Tosher que sublinhou que os EUA não admitirão quaisquer limitações técnicas da DAM.

Moscou é cética relativamente à ideia de novas conversações. “Nós não podemos estar constantemente a desarmar-nos numa situação em há quaisquer outras potências nucleares a armarem-se”, declarou o Presidente Putin num encontro com peritos militares russos em Sarov. No entanto, ainda não se sabe como é que o Kremlin vai reagir a propostas concretas dos EUA. Quando Moscou afirma que a criação da DAM ameaça provocar uma nova corrida aos armamentos, politicamente essa proposta pode ser um pau de dois bicos.

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