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Cerco a brasileiros no Paraguai

HUMBERTO TREZZI

O clima está fervendo no Paraguai e não se trata apenas da temperatura de 42ºC que desde ontem inferniza o país vizinho. É que os sem-terra paraguaios decidiram encurralar proprietários brasileiros instalados lá.

Desde o final de dezembro, os chamados brasiguaios (colonos que migraram do Brasil para território paraguaio) enfrentam a pressão para que abandonem suas propriedades situadas na fronteira. Os sem-terra, chamados carperos (acampados), alegam que a área foi ocupada ilegalmente e que deve ser objeto de reforma agrária. Os brasileiros negam irregularidade.

Rosalino Casco, um dos líderes dos carperos, definiu assim a situação:

– Se o presidente Fernando Lugo disser que as terras são dos brasileiros, ocupamos. Se disser que não são deles, ocupamos também.

Os sem-terra querem 167 mil hectares situados na faixa de fronteira com o Brasil, hoje em mãos de brasiguaios. Os carperos dizem que as terras foram griladas, ou seja, os estrangeiros teriam se apossado delas e legalizado de forma fraudulenta. Não é o que dizem os brasileiros.

Conforme a União dos Grêmios de Produção (UGP), entidade que congrega o agronegócio no Paraguai, nos anos 70 o então ditador Alfredo Stroessner vendeu terras públicas fronteiriças a produtores brasileiros, com preços baixos (até US$ 1 por hectare). A ideia era povoar a região com colonos enfronhados em técnicas agrícolas. Deu tão certo que, hoje, a maior parte da produção agrícola paraguaia está em mãos de brasileiros.

Com a derrubada do regime de Stroessner, em 1989, surgem os primeiros movimentos de sem-terra paraguaios. O alvo prioritário deles é a rica colônia de brasiguaios – dos cerca de 400 mil brasileiros vivendo no Paraguai, 250 mil estão na área de fronteira. Os carperos argumentam que, pela lei paraguaia, estrangeiros não podem ter terras na faixa de até 50 quilômetros do marco internacional. É a chamada Lei de Fronteira, em vigência no país desde 2007.

Pois é justamente nessa faixa que a maioria dos brasileiros planta. Na época de Stroessner, esta legislação "de segurança nacional" (semelhante à existente no Brasil) não existia. Agora, em tempos democráticos, os sem-terra paraguaios exigem que a lei seja cumprida. Isso implicaria a expulsão de milhares de brasileiros.

Um dos que tiveram propriedades invadidas é Tranquilo Fávero, o maior plantador individual de soja no Paraguai. Ele é catarinense e filho de gaúchos. Tem 45 mil hectares de terras férteis (uma área do tamanho do território de Porto Alegre) entre os rios Paraná e Paraguai, onde colhe de 120 mil a 130 mil toneladas de soja por ano. Isso lhe rende cerca de US$ 50 milhões por ano. Tem 3 mil funcionários, parte deles em Ñacunday, localidade onde teve uma fazenda ocupada.

O presidente Lugo, que contou com votos dos sem-terra para se eleger, determinou em janeiro a demarcação de terras na fronteira, para verificar quantas são ocupadas por brasileiros. A medida foi interpretada pelos carperos como sinal de apoio à sua pretensão. Eles agora começaram uma onda de invasões de terras, se antecipando ao diagnóstico do governo.

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