Notas Estratégicas EB – EE-9 Cascavel – modernização deve ser reavaliada

Nelson During
Editor-chefe DefesaNet

No ano de 2022 o Exército Brasileiro assinou o contrato para desenvolvimento de protótipos e a modernização do  veículo blindado de reconhecimento sobre rodas EE-9 Cascavel. Trata-se de um projeto bilionário que irá contemplar a modernização de no mínimo 98 e máximo 201 veículos produzidos pela extinta ENGESA há mais de 40 anos.

Quando não havia sido criado o projeto de aquisição da Viatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav), uma modernização de sensores optronicos e componentes automotivos, até seria viável, entretanto, com a recente aquisição do moderno 8×8 modelo Centauro 2, equipado com canhão de 120mm/ alma lisa, sendo o mais avançado da atualidade em termos de tecnologia embarcada e poder de fogo, a modernização de um veículo de 50 anos torna-se inviável além de ser injustificável, econômica e operacionalmente.

A guerra na Ucrânia mostrou que a tecnologia embarcada, blindagem reforçada, agilidade no campo de batalha e o poder de fogo e, se possível com localização e identificação de alvos além da linha de visada mostrou serem características essenciais para o combate mecanizado e blindado, garantindo maiores chances de sucesso no cumprimento da missão e, principalmente, da sobrevivência da tripulação.

Lâmina da apresentação sobre o programa Cascavel Brasília Novembro 2021

A era do EE-9 Cascavel já ficou no passado. Com a aquisição do Centauro 2, qualquer recurso destinado a modernização do Cascavel é despesa sem sentido e com quase nenhum retorno, e não vai trazer benefício tático e operacional à Força Terrestre. O nível de blindagem do Cascavel é tão leve que não serve nem para uma escolta armada em missões de paz na atualidade. A integração de um sistema lançador do RAFAEL ATGM Spike, cujo míssil custa mais caro que o veículo, corrobora a falta de sentido desse projeto de modernização.

Arte distribuída pelo Exército Brasileiro quando da assinatura do contrato
Ver a matéria: Força Blindada – Modernização do EE-9 Cascavel, mais indefinições que certezas

No entorno estratégico os exércitos vizinhos possuem veículos leves 4×4 blindados ou não, equipados com metralhadoras e mísseis antitanque para missões de reconhecimento. Essas missões poderiam ser facilmente executadas com novos veículos 4×4, como o LMV equipado com uma torre REMAX. I (ver a matéria Arma Blindada no Brasil: Decidir sem Temor!)

O  Centauro 2 colocou o Exército Brasileiro em um novo patamar tecnológico, digno dos Exércitos dos países do primeiro mundo. A partir de agora ele se torna a base tecnológica das nossas Forças Blindadas.

Dadas as nossas condições orçamentárias e os ambientes operacionais que estamos inseridos, vale mais ter esquadrões de cavalaria mecanizado quantitativamente e doutrinariamente subequipados com, por exemplo dois veículos Centauro 2, aptos a operar pelas próximas 4 décadas, do que possuir meia dúzia de cinquentenários Cascavel que, mesmo modernizados, não restarão mais muitos anos de vida útil e não terão condição de combater e vencer nos atuais e futuros teatros operacionais.

Além das conhecidas vantagens logísticas, a preparação das tripulações será melhor no Centauro 2, já que o combatente do Exército Brasileiro será treinado e estará apto a operar um veículo no estado da arte e que estará na vanguarda tecnológica nas próximas décadas.

O Exército Brasileiro, no entendimento de que os cenários operacionais e orçamentários se alteraram, assim como a dinâmica do combate está em constante evolução precisa fazer escolhas pensando não somente no presente, mas no futuro e jamais investindo os já escassos recursos no que se tornou passado, e já deveria ser peça de museu, como é o caso do EE-9 Cascavel.

Refazer as escolhas e a decisão correta é investir em soluções que vão definir o combate no moderno teatro de operações, e não executar projetos que já nascem caros e obsoletos e que vão trazer mais problemas técnicos, logísticos e operacionais se um dia precisarmos emprega-los.

O Centauro 2 é um divisor de águas  no Exército Brasileiro e sua incorporação representará o maior instrumento de dissuasão e poder de combate jamais visto na história da Força Terrestre. Seja para defesa externa e territorial ou para emprego em missões de paz, ele deve ter sua aquisição e incorporação acelerada devido ao seu alto valor estratégico.

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25 Novembro 2022 DefesaNet

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