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Cyberwar – Em contexto: Internet não é garantia de democracia

PETER MOON

A morte da iraniana Neda Agha-Soltan, em 20 de junho de 2009, foi registrada num vídeo gravado num celular e espalhado pelo mundo no YouTube. Neda foi morta com um tiro no peito quando participava da manifestação em Teerã contra o pleito em que o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi acusado de fraudar sua reeleição.

A censura à imprensa iraniana não impediu que a população usasse o correio eletrônico, as mensagens instantâneas e os microblogs do Twitter para organizar protestos contra o regime. Em janeiro de 2011, tunisianos e egípcios saíram às ruas de Túnis e do Cairo para pedir a renúncia dos ditadores Zine El Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak. A população usou os celulares, as páginas do Facebook, o Twitter e o YouTube para driblar a censura aos meios de comunicação. Os dois ditadores foram depostos, e o levante popular contaminou um Oriente Médio cansado de governos corruptos.

As armas nas mãos dos revoltosos em Iêmen, Síria, Bahrein, Marrocos e Líbia foram os celulares conectados à rede. Estaríamos presenciando o momento em que os novos meios de comunicação começam a tirar o poder de governos opressores e entregá-lo ao povo?

O estudo A liberdade na rede 2011, divulgado na semana passada pela ONG Freedom House, de Washington, sugere o contrário. O acesso à internet parece guardar pouca – se alguma – relação com o nível de abertura política e liberdade de expressão. Países como China e Rússia, onde o acesso à rede é disseminado, têm um baixo grau de liberdade e estão longe de ser democráticos.

A Freedom House acompanha, desde 2009, a situação da liberdade na rede em 37 países. Em 2010, oito países – entre eles o Brasil – foram considerados livres; 18, parcialmente livres; e 11, não livres. Nestes últimos, a censura aos meios digitais é sistemática. O campeão é o Irã, país que mais elevou as restrições, investindo em tecnologias que impedem o envio de mensagens e vídeos.

O clube da censura digital inclui ditaduras como China, Malásia, Mianmar e Vietnã; democracias com restrições à liberdade (Belarus, Cazaquistão, Rússia e Tailândia); e as monarquias autocráticas da Arábia Saudita e do Bahrein.

O estudo aponta cinco países onde a liberdade corre riscos de deteriorar: Jordânia, Rússia, Tailândia, Venezuela e Zimbábue.

O Brasil é o oitavo em liberdade na rede na lista encabeçada por Estônia, Estados Unidos e Alemanha. Desde 2009, a liberdade de acesso no país cresceu. Segundo o estudo, estaríamos melhor, não fosse a censura imposta pela Justiça a alguns blogueiros.

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