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GOL e TAM perdem mais de R$ 1 bilhão

Ronaldo D"Ercole, Paulo Justus


Após três adiamentos, a Gol divulgou ontem seu balanço de 2011, que trouxe um dos piores resultados de sua história – prejuízo de R$ 710,4 milhões, invertendo lucro líquido do R$ 214 milhões no ano anterior. Os números da Gol são uma versão amplificada do desempenho de sua maior rival, a TAM, que fechou o ano passado com perda líquida de R$ 335,1 milhões, depois de lucrar R$ 637 milhões em 2010. Juntas, as perdas das duas maiores companhias aéreas nacionais somou R$ 1,045 bilhão. O valor de mercado também despencou – uma redução conjunta de mais de R$ 11 bilhões desde 2007. Por trás desses péssimos desempenhos estão fatores que vão da guerra tarifária no mercado doméstico no primeiro semestre à disparada dos preços do querosene de aviação, que subiu 23,7%, passando pelo dólar, cuja cotação média variou 12,6% ao longo de 2011.

Em teleconferência com analistas de mercado, ontem, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Jr, afirmou que a meta para este ano é de crescimento zero na oferta de assentos, e enfatizou que a "racionalização" das operações a "uma mudança no cenário macroeconômico" será o foco estratégico da empresa. Isso significa cortes de pessoal e do número de voos da empresa. Para Oliveira Jr, não é possível afirmar que a Gol errou no seu planejamento de voos e na contratação de funcionários:

– É uma mudança de visão e não dá para atribuir essa mudança de visão a um erro. O erro seria a gente permanecer com problemas, permanecer com voos dando prejuízo para a companhia e talvez comprometendo a sobrevivência da empresa. Eu diria que houve uma mudança no cenário macroeconômico, de patamares, e nós estamos nos ajustando a essa mudança.

A Gol anunciou que está eliminando de sua malha de 80 a 100 voos diários entre este e o próximo mês. Operando entre 1.100 e 1.150 voos diários, isso significará um corte de 8% na malha operacional. Entre os dias 6 e 16 deste mês, a companhia lançou um plano de licenças não remuneradas para pessoal de bordo, cujo objetivo, segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas, era conseguir a adesão de 220 profissionais (120 pilotos e 100 comissários). Como menos de 20 funcionários aderiram ao programa, na sexta-feira passada a empresa anunciou um plano de demissões voluntárias, que vai até amanhã, dia 29.

Sem revelar números exatos, a Gol também está reduzindo a frota de 120 aeronaves. Além da devolução de cinco Boeing 767, a empresa está repassando aeronaves para a Webjet, acelerando o plano de renovação de frota da companhia, com a troca de seus 737-300 por modelos 737-700, mais modernos. A empresa também está fechando suas salas VIP nos aeroportos de Curitiba e Porto Alegre.

– O foco continua sendo retomar a rentabilidade da empresa, ajustando a malha, elevando as receitas auxiliares e renegociando a devolução de aeronaves da WebJet. E também, adequando a força de trabalho ao tamanho dos negócios que podemos ter – disse o diretor financeiro da Gol, Leonardo Pereira, lembrando que desde o ano passado a companhia tem um plano para reduzir em mais de R$ 600 milhões sua base de custos.

Anac autoriza corte de comissários

O mal resultado da Gol já era esperado, e de certa forma as cotações das ações da companhia já haviam sofrido por isso. Na segunda-feira, véspera do anúncio do balanço, os papeis tiveram a maior queda do pregão, de 3,68%. Ontem, com os resultados já conhecidos, os papéis recuperaram parcialmente as perdas, subindo 2,58%.

Embora tenha rivalizado de igual para igual com a TAM na disputa pelo mercado doméstico nos últimos anos, a Gol vem perdendo progressivamente valor de mercado e hoje enfrenta forte concorrência de empresas menores. Mesmo com as aquisições da Varig e da Webjet, a companhia dirigida pela família Constantino valia ontem R$ 3,68 bilhões pelas cotações de suas ações, enquanto a TAM valia o dobro, R$ 7,09 bilhões. Há cinco anos, em janeiro de 2007, o valor de mercado da Gol era de R$ 12,4 bilhões, contra R$ 9,74 bilhões da TAM.

– Gol e TAM partiram para uma briga de tarifas que foi um tiro no pé. Paralelamente, teve o aumento de câmbio e petróleo – disse Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora.

Apesar disso, observou ele, o resultado da Gol foi mais afetado porque a companhia tem quase toda a receita oriunda do mercado doméstico e, portanto, é mais vulnerável às variações cambiais.

– Na Gol, os voos locais representam 90% do faturamento enquanto na TAM significam 70% – disse.

Para os analistas da XP Investimentos, mesmo implementando os cortes anunciados a Gol terá dificuldade em alcançar as metas de rentabilidade fixadas para este ano (entre 4% e 7% de margem operacional). Eles entendem ser complicado a empresa buscar rentabilidade em detrimento de crescimento, uma vez que isso implica em aumento das tarifas, sempre acompanhado de queda da ocupação dos voos. Enquanto isso, a TAM avança no processo de fusão com a LAN, o que deve lhe trazer ganhos de sinergia e maior musculutura financeira.

Além de lhes roubar rentabilidade, a guerra de tarifas do ano passado resultou em perda de participação para Gol e TAM – que recuaram de 38,15% e 41,9%, respectivamente, em 2010, para 34,1% e 40,7% em janeiro deste ano. Com a meta de não aumentar a oferta de assentos, a Gol corre o risco de perder ainda mais mercado.

– A demanda no mercado de aviação civil deve dobrar nos próximos anos. Se a Gol não souber manter os clientes vai perder mercado para outras companhias – disse Galdi.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou ontem que a Gol está autorizada a reduzir o número de comissários por voo para três. Hoje, a empresa opera com quatro funcionários por avião. A medida, que valerá para as 42 aeronaves 737-700, com capacidade para 144 passageiros, abre espaço para que a companhia reduza o quadro de funcionários. Segundo executivos ligados à empresa, isso deverá ocorrer a partir de maio. Pelos cálculos de especialistas, os cortes deverão atingir cerca de 250 comissários.

A legislação em vigor prevê um comissário por cada grupo de 50 passageiros, mas para reduzir esse número as empresas precisam da autorização do órgão regulador. As companhias devem entrar com processo na Anac, comprovando que a equipe é suficiente para atender as normas de segurança e prestar o serviço de bordo.

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