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Falta de pilotos faz empresas aéreas ‘repatriarem’ e contratarem militares

Defesanet

Publicamos uma nota (02ABR11), com os dados da ICAO-OACI, nos quais a atual reportagem do G1 está baseada.

A Leitura esclarecerá os número do deficit não só de pilotos, mas de mecânicos e de controladores de vôo.

Aviação Civil Mundial Necessidades de Pessoal até 2030 – Serão Necessários um Milhão de Pilotos Civis até 2030 DefesaNet  02 Abril 2011  Link


Faltam pilotos para aviões e helicópteros e a perspectiva para os próximos 20 anos não é nada boa, segundo a Organização Internacional de Aviação Civil (Icao). No Brasil, a demanda é tanta que companhias estão contratando pilotos recém-formados, ex-integrantes da Força Aérea Brasileira (FAB) e até “repatriando” brasileiros que foram para o exterior trabalhar, promovendo-os para voltarem aos céus do país.

Com a aviação civil comercial aquecida, a Icao aponta que, até 2030, serão necessários mais 517.413 pilotos no mundo – uma necessidade anual de 52.506 novos comandantes. Só no transporte de passageiros, a previsão é de que nos próximos 20 anos sejam necessárias mais 39.500 aeronaves circulando no planeta. Para isso, as companhias aéreas precisarão contratar mais 460 mil pilotos e 650 mil comissários e técnicos, segundo estudo da fabricante de aviões Boeing.

Em 2010, o número de pilotos contratados pelas companhias brasileiras aumentou 23% e o de passageiros transportados subiu 22%. “Algumas empresas já falam que, em três anos, haverá colapso de falta de pilotos, não só para linha áerea, mas também para táxi aéreo e aviação executiva”, diz Marcus Silva Reis, presidente do Conselho Nacional de Escolas de Aviação e coordenador do curso de ciências aeronáuticas da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.

“O problema é que a aviação está crescendo em ritmo acelerado e não estamos formando pilotos, comissários e pessoal na mesma velocidade. As empresas estão disputando piloto a tapa”, acrescenta Reis.

Segundo ele, o alto custo para a formação e a demora na liberação de licenças são entraves para o crescimento da oferta de pessoal. Todo piloto que quiser ser remunerado precisa da licença de piloto comercial (PC), para a qual a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) exige pelo menos 200 horas de voo (veja tabela abaixo).

Como em um curso o aluno paga entre R$ 220 a R$ 750 por hora voada, a licença de PC não sai por menos R$ 80 mil, segundo pilotos ouvidos pelo G1. Hoje, são mais de 14,3 mil pilotos comerciais no país.

Ao ingressarem no mercado, já com o brevê para operar comercialmente, esses profissionais passam por treinamentos na aeronave em que irão atuar. São contratados como copilotos, com salário mensal de R$ 6 mil a R$ 10 mil. Já a remuneração de um piloto, que é o comandante da aeronave, varia de R$ 12 mil a R$ 25 mil. Algumas empresas pagam mais, dependendo da aeronave e da especialização necessária.

“Tenho ciência de empresas aéreas que cancelaram voos em junho porque não tinha piloto. Outra empresa teve que esperar o copiloto desembarcar de uma ponte-aérea para assumir outro voo. Em abril, a Anac disse que a demanda cresceu 31% no país. O que vemos é que a aviação cresce em uma velocidade enorme e o governo não está conseguindo manter as condições de infraestrutura para isso”, afirma Reis.

Para o comandante Ronaldo Jenkins, ex-piloto comercial e da Força Aérea Brasileira e hoje diretor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), a alternativa seria o mercado absorver mais rapidamente os militares. “Na maioria dos países, as Forças Armadas liberam os pilotos para o mercado após 3,5 anos de formação. Isso acontece nos EUA, na Inglaterra. O custo de formação de um piloto é muito caro e muitas famílias não têm como pagar. Egressos da Aeronáutica podem absorver esta escassez”, acredita. No Brasil, a prática é o prosseguimento de um carreira militar mais longa, de até 3 décadas.

Militares e "importação"

Pilotos e instrutores dizem que companhias estão contratando ex-militares e também chegaram a “importar” recentemente brasileiros que foram voar no exterior, principalmente por companhias do Oriente Médio e Ásia, promovendo-os. “Um copiloto que voava na Catar Airlines ou na Emirates ganhando R$ 9 mil veio ser comandante na Azul por R$ 13 mil. A variação é pequena, mas há mais projeção a longo prazo na carreira”, disse ao G1 um piloto que voou no Brasil e no exterior.

Tanto a Passaredo quanto a Azul confirmaram a contratação recente de ex-militares da FAB e a "repatriação" de brasileiros que voavam no exterior. "A Passaredo contratou pilotos brasileiros que estavam voando em outros países, e alguns ex-FAB, pois houve a necessidade de se encontrar pilotos com estas experiências", disse o diretor de operações da empresa, comandante Paulo Penteado. 

De janeiro a maio a Passaredo já contratou mais pilotos e copilotos do que o total de 2009 e metade de 2010. A previsão é de que as contratações dobrem em 2012.

O comandante Álvaro Neto, diretor de operações de voo da Azul, confirma que "já há grande demanda para pilotos comerciais, que deverá ser crescente nos próximos anos". "Temos contratado alguns pilotos oriundos da Força Aérea para voarem na empresa, pois entendemos que estes pilotos possuem uma excelente formação básica teórica e prática", diz.

A Azul tem hoje 492 pilotos de Embraer 190 e 195 e outros 80 para as aeronave ATR. Entre 2011 e 2015, a companhia prevê contratar, anualmente, 250 novos pilotos, conforme o diretor de recursos humanos da empresa, Johannes Castellano.

Diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, o comandante Carlos Camacho acredita que os brasileiros voando no exterior hoje são mais de 650. "É um pessoal tecnicamente muito bem preparado e ganhando bem e mais experiência a cada dia. São uma enorme reserva técnica para o Brasil", acredita.

“Faltar piloto no país, pode não faltar. Mas a indústria de transporte cresce muito e se o mercado não se preparar quanto à formação de mão de obra especializada, terá problemas”, afirma

Dificuldades de contratação

As duas maiores companhias nacionais preveem novas contratações, mas as exigências são altas – experiência de entre 1,5 mil a 6 mil horas de voo. A TAM, a curto prazo, diz não ver problemas de falta de tripulação, mas acredita que “com o aquecimento da economia e a chegada de novas empresas aéreas, poderá ficar mais difícil encontrar pilotos com a experiência necessária no Brasil”.

“Entendemos que a Anac está sensível a essa questão e em breve o governo deverá anunciar medidas de incentivo à formação de novos profissionais”, diz a companhia, que tem mais de 2.293 pilotos e deve contratar mais 550 tripulantes em 2011.

A GOL, que possui 873 comandantes e 1.117 copilotos, contratou só em 2010 mais 394 copilotos. “Para os próximos anos, o número mudará de acordo com o crescimento projetado da empresa, em função da chegada de novas aeronaves e aumento previsto da frota operacional”, afirma Adalberto Bogsan, vice-presidente técnico da Gol.

As outras companhias aéreas foram procuradas pelo G1, mas não responderam aos questionamentos até o fechamento desta reportagem.

Segundo a ANAC, há 123 aeroclubes, 117 escolas e 23 universidades de aviação no país. A agência não acredita que não haverá falta de pilotos futuramente e criou projeto de bolsas de estudo em parceria com aeroclubes em que subsidia a formação.

No início deste ano, o número de pedidos de brevês triplicou em relação ao ano passado: de 900 processos registrados mensalmente no fim de 2010, para 3 mil por mês.

Estrangeiros no país

Todos os pilotos e especialistas na área ouvidos pelo G1 são contra a atuação de pilotos estrangeiros no país. Hoje, isso é proibido pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, que autoriza apenas o emprego de tripulantes estrangeiros em caráter provisório, na falta de brasileiros, ou de instrutores por até 6 meses.

Desde 2009, tramita na Câmara o projeto de lei 6.716, que pretende alterar isso, autorizando a contratação de tripulantes estrangeiros por até 5 anos.

“O país tem condições de suprir a mão de obra, subsidiando a formação. Algumas empresas estão fazendo lobby no Congresso para poder contratar pilotos de fora, do Mercosul ou da África. Mas não precisa importar estrangeiro, isso pode destruir o mercado nacional”, afirma Marcus Silva Reis, presidente do conselho nacional de escolas de aviação.

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