Exclusivo – Chineses oferecem Polo Pesqueiro no Sul do Brasil. Oportunidade Comercial ou Armadilha Geopolítica?

Nota DefesaNet

Artigos da Série Projeto de Pesca Integrada”:

1 – Exclusivo – Chineses oferecem Polo Pesqueiro no Sul do Brasil. Oportunidade Comercial ou Armadilha Geopolítica?

A oferta de investir U$ 30 Mi em Polo Pesqueiro Integrado na cidade portuária de Rio Grande traz uma potencial de conflito geopolítico regional e internacional.

2 – Exclusivo – Canto da Sereia e o Bafo do Dragão.

Carlos Oliveira é um expert nas questões estratpégicas do Atlântico Sul e traz informações exclusivas sobre as ações das frotas pesqueiras chinesas

O Editor

Matéria Exclusiva DefesaNet e

www.Polibiobraga.com.br

 O que a princípio é mais uma oportunidade de negócios tem sutilezas que ultrapassam o campo comercial.  A proposta da empresa chinesa Ample Develop Brazil Ltda, representando conglomerado financeiro e industrial da China, foi publicada com exclusividade em nota, no site do jornalista Políbio Braga, na sexta-feira (18DEZ2020). (www.polibiobraga.com.br)

Trata-se do “Projeto de Pesca Integrada” que foi projetado para ser desenvolvido na cidade portuária de Rio Grande (RS). O projeto, no esboço apresentado para o governo do estado do Rio Grande do Sul e da cidade de Rio Grande.

Em um breve comunicado, no dia 17 de Dezembro, a empresa divulgou:

“Ample Develop Brazil LTDA apresenta interesse em investir 30 milhões de Dólares no Rio Grande do Sul.

O primeiro contato da empresa no Brasil, para tratar sobre investimentos no Rio Grande do Sul, foi com a Secretária de Relações Internacionais, ex-Senadora, Ana Amélia Lemos. A Secretária, encaminhou a Empresa para dar seguimento as tratativas já no estado.

O Secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura do estado do Rio Grande do Sul, Arthur Lemos, juntamente com a Presidente da FEPAM, Marjorie Kauffmann e o Secretário Adjunto da Agricultura (RS), Luís Fernando, recepcionaram o Presidente da Ample Brazil, Sr Yunhung Arthur Lung e os diretores da empresa, que apresentaram carta de interesse de investimento e esboço do projeto em questão. A Ample Brazil, quer investir na Indústria da pesca no Estado, gerando centenas de empregos diretos e indiretos, com objetivo de atender o mercado interno e externo.

O grupo realizou reunião com Prefeito eleito de Rio Grande, Fábio Branco (PSDB), que com agilidade fez contato com Executivo responsável pela inserção da Ample Brazil no estado, Fernando Lopes e colocou o Município à disposição para empresa se instalar. A reunião aconteceu nesta quinta-feira (17DEZ2020) e foi muito promissora, relatou, Fernando Lopes.”

Reunião com a equipe do governo do Estado do Rio Grande do Sul

Reunião com o Prefeito eleito Fábio Branco, da cidade de Rio Grande, em 17DEZ2020 (RS)

O que é o   “Projeto de Pesca Integrada” apresentado pela empresa chinesa? Conforme o esboço do projeto apresentado pela AMPLE ao governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Rio grande trata-se:

Esboço do Projeto:

1. Construir uma frota de pesca de arrasto marinho.

(Em consideração para comparar com Uruguai, Argentina e mesmo Guiana ou Suriname não deve ser inferior a 400 (quatrocentos) barcos de pesca).

2. inicialmente, investir um peixe de congelamento rápido individual (IQF) de 500 toneladas (quinhentas) de capacidade diária planta de processamento.

(A planta de processamento adicional dependerá da captura e construção por fases).

3. Investir em um porto de pesca com instalações de base de pesca para a necessidade essencial da logística de pesca.

(O porto de pesca precisa estar ao lado de águas profundas com uma área não inferior a 100 hectares).

Cópia do trecho do documento

O Imbróglio Geopolítico

A delegação da AMPLE foi recebida pelas autoridades estaduais e municipais como um investidor que procura e oferece oportunidade de investimento e cooperação comercial.

Porém, o assunto tem uma enorme carga de atiçar ainda mais uma tensa situação, que há alguns anos tem ocorrido de forma silenciosa no Atlântico Sul.

A ação das frotas pesqueiras da China no Atlântico Sul. Mesmo alinhada politicamente com a China a Argentina tem agido com decisão, dentro das possibilidades de meios navais que dispõe, contra a pesca predatório das frotas pesqueiras chinesas.

Mais recente foi a ação, em 04MAIO2020, com a interceptação de um pesqueiro chinês, nota da Armada Argentina:

“A Marinha Argentina, sob o comando do Ministério da Defesa, informa que, nas primeiras horas de segunda-feira (04MAIO2020), o patrulha oceânica ARA P51 “Bouchard” detectou e capturou um barco pesqueiro chinês, que estava operando ilegalmente, na Zona Econômica Exclusiva da Argentina (ZEE).” Leia a íntegra ARGENTINA – Navio patrulha oceânico ARA “Bouchard” capturou barco de pesca chinês por pesca ilegal na ZEE Link)

Equipes de abordagem do ARA P51 Bouchard em direção ao pesqueiro chinês “HONG PU 16” Foto Armada Argentina (clique para acessar a matéria)

A Argentina também tem exercido pressão sobre o Uruguai, para que impeça o porto de Montevidéu ser usado de base para as operações das frotas pesqueiras chinesas. Embora, estas raramente aportem em Montevidéu, usam o porto para apoio logístico e uma tarefa macabra de descarregar corpos de  marinheiros falecidos a bordo para envio à China.

Preocupação Continental

Mais recentemente, em 04NOV2020, os países da América Latina: Equador, Chile, Peru e Colômbia emitiram declaração conjunta sobre a frota pesqueira chinesa que estava operando no Pacífico, especialmente frente à costa chilena.

A Marinha Chilena acompanhou a frota pesqueira chinesa até esta cruzar o Estreito de Magalhães e entrar no Oceano Atlântico Sul (onde está atualmente), frente à costa Argentina.

Em um movimento inédito, na LVII Cúpula de Presidentes do MERCOSUL, realizada 16DEZ2020, o Comunicado Conjunto traz o seguinte texto:

“DESTACARAM que a adoção de medidas unilaterais, incluindo a exploração de recursos naturais renováveis e não renováveis da área em controvérsia, não é compatível com o acordado nas Nações Unidas, e reconheceram o direito que assiste à República Argentina de promover ações legais, com pleno respeito ao Direito Internacional, contra as atividades não autorizadas na referida área. Ademais, reafirmaram o interesse regional em que a prolongada disputa de soberania entre a República Argentina e o Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte sobre as Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul, Sandwich do Sul e os espaços marítimos circundantes alcance, quanto antes, uma solução em conformidade com as resoluções pertinentes das Nações Unidas e das declarações da Organização dos Estados Americanos e outros foros regionais e multilaterais.” (A Íntegra do Comunicado pode ser acessado Link)

O texto diplomaticamente menciona a Grã Bretanha, mas não avança no apoio que os ingleses dão às frotas pesqueiras chinesas e também à espanhola. No caso da Espanha é uma estratégia de possível acesso futuro à Comunidade Europeia via os espanhóis.

A posição Brasileira

No Brasil a voz mais constante sobre a ação de pesca ilegal tem sido a do Comandante da Marinha do Brasil, Almirante-de-Esquadra Ilques. No Seminário de Defesa Nacional, 13NOV2020,  mencionou a “pesca ilegal, não declarada e não regulamentada” e “Pirataria” como ameaças.   Posição reforçada em outras oportunidades como no lançamento do submarino S-41 Humaitá (11DEZ2020). (Discurso Almirante Ilques Barbosa Link)

Clique na imagem para acessar ao vídeo da apresentação.

Na segunda-feira (21DEZ2020) o presidente Bolsonaro, que encontra-se em Santa Catarina até o dia 23DEZ2020, enviou uma mensagem de apoio aos navios pesqueiros de Santa Catarina, que tiveram a permissão pelo STF de operarem com rede de arrasto na costa do RS.

DefesaNet enviou questões ao Comando da Marinha, Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Secretaria de Assuntos Estratégicos. Até a publicação desta matéria não tivemos resposta às nossas questões.

Vale a pena ler esta descrição da empresa onde menciona:

“A Ample China, participa da Ample Brasil, e fornece alimentos (gãos e proteína animal), para 5 províncias, mais parte do Exército Chinês (PLA).”

Nota DefesaNet

As implicações geopolíticas e militares desta oferta chinesa serão analisadas em próximo artigo.

O Editor

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