Documentos apreendidos pelos EUA mostram como Estado Islâmico gerencia “despojos de guerra”

O Estado Islâmico criou departamentos para lidar com "despojos de guerra", incluindo escravos e a exploração de recursos naturais como o petróleo, criando estruturas de governo que lhe permitam gerir grandes extensões da Síria e do Iraque e outras áreas.

A burocracia hierárquica, relatos de pequenas rivalidades entre funcionários e códigos jurídicos na forma de fatwas religiosas são detalhados em um conjunto de documentos apreendidos pela Forças de Operações Especiais dos Estados Unidos em um ataque em maio na Síria que matou o encarregado da área financeira Abu Sayyaf. A Reuters examinou alguns dos documentos.

Autoridades norte-americanas dizem que os papéis as ajudaram a aprofundar a sua compreensão de um grupo militante que surpreendeu por sua habilidade em controlar o território que conquistou. Eles fornecem explicações sobre como um pequeno grupo insurgente desenvolveu uma burocracia complexa para gerir fluxos de receita – de roubo de petróleo à pilhagem de antiguidades  – e supervisionar as populações subjugadas.

"Isso realmente explica. O nível de burocratização, a organização, os órgãos financeiros, as comissões”, disse à Reuters o enviado especial do presidente dos EUA, Barack Obama, na coalizão anti-Estado Islâmico, Brett McGurk.

Por exemplo, um diwan, que a grosso modo equivale a um ministério do governo, lida com os recursos naturais, incluindo a exploração de antiguidades de antigos impérios. Um outro processa "despojos de guerra", incluindo escravos.

"O Estado Islâmico se inspira no Estado e na imagem do Califado mais do que qualquer outra entidade jihadista. Assim, uma organização formal, além de ser prática quando se controla tanto território contíguo e grandes cidades, também reforça a imagem de soberania", disse Aymenn al-Tamimi, pesquisador do Fórum do Oriente Médio e especialista em estrutura do Estado Islâmico (EI).

Os documentos também mostram como o EI é "meticuloso e focado nos dados" na gestão do setor de petróleo e gás, embora não seja uma operação sofisticada, disse Amos Hochstein, alto funcionário do Departamento de Estado para assuntos energéticos.

Autoridades norte-americanas disseram que os documentos ajudaram a coalizão anti-EI a identificar vulnerabilidades. Os Estados Unidos e seus aliados têm usado os bombardeios aéreos para degradar a infraestrutura petrolífera do grupo e atacar funcionários importantes.

Os documentos mostram que o Estado Islâmico não está imune às rivalidades e conflitos de personalidade que tipificam burocracias em todos os lugares. Em 21 de novembro de 2014, carta do Diwan dos Recursos Naturais destaca que Abu Sayyaf está encarregado de lidar com antiguidades.

"O motivo é que ele é muito experiente neste campo e que Abu Jihad al-Tunisi é um simplório que não pode gerenciar a divisão", diz.

A Reuters não pôde verificar independentemente a autenticidade dos documentos, que representam uma fração do material apreendido no ataque Síria.

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