ARMAS – Venda para EUA sobe 187,5 por cento na gestão Lula

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Publicado Folha de SP – 29 Abril 2013

RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
Colaborou MÁRCIO NEVES, de Brasília

Os Estados Unidos, que discutem restrições ao comércio de armamentos, adquiriram 7,9 milhões de armas de fogo do Brasil nos últimos 40 anos, e 59% desse total foi exportado durante o governo Lula (2003-2010).

É o que indica um levantamento inédito do Comando do Exército obtido pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação, com o registro detalhado de vendedores e compradores de 9,9 milhões de revólveres, pistolas, carabinas e espingardas, entre outras armas, enviadas para fora do Brasil de 1971 a 2011.

A exportação dos armamentos brasileiros para os EUA aumentou 187,5% nos oito anos do governo Lula em comparação com o mesmo período do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). De 2003 a 2010, as indústrias brasileiras destinaram ao território norte-americano um total de 4,6 milhões de armas, o suficiente para armar a população inteira de países como Noruega e Croácia.

 

Em 2011, o Brasil foi o líder das exportações para os EUA, com 846 mil armas de fogo, à frente da Áustria (a segunda colocada com 522 mil) e da Alemanha (a terceira, com 313 mil).

O raio x das exportações revela que três empresas criadas nos EUA pelas fabricantes brasileiras Forjas Taurus e Amadeo Rossi adquiriram a maior parte das armas que entraram naquele mercado.

As fabricantes não informam ao governo brasileiro o destino final dessas armas, o que afastaria a hipótese de que estejam sendo redirecionadas a outras países.

Alegando sigilo comercial, a Taurus se recusou a informar à Folha quem são os clientes das suas subsidiárias norte-americanas.

Para especialistas no tema, a reexportação é um fenômeno bastante conhecido. De acordo com eles, centenas de armas fabricadas pela Taurus foram achadas num depósito em Trípoli após a queda do ditador Muammar Gaddafi.

Contudo, no levantamento obtido pela Folha há o registro da venda de apenas duas armas para a Líbia.

Maria Laura Canineu, diretora da ONG Human Rights Watch para o Brasil, afirmou que o país chegou a defender, nas discussões do novo tratado global para comércio de armas, aprovado neste ano na ONU (Organização das Nações Unidas), a exigência de que o exportador emita um certificado de "utilizador final" da arma, mas a versão final do tratado acabou ficando "frágil nesse sentido", sem "uma exigência clara".

Segundo Maria Laura, a nova Lei de Acesso representa um avanço, mas o Brasil "tem enfrentado severas críticas pela falta de transparência na exportação de armas".

A quarta maior compradora nos EUA dos produtos brasileiros foi a Springfield Incorporation, uma conhecida apoiadora da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês). Há duas semanas, uma proposta de regulação do presidente Barack Obama foi recusada pelo Congresso.

O poder de fogo político das fabricantes brasileiras também se revela em tempos de eleição. Duas empresas e uma associação do setor doaram R$ 3 milhões a candidatos diversos na disputa eleitoral de 2010, incluindo R$ 500 mil para a direção nacional do PT e R$ 200 mil para a campanha que elegeu Dilma Rousseff.

Abaixo dos EUA, os principais destinos das exportações brasileiras foram, em números aproximados, a Argentina (215 mil armas), Paraguai (154 mil), Iêmen (112 mil) e Alemanha (109 mil).

Com uma receita de R$ 701 milhões e lucro líquido de R$ 42 milhões em 2012, a Taurus, sediada no Rio Grande do Sul, foi responsável por mais de 50% das exportações brasileiras nos últimos 40 anos. No relatório de administração do ano passado, a empresa informou que 60% de sua produção foi para o exterior. Desse volume, 88% teve como destino os EUA, o que correspondeu a cerca da metade de sua receita no período.

Nota da FSP do dia 1º Abril 2013
 

Mudança de fábrica

O grupo Taurus, de armamento, vai investir R$ 25 milhões para centralizar parte de sua produção em São Leopoldo (a cerca de 35 quilômetros de Porto Alegre).

Uma planta em Caxias do Sul e uma segunda de São Leopoldo serão transferidas. As mudanças serão feitas porque os prédios dessas unidades são alugados atualmente.

"Também queremos reduzir custos e aumentar a margem de lucro", diz Dennis Gonçalves, presidente da empresa.

A companhia planeja ainda transferir da capital gaúcha para a mesma cidade sua maior instalação, onde atuam 1.800 trabalhadores.

"Só não sei dizer quando isso vai ocorrer. Temos uma dificuldade por causa dos funcionários. Por outro lado, o local está sofrendo pressão imobiliária", diz.

A Taurus teve um faturamento líquido de R$ 701 milhões em 2012 -alta de 15%. Cerca de 70% de suas armas são vendidas nos EUA.

 

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