Arábia Saudita, Irã e o preço do petróleo

Mais de 80% das receitas do governo da Arábia Saudita vêm do petróleo. Mas o orçamento do país, governado despoticamente, escorregou fundo para o vermelho devido à queda do preço do matéria-prima, que recuou mais de 60% desde meados de 2014. O deficit em 2015 ficou em quase 90 bilhões de euros, segundo o Ministério das Finanças em Riad.

Este não é o primeiro ano de deficit e nem será o último. De acordo com o FMI, em cinco anos as reservas de dinheiro do país estarão esgotadas se nada for feito. A diretora-gerente do órgão, Christine Lagarde, afirmou recentemente que a queda dos preços do petróleo faz com que reformas sejam inevitáveis no país. "O crescimento deve vir mais do setor privado e menos do setor governamental", recomendou.

Os gastos do governo devem ter superado 50% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, conforme cálculos do FMI. No ano anterior, essa parcela era de 40,8%. Isso porque as receitas oriundas do petróleo continuam diminuindo, ao passo que os custos do Estado de bem-estar social saudita sobem.

Cerca de 10% da população são funcionários públicos, e seus salários são considerados altos. Os pesados subsídios para água, eletricidade e gasolina rendem amplo apoio da população ao regime. Mas só a manutenção dos preços da energia consome anualmente quase um oitavo do PIB. Por isso, o FMI cobra uma redução dos subsídios.

Na verdade, o governo em Riad determinou os primeiros cortes já no início do ano, poucos dias antes das execuções no país. Alguns preços da gasolina serão elevados em mais de 50%. A discussão inclui a introdução de um imposto sobre o valor agregado.

Empresas estrangeiras, que até agora ganharam muito com o crescimento do país, também podem ser prejudicadas com esse novo curso. Só o novo metrô da capital, Riad, deve custar mais de 18 bilhões de euros, mas as medidas de austeridade devem reduzir os gastos com grandes projetos. A mídia local noticia que, em algumas obras, os atrasos de pagamento chegam a até seis meses e que alguns contratos para construções foram renegociados.

Briga dentro da Opep

Para equilibrar seu orçamento, a Arábia Saudita precisa que o petróleo custe 82 dólares por barril, conforme cálculos do FMI. O preço atual gira em torno de 40 dólares.

Os próprios governantes sauditas são responsáveis por isso. "A Arábia Saudita usa o preço do petróleo como arma", diz o analista Patrick Artus, do banco francês Natixis. Um dos alvos é o Irã, contra o qual Riad nutre obstinadamente um conflito cada vez mais sangrento pela hegemonia regional. Após o fim das sanções ocidentais a Teerã, a briga entre a Arábia Saudita e Irã também se acirra nas mesas de negociação da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep).

Os poderosos sauditas se recusam há tempos, teimosamente, a reduzir a sua produção – apesar do declínio do preço do petróleo. Eles visam, desse modo, prejudicar os novos produtores de petróleo dos EUA, já que preços baixos inviabilizam a produção americana baseada na cara tecnologia de fracking.

Mas a estratégia não tem funcionado, e o preço baixo gera problemas para todos os países produtores. Também por isso é que o Irã cobra veementemente, dentro da Opep, a redução da produção, sem, entretanto, ser bem-sucedido.

Com o fim das sanções, o Irã sonha em retomar seu antigo poder na Opep. Antes delas, a produção iraniana de petróleo era de até quatro milhões de barris diários. Hoje, 800 mil barris já seriam um crescimento respeitável. Mas qualquer aumento da produção fará com que o preço baixe ainda mais se os outros produtores não diminuírem sua produção. Por isso, o Irã pressiona para que os demais membros da Opep, principalmente a Arábia Saudita, produzam menos.

Só que os governantes em Riad não têm o menor interesse em atender à reivindicação do Irã, apesar de a alta produção e o consequente preço baixo do petróleo criarem problemas cada vez maiores para eles mesmos. Nesse ritmo, o conflito regional entre Riad e Teerã ameaça desestabilizar toda a Opep.

Aumentam críticas à exportação alemã de armas para sauditas

"O governo alemão recebeu com perplexidade a notícia da execução de 47 prisioneiros na Arábia Saudita", afirmou o porta-voz do governo da Alemanha, Steffen Seibert. Ele acrescentou que, além de a Alemanha se opor à pena de morte, a execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr tem potencial para acentuar as tensões políticas e religiosas na região. E isso é exatamente o oposto do que o Ocidente deseja.

O governo de Berlim enfrenta um dilema. De um lado, as autoridades sauditas ordenaram uma execução em massa e romperam relações diplomáticas com o Irã. Do outro, a Arábia Saudita é anfitriã de membros da oposição síria, que se preparam para as negociações previstas para o final deste mês em Genebra. "Só se todas as forças regionais contribuírem de forma construtiva, incluindo a Arábia Saudita e o Irã, é que poderemos avançar na busca de uma solução para a guerra civil síria", ressaltou o porta-voz.

As atuais circunstâncias parecem não permitir mais que um gesto de advertência. "O governo está convencido de que a manutenção de relações construtivas com a Arábia Saudita atende aos interesses da Alemanha e da região", disse Seibert, acrescentando que "só por meio do diálogo é que se pode expressar diferentes pontos de vista e também abordar aspectos críticos".

Bom cliente da indústria armamentista alemã

Mas não é tarefa fácil ocultar o atrito nas relações entre a Alemanha e a Arábia Saudita. Já faz algum tempo que Berlim não fala mais de um "parceiro estratégico", mas de um "parceiro importante numa região abalada por crises", como formulou a porta-voz.

O governo alemão não quer mais apoiar incondicionalmente Riad com a venda de armas. É uma mudança de paradigma, já que durante anos esse país rico em petróleo foi um cliente valioso da indústria bélica alemã. Junto com os Estados Unidos, a Alemanha é um dos principais fornecedores de armas para os sauditas.

Entre 1999 e 2004 – quando o Partido Social-Democrata (SPD) e os Partido Verde governaram em uma coalizão comandada pelo chanceler federal Gerhard Schröder –, as exportações de armas alemãs para a Arábia Saudita aumentaram de 26 milhões para quase 60 milhões de euros.

O material vendido incluiu partes de mísseis, metralhadoras, pistolas, munição e granadas, além de peças para aviões de combate, sistemas de comunicação e vigilância para navios militares.

E o negócio continua a crescer. De acordo com o relatório oficial sobre as exportações de armas, em 2014 a Alemanha vendeu armamentos no valor de 209 milhões de euros para a Arábia Saudita, incluindo equipamentos militares no valor de 51 milhões de euros. Só no primeiro semestre de 2015, o valor chegou a 180 milhões de euros.

As exportações incluem veículos off road, peças para veículos blindados e peças para aviões de combate, equipamento para reabastecimento aéreo, drones e quatro simuladores de tiro. Também foi aprovada a exportação de 15 barcos de patrulha.

 

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