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Ucrânia produz mísseis próprios de longo alcance

Presidente Zelenski anuncia teste bem-sucedido de primeiro míssil balístico. Sem muito alarde, país tem trabalhado no desenvolvimento de armas próprias.

(DW) Desde o início da guerra, a Rússia tem repetidamente usado mísseis de longo alcance contra a Ucrânia. Kiev ainda não está em condições de responder com armas de fabricação própria, e os mísseis que recebe de seus parceiros também têm limitações – tanto no que diz respeito ao alcance quanto ao uso em território russo.

Para mudar essa situação e reduzir a dependência de mísseis vindos do exterior, a Ucrânia tem trabalhado em seu próprio programa de mísseis. O que se sabe sobre ele?

Drone Palyanytsya com propulsão a jato

“Os russos acharão difícil até mesmo pronunciar o nome. Será igualmente difícil para eles se defenderem contra esse drone. Mas entender o que eles fizeram para merecê-lo não será um problema”, provocou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, ao falar sobre o novo drone de combate Palyanytsya.

Palyanytsya é a palavra ucraniana para pão. Ela costuma ser usada com humor, já que a maioria dos russos tem dificuldade em pronunciá-la.

Segundo Zelenski, a arma já teve seu “primeiro e bem-sucedido” teste no campo de batalha.

Antes de renunciar ao cargo nesta terça-feira (03/09), o ministro das Indústrias Estratégicas, Oleksandr Kamyshin, afirmou que o objeto atingido pelo Palyanytsya estava localizado em território ucraniano sob ocupação russa. À reportagem, Kamyshin disse que o míssil foi desenvolvido e fabricado inteiramente na Ucrânia, com “alguns componentes vindos do exterior”.

Segundo a plataforma governamental ucraniana United24, que publicou um vídeo do Palyanytsya, a arma foi desenvolvida por especialistas ucranianos ao longo de um ano e meio. Equipada com um motor turbojato e vários sistemas de orientação, ela atinge uma velocidade muito maior do que os drones com motores de combustão.

O principal alvo do Paljanytsja serão os cerca de 20 aeródromos militares russos usados em ataques aéreos contra a Ucrânia – alguns deles a 600 ou 700 quilômetros da fronteira ucraniana.

A arma teria um custo “muito menor do que mísseis análogos”, com previsão de redução ainda maior e expansão da produção.

Mais do que isso o governo ucraniano não entrega: as informações são confidenciais. Os dados sobre o drone ainda não estão completos, e por isso ainda não é possível avaliar com precisão a eficácia do Palyanytsya, afirmou Serhiy Shurez, diretor da empresa de informações e consultoria Defence. “O alcance é o único parâmetro que atualmente nos ajuda a avaliar a arma. Mas o alcance não é o mais importante para mim, e sim o peso da ogiva e a precisão do impacto”, disse à reportagem.

Míssil de uso marítimo e terrestre Neptune

“A Ucrânia obteve alguns sucessos em seu programa de mísseis nos últimos anos”, enfatiza Shurez. “Por exemplo, as séries de armas antitanque, como a Stugna e a Corsair, que estão sendo produzidas em massa. Ou o míssil antinavio R-360 Neptune.”

O Neptune, um produto da empresa Lutsch, de Kiev, está sendo usado pelas Forças Armadas ucranianas desde 2020, assim como o sistema de mísseis costeiros RK-360MC, que foi projetado para detectar e destruir navios inimigos de várias classes.

Um míssil Neptune tem uma ogiva de 150 quilos e alcança até 300 quilômetros. Sua primeira missão de combate foi no início de abril de 2022, contra a fragata russa Admiral Essen. Em 13 de abril de 2022, ocorreu um dos eventos mais significativos da guerra: dois mísseis Neptune afundaram o carro-chefe da frota russa no Mar Negro, o Moskva.

Em 2023, soube-se que os projetistas ucranianos haviam modificado o míssil antinavio Neptune. Agora ele pode atingir não apenas navios, mas também alvos terrestres.

Um representante do Ministério da Defesa da Ucrânia disse ao portal de mídia americano The War Zone que a nova arma recebeu um novo sistema de orientação, mas é lançada do mesmo lançador que o míssil antinavio.

O míssil Neptune modificado tem um alcance de cerca de 400 quilômetros e uma ogiva de 350 quilos, mais do que o dobro da versão antinavio, conforme o funcionário. Sabe-se também que os militares ucranianos já usaram o míssil Neptune modificado em várias ocasiões.

O que há de novo no programa de mísseis?

Para penetrar fundo no território da Rússia, a Ucrânia usou no ano passado, de acordo com relatos na mídia, mísseis do sistema de defesa aérea S-200, que havia sido oficialmente desativado em 2013. 

Agora, esses mísseis foram modificados para poder atingir alvos terrestres. Kiev não confirmou oficialmente, mas um representante do governo disse à BBC que esse trabalho está em andamento. “Nas circunstâncias atuais, temos que encontrar uma saída. Encontramos a solução com o S-200, e ela parece estar funcionando bem até agora.” 

A Ucrânia também usou drones soviéticos modernizados de reconhecimento do tipo Tu-141 Stryzh. O drone tem um motor turbo e pode atingir velocidades de cerca de mil quilômetros por hora. De acordo com o Serviço de Inteligência de Defesa da Ucrânia, em 2023 esses drones danificaram bombardeiros russos Tu-95 de longo alcance na cidade russa de Engels.

Primeiro míssil balístico ucraniano

No final de agosto, Zelenski anunciou o teste bem-sucedido do primeiro míssil balístico nacional, sem contudo detalhar o tipo de míssil. “A Ucrânia deve finalmente alcançar a máxima independência em defesa”, já tinha enfatizado ele em julho.

Alegando sigilo, o Ministério da Defesa não quis comentar sobre o programa de mísseis.

O que se sabe é que a indústria de defesa ucraniana desenvolve um míssil balístico desde 2006: o míssil de curto alcance Sapsan, que tem um diâmetro de fuselagem de 0,9 metro e um alcance de 500 quilômetros.

O míssil é conhecido pelo nome de exportação Hrim-2. A Ucrânia teria produzido ele com um diâmetro de 0,6 metros e um alcance de 280 quilômetros para a Arábia Saudita.

Desde o início da guerra, o desenvolvimento do Sapsan não foi comentado publicamente, embora a Rússia tenha afirmado repetidamente ter derrubado mísseis ucranianos Hrim-2.

“A Ucrânia é hoje capaz de produzir mísseis suficientes para manter uma guerra com a Rússia”, assegura Frank Ledwidge, ex-oficial de inteligência britânico e especialista militar da Universidade de Portsmouth.

“Quando se trata de tecnologia, não devemos subestimar os ucranianos. Antes da guerra, eles estavam entre as dez maiores potências espaciais do mundo – também porque têm expertise suficiente na construção de foguetes. Só para esclarecer: o foguete favorito de Elon Musk, além do seu próprio, é o lançador Zenit. Ele é fabricado na Ucrânia.”

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