Analistas opinam sobre próximos passos de Putin para ampliar terror no Ocidente

Até onde irá o presidente russo, Vladimir Putin, depois de anunciar a mobilização parcial de 300 mil reservistas e ameaçar o Ocidente de utilizar armas nucleares na guerra que lançou na Ucrânia? A esta questão precisa ninguém ousa responder, mas é consensual na avaliação da imprensa francesa que afirma que Putin está acuado pelo avanço do exército ucraniano no leste e responde ao seu isolamento com uma ameaça de escalada nuclear.

Segundo o jornal Le Parisien, Putin desafia o mundo e provavelmente irá provocar novos estragos. Na opinião do consultor em defesa Pierre Servent, entrevistado pelo diário, entre várias possibilidades de plano tático, o presidente russo poderia utilizar bombardeios nucleares no mar para ampliar o terror no Ocidente. Em seu editorial, o jornal Le Figaro se refere a Putin como um "czar radioativo" e "criminoso de guerra".

"Ao optar pela escalada, ele admite publicamente seu fracasso", diz o texto. Os últimos países que ainda representavam pontos de apoio para o Kremlin no mundo – China, Índia e Turquia – pedem o fim do conflito. Parecem pequenas as chances de Moscou recuperar os territórios perdidos nas últimas semanas para o exército ucraniano, mesmo se receber armas da Coreia do Norte.

Por outro lado, uma coisa é certa: o próximo passo de Putin terá um custo exorbitante para os russos e para o mundo, opina o jornal francês. "Resta esperar fervorosamente que as instituições públicas russas se dêm conta dos riscos e "neutralizem" a tempo o autocrata radioativo no Kremlin", conclui o Le Figaro.

Decretp de Lei Marcial?

Em sua capa, o jornal Libération publica a imagem do rosto de Putin em preto e branco, encoberta parcialmente por um véu de sangue, acompanhada pela manchete "Putin: guerra e sangue".

Em entrevista ao jornal, a especialista em geopolítica russa Carole Grimaud afirma que a contraofensiva ucraniana abalou o moral dos soldados russos presentes na Ucrânia, estimados entre 250 mil e 350 mil homens. O recurso aos reservistas seria uma forma de revigorar as tropas.

O reforço militar exigirá, no entanto, um mínimo de treinamento, que poderá levar até dois meses. Até lá, a principal preocupação de Moscou é estancar a sangria das deserções. Na avaliação da especialista, para chegar a seus objetivos, não está descartado que Putin venha a decretar a Lei Marcial na Rússia, como durante a Segunda Guerra Mundial.
 

Putin quer "destruir o direito da Ucrânia de existir", denuncia Biden na ONU

Joe Biden, em seu esperado discurso do pódio da ONU, não perdeu tempo. O presidente dos Estados Unidos acusou diretamente a Rússia de ter "violado flagrantemente" os princípios fundadores das Nações Unidas ao atacar a Ucrânia. "Uma guerra brutal e desnecessária", disse ele.

Para o chefe da Casa Branca, Vladimir Putin quer "aniquilar o direito da Ucrânia de existir", simplesmente. "Um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU invadiu seu vizinho e procurou aniquilar um Estado soberano", sublinhou.

O presidente dos EUA, Joe Biden, acusou a Rússia de violar os princípios das Nações Unidas na quarta-feira (21), acenando aos países em desenvolvimento ao prometer ajuda alimentar e apoiar uma reforma do Conselho de Segurança. Como vários chefes de Estado e de governo fizeram antes dele na terça-feira (20), no primeiro dia desta meca diplomática anual, Biden atacou a Rússia diretamente, anunciando a mobilização de centenas de milhares de reservistas e brandindo a ameaça das armas nucleares.

"Esta guerra está destruindo o direito da Ucrânia de existir, pura e simplesmente", disse o presidente dos EUA. A Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança, "violou descaradamente os princípios da Carta da ONU" ao confiscar partes do território de seu vizinho, insistiu.

O presidente francês Emmanuel Macron, que acusou a Rússia de ser responsável por um "retorno do imperialismo e do colonialismo", apelou à comunidade internacional para "exercer a máxima pressão" sobre Vladimir Putin.

À medida que os países do Sul ficam cada vez mais irritados com o foco do Ocidente na Ucrânia, apesar das múltiplas crises que a humanidade enfrenta ao redor do mundo, o presidente dos Estados Unidos dedicou boa parte de seu discurso aos países em desenvolvimento.

Embora a questão tenha sido levantada por vários líderes, a Ucrânia sem dúvida permanecerá no topo da agenda durante o resto da semana para um grande número de líderes.

Irã, direitos humanos e energia nuclear

O discurso do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, no final desta quarta-feira, também eram muito esperado, embora ele não esteja em Nova York e tenha recebido permissão excepcional dos estados-membros da ONU para falar por meio de mensagem de vídeo.

A Ucrânia também será objeto de uma reunião do Conselho de Segurança na quinta-feira (22) entre os ministros das Relações Exteriores, portanto em teoria na presença de Serguei Lavrov, que chefia a delegação russa na ONU, na ausência de Putin.

A questão nuclear iraniana e os protestos crescentes no Irã após a morte de uma jovem detida pela polícia moral conseguiram chegar ao primeiro plano do cenário internacional. "Os líderes iranianos devem notar que a população está insatisfeita com a direção que tomaram. Eles podem tomar um caminho diferente", disse o chefe da diplomacia britânica, James Cleverly.

O presidente iraniano Ebrahim Raissi se defendeu em um discurso de mais de 30 minutos, acusando o Ocidente de ter "dois pesos e duas medidas" em relação aos direitos das mulheres.

Ele também garantiu que seu país "não busca construir ou obter armas nucleares", e duvidou da sinceridade do governo dos EUA em reavivar o acordo de 2015 que deveria garantir que a República Islâmica não pudesse adquirir armas atômicas em troca do levantamento das sanções à sua economia.

"Não permitiremos que o Irã adquira armas nucleares", respondeu Joe Biden, dizendo que "uma guerra nuclear não pode ser ganha e não deve ser combatida".

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