GenEx R1 Pinto Silva – O Brasil e a Guerra Híbrida no Pós Guerra Fria

Gen Ex R1 Carlos Alberto Pinto Silva

Ex-comandante do Comando Militar do Oeste,

do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres,

Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

Nota DefesaNet

Texto apresentado no V Seminário LAAD 2017, com o título: "A GUERRA HÍBRIDA NO CONTEXTO BRASILEIRO".

O editor

1.         CONSIDERAÇÕES GERAIS.

“Cartas imprevisíveis”, isto é, cenários que, apesar de altamente improváveis, não podem ser descartados. Assim, sempre é útil reservar pelo menos um pequeno espaço mental para “pensar o impensável”, pois a história está repleta de eventos que começaram como altamente improváveis e depois se tonaram a mais pura realidade.”[1]

O uso da força esta em declínio, porém as guerras não despareceram, os métodos dos conflitos é que mudaram, e agora envolvem “amplo uso de medidas não militares, políticas, econômicas, informativas, humanitárias, e etc.”[2].

A pergunta é: Para que tipo de guerra ou conflito um Estado deve voltar sua atenção hoje?

2.         REVOLUÇÕES COLORIDAS.

A maioria dos casos bem sucedidos de revoluções coloridas teve início a partir dos anos 2000.  Ocorreram em países com democracias recentes, ou que iniciavam o processo de democratização, na área de influência ou no território da antiga União Soviética, sendo que o principal resultado efetivo foi a derrubada de governos pró-Rússia e a ascensão ao poder de grupos ou partidos políticos pró-Estados Unidos.

Alguns autores consideram que tais revoluções foram patrocinadas diretamente pelos Estados Unidos, enquanto outros defendem que isso só foi possível devido à existência de movimentos de oposição locais ou nacionais.

Para alguns autores,a Revolução Colorida nada mais foi que o primeiro estágio daquilo que se tornaria a Guerra Híbrida, que certamente dominará as tendências a serem empregadas para desestabilizar regimes hostis nas próximas décadas.

Revoluções Coloridas, sendo uma das formas de guerra híbrida, são também os elementos da confrontação entre a Rússia e os EUA.

3.         É A GUERRA DE VLADIMIR PUTIN?

A que o presidente russo leva a cabo na Ucrânia, um conflito que os analistas qualificam de “híbrido” porque une forças regulares e não regulares, desinformação, e uma pomposa presença militar em uma ofensiva limitada.

Os russos entendem[3] que na atual conjuntura uma guerra convencional seja provavelmente precedida, mas não completamente substituída, por uma fase de desestabilização política.

Os russos, também, entendem que devem travar uma Guerra Política contra o Ocidente, não com a finalidade de preparar o terreno para uma invasão, mas com o objetivo de dividir, desmoralizar e distrair o suficiente para não haver resistência ao seu objetivo de desestabilização política.

4.         TEORIA DO CAOS.

A ideia central da teoria do caos estabelece que fatores insignificantes e distantes, podem eventualmente produzir resultados catastróficos imprevisíveis e absolutamente desconhecidos no futuro.

Então surge a figura do caos, da desestabilização e a desagregação da máquina do Estado, e como os dedos do caos são compridos, muitas vezes não conseguimos perceber precisamente o que ele nos traz, fazendo com que a dúvida e a insegurança dominem todas as ações e a nossa capacidade de indignar-se e reagir.

“Especialistas ligados às ciências humanas identificam o dedo do caosem revoluções políticas, em transformações econômicas e na modificação de costumes e regras morais.”[4] 

A Guerra Híbrida, para a conquista do Poder, pode ser interpretada com a militarização da teoria do caos.

5.         GUERRA HÍBRIDA.[5]

Mas, afinal, o que é a Guerra Híbrida?

– Uma resposta assimétrica à avassaladora superioridade militar Norte Americana?

– É um elemento de confrontação Rússia e Estados Unidos?

– É a guerra em meio à população?

Pode-se cogitar ser ela um conflito no qual os atores, Estado ou Não-Estado, exploram todos os modos de guerra simultaneamente, empregando armas convencionais avançadas, táticas irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade, visando desestabilizar a ordem vigente.[6]

Violência preparada para exercer um fim fundamentalmente político, ou qualquer tipo de agressão organizada que procuracausar dano, visando interesse político, leva à Guerra Híbrida, nova Via Violenta para a Tomada do Poder.

A resposta assimétrica à Guerra Híbrida empregada por um Poder Militar mais fraco frente um mais forte, em nível de Estado e Não Estado é “a capacidade de engajar de modo efetivo em diversas formas de guerra simultaneamente.”[7]

A defesa contra a Guerra Híbrida deve ser a dissuasão ou a negação ao conflito, desenvolvendo a capacidade de “defesa híbrida”, sendo de grande importância o uso do Poder Eficaz, isto é, o uso inteligente, eficaz e integrado do conjunto completo de ferramentas à disposição do Poder Nacional, e, ainda, a seleção da ferramenta ou da combinação de ferramentas adequadas para cada situação que se dispõe para enfrentar as ameaças híbridas.

Na Guerra Fria a violência era limitada aos conflitos por procuração. Na realidade do pós Guerra Fria a violência esta na Guerra Híbrida (Ex: Guerra da Síria).

6.         NO BRASIL.

O Brasil tem interesses globais na política, nas relações internacionais, e no comércio exterior, possuindo uma parceria estratégica, de longo prazo, com países pertencentes ao BRICS[8], que é vista por alguns Estados como uma ameaça[9] ao controle geoestratégico do mundo, enquanto algumas ações do grupo podem ser tomadas como hostis por outros Estados[10].

A política energética, a produção petrolífera, o comércio do agronegócio e as questões ambientais, por sua vez, incomodam outros Estados.

Deve-se ter a percepção que um Estado só desenvolverá uma Guerra Híbrida contra o Brasil se o nosso país estiver realizando ações e atos hostis aos seus interesses.

Ações de Guerra Híbrida poderão ser desenvolvidas por países e por atores sem vínculos com países, inclusive nacionais, para desestabilização e a degradação da máquina do Estado, visando à conquista do poder. A guerra Híbrida é uma Nova Via Violenta para a Tomada do Poder do pós Guerra Fria

7.         TEMAS QUE PODEM SER EXPLORADOS EM UMA CAMPANHA DE PREPARAÇÃO[11] PARA O DESENCADEAMENTO DE ATIVIDADES DE GUERRA HÍBRIDA VISANDO À TOMADA DO PODER:

Considerando que a Campanha terá por finalidade a desestabilização e a degradação da máquina do Estado antes do “golpe da força”.

No Campo Externo buscará legitimação e apoio:

– apresentando denuncias nos órgãos multilaterais (ONU, OEA, e etc.);

– junto a Nações ideologicamente amigas;

– oferecendo denuncias as instituições ligadas aos Direitos Humanos; e

– internacional através das redes sociais.

Campo Interno procurará:

– aproveitar o descontentamento real da sociedade com o momento político, social e econômico difícil;

– a criação de grupos reativos, ideológicos, e oportunistas ampliando a massa de manifestantes;

– explorar o Crime Organizado e a falta de segurança a deterioração drástica da situação é motivo para mudança;

– o apoio dos jovens: a cooptação precisa ser dirigida para os jovens em geral, não só para os estudantes universitários, e,

– na economia: a exploração da situação econômica do país e a necessidade de diminuir a desigualdade social.

8. PASSAGEM ÀS ATIVIDADES DE GUERRA HÍBRIDA: INÍCIO DA FASE VIOLENTA PARA A CONQUISTA DO PODER:[12]

No, Campo Externo[13]  prossegue na busca:

– do apoio internacional nas Instituições Multilaterais, nas Nações simpáticas ideologicamente, e nas denúncias às instituições ligadas aos Direitos Humanos.

– do apoio material,das Nações simpáticas ideologicamente,em especialistas em Guerra Irregular, Guerra em Rede[14] e Guerra Psicológica[15].

– do apoio material das Nações simpáticas ideologicamente em recursos militares (Armamento e munição).

No Campo Interno efetiva ou incrementa:

– o uso da experiência de conflitos semelhantes em outros países.[16]

– a utilização violenta de paramilitares, táticas terroristas, conexões com traficantes de drogas e criminosos, insurgência urbana, com a intenção de desestabilizar o governo, de desmoralizar as autoridades constituídas, os órgãos de segurança pública, e atemorizar a população.

– a busca da criação de mártir (manifestante morto ou ferido gravemente) para poder radicalizar o movimento;

– o uso, como massa de manobra, das organizações sociais, dos sindicatos, e dos estudantes universitários e secundaristas.··.

– a Guerra em Rede, a Guerra Psicológica Midiática [17], e o Letal Terrorismo Urbano.

9. CONCLUSÃO:

– Novas estratégias de Defesa do Estado Democrático de Direito.

– Inovação para a tomada do Poder de forma violenta.

– Mudança de foco dos conflitos com o surgimento da Guerra Híbrida.

– As atividades de Guerra Híbridas exercendo papel mais destacados nas questões de segurança internacional nos próximos anos.

 

 

Fontes de Consulta:

·     Foro de São Paulo prepara-se para o Combate

·     Guerra Híbrida no Contexto Brasileiro.

·     GUERRA HÍBRIDA, Nova via Violenta para a Tomada do Poder

·     Neo Terrorismo Urbano – Inteligência militar e policial se mobilizam

·    Guerra Híbrida – É a guerra de Putin. Seria a guerra do Maduro? Seria a guerra do Evo Morales?

·      A Guerra em Rede Social e a Situação Atual no Brasil.

·         Novo livro: Hybrid War ou Gibridnaya Voina? Conseguir o desafio militar não linear da Rússia” https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://inmoscowsshadows.wordpress.com/2016/11/28/new-report-hybrid-war-or-gibridnaya-voina-getting-russias-non-linear-military-challenge-right/&prev=search

 


[1] Livro Riqueza Revolucionária – O Significado da Riqueza no Futuro – Alvin e Heidi Toffler- pag 128.

[2] Reportagem: Entendendo a guerra híbrida: Uma análise explicativa, traz a definição de guerra, não guerra e tipos de guerra. Gen Valery Gerasimov – Chefe do Estado Maior da Federação da Russia.

[6] Frederico Aranha Advogado e Historiador

[7] Frank Hoffman.

[8] Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

[9] Três milhões de pessoas, quarenta e dois por cento da população mundial, e vinte por cento do produto interno bruto mundial.

 

[10] Por algumas razões, entre elas: o plano de realizar comércio e negócios em suas próprias moedas; a criação do banco de desenvolvimento dos BRICS; a declarada intenção de aumentar a integração na Eurásia.

 

[11] Visa à desagregação da máquina do Estado, antes do golpe de força,

[13] Conduzido sobre o tabuleiro de xadrez mundial. Em que o essencial da luta não se joga no terreno dos combates (Violência), mas fora dele.

 

[14 ] A Guerra em Rede pode ser composta por conflito travado contra um estado por terroristas, criminosos, ou por grupos militantes da sociedade civil – Guerra em Rede Social (GERS).

[15] A Guerra Psicológica Mediática é realizada por especialistas de guerra psicológica infiltrados na sociedade civil. Esses expert se aproveitam do fato mediático, obtido por intermédio do emprego planejado da propaganda e da ação psicológica, para direcionar a conduta das pessoas.

 

[16] No Brasil Tatiana Farah informa que: O Globo, 23/06/2013. Passe Livre se inspira em zapatistas do México. Jovens que iniciaram protestos no país trocam experiências com exército pacífico indígena de Chiapas. “SÃO PAULO "Abajo y a la izquierda está el corazón". A frase do subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional, do México, embala o discurso do Movimento do Passe Livre (MPL), que deu início às manifestações pelo país, forçando a queda no preço das tarifas de transporte público. "Abaixo" estão os grupos marginalizados e as minorias, que o MPL chama de "os de baixo". E "à esquerda", o discurso anticapitalista. Formado por universitários da USP e trabalhadores da periferia, o movimento se intitula anticapitalista, apartidário, pacífico, autônomo e horizontal

[17] É a ação psicológica orientada para direcionar a conduta social em massa.

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