Novo modelo para o pré-sal deveria ser revisto

No mundo empresarial existe a mística de que companhias petrolíferas, mesmo mal administradas, serão sempre um bom negócio. De fato, na lista das maiores empresas do planeta sempre aparecem muitas companhias petrolíferas, mas se trata de ilusão a ideia que o setor é, por natureza, sempre lucrativo. Afinal, constitui-se um segmento industrial de altíssimo risco, e o retorno de capital reflete esta característica. Quando o investimento é exitoso, os lucros são fantásticos. Mas quando o investimento se frustra, o prejuízo também pode ser enorme.

Uma parte do prejuízo bilionário contabilizado pela Petrobras no segundo trimestre é atribuído, por exemplo, ao insucesso na exploração, decorrente de vários poços secos ou sem valor comercial. E isso mesmo considerando-se um expressivo índice de acertos, passando de 80% em algumas áreas, bem acima da média da própria indústria. Parceiros da Petrobras em campos no pré-sal, como a BG e a Galp, também registraram prejuízo.

O elevado risco na exploração de petróleo justificou plenamente a abertura do mercado brasileiro em meados dos anos 90. A Petrobras hoje detém mais da metade dos blocos concedidos à exploração, porém, agora, disputa a atividade com cerca de outras 70 empresas, entre as quais dezenas delas com maioria de capital brasileiro.

Este modelo adequado para o Brasil sofreu um retrocesso quando o governo Lula se convenceu que havia encontrado "uma Venezuela" na camada do pré-sal. Sem dúvida houve descobertas animadoras, sendo a mais importante a do campo de Lula, já em produção, com reservas estimadas entre seis e nove bilhões de barris. No entanto, blocos vizinhos foram devolvidos por absoluto insucesso. Outros campos indicados como promissores foram cedidos à Petrobras, pela União, a título de integralização do aumento de capital da companhia.

Os investimentos que terão de ser feitos nas áreas concedidas e cedidas exigirão esforço hercúleo da Petrobras. Espera-se que sejam exitosos, mas não se pode desconsiderar a possibilidade de insucesso.

Não faz, então, o menor sentido que, diante de tamanho desafio, o governo tenha adotado um modelo para exploração de futuras áreas da camada do pré-sal que obriga a Petrobras a participar com pelo menos 30% dos consórcios concorrentes e ainda ser obrigatoriamente a companhia operadora do que sair vencedor da licitação.

As dificuldades que a Petrobras vem enfrentando para executar seu ambicioso plano de negócios mostram a necessidade de se rever essa tentativa de restabelecer um monopólio estatal ultrapassado e infrutífero. Para a própria Petrobras, o modelo instituído para exploração de novas áreas do pré-sal ainda não concedidas poderá se tornar um pesadelo.

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