Ucrânia: a teoria do caos

Vadim Fersovich

Os erros fatais das forças internas e externas que causaram a escalada das tensões na Ucrânia poderiam ser justificados se fosse um acontecimento único na história recente. Mas não é.

Nas últimas décadas, o Ocidente acumulou uma vasta experiência na facilitação da mudança de regimes “errados”. Por que é que então o apoio às forças da oposição ainda nunca levou a resultados positivos?

A resposta é a incompetência óbvia e negligência flagrante de todos os envolvidos. Todas as mudanças de regime na última década ocorreram sem exceção em países “difíceis”, com profundas convulsões econômicas, sociais, étnicas e religiosas. E os planos de ajuda a esses países eram elaborados por grupos de especialistas mais diversos, tanto oficiais – advogados, diplomatas e economistas, como não totalmente oficiais – espiões e militares. No entanto, os regimes mudavam mas os problemas não só não eram resolvidos, como pioravam.

Mas mesmo em caso de derrubada de ditaduras em países altamente instáveis, os erros de seus próprios planos não eram explicados de forma alguma. Assim, na quarta-feira o comandante do contingente ocidental no Afeganistão, general Joseph Dunford, disse que, se as forças internacionais se retirarem completamente do país no final de 2014, a Al-Qaeda poderá realizar desde lá outro ataque contra o Ocidente. Treze anos de ajuda e nenhum resultado!

Agora, tendo abandonado os “projetos” fracassados, o Ocidente está tentando ajudar a Ucrânia. Lá não há um conflito armado aberto nem um ditador agressivo. O alvo da derrubada, o presidente Yanukovich, seguia inquestionavelmente o conselho do vice-presidente dos EUA Joe Biden sobre “a necessidade de exercer a máxima contenção”.

No final de contas, recusando-se a lutar contra a oposição, ele até deixou o país. Todo o poder ficou nas mãos do “governo” leal ao Ocidente. Para uma vitória final e estabilização é precisa apenas a ajuda política e financeira prometida e conselhos de especialistas ocidentais sobre que erros não se podem cometer, e que medidas são absolutamente necessárias.

Tudo, como sabemos, aconteceu absolutamente ao contrário. Em vez de uma declaração de unidade do oeste e leste do país foi decidido revogar a lei sobre o estatuto da língua russa como regional. Como consequência, em vez de estabilização surgiu agitação no Sudeste e na Crimeia.

Além disso, nenhum dos conselheiros ocidentais aconselhou Kiev a acalmar os receios de Moscou sobre o destino de suas bases navais na Crimeia, onde estão 70% de toda a infraestrutura da Frota russa do mar Negro. As preocupações eram fundadas: todos os atuais dirigentes da Ucrânia, incluindo o “presidente” Alexander Turchinov, têm constantemente afirmado que a presença da Frota do mar Negro da Rússia em território ucraniano é contrário aos seus interesses nacionais. A oposição que agora chegou ao poder, em tempos afirmou diretamente que esse acordo de baseamento da Frota é contrário à Constituição da Ucrânia.

Para a Rússia era suficiente ter uma base naval em Sevastopol e excelentes relações com a população da Crimeia. Mas era possível prever a reação de Moscou a uma clara ameaça aos seus interesses? Como disse em entrevista à MSNBC o adido do antigo secretário de estado norte-americano Colin Powell, Lawrence Wilkerson, “Se eu fosse Putin, eu teria feito exatamente o que Putin fez, e quem diz que não podia prever isso – ou é tolo ou está mentindo”.

Palavras rudes, mas compreensíveis. No entanto, podemos não resistir à tentação e supor a existência no Ocidente de estratégias secretas de longo prazo. Mas só reconhecemos que seu objetivo é o caos.

 

A opinião do autor pode não coincidir com a opinião da redação Voz das Rússia
Texto e tradução: Voz da Rússia

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