Gen Santa Rosa – Descrença e Desencanto


DESCRENÇA E DESENCANTO

 Maynard Marques de Santa Rosa
Gen Ex R1

O momento psicológico que vivemos no Brasil parece contaminado pelo negativismo.  Com 13 milhões de pessoas desempregadas, uma insegurança que se reflete em 60 mil homicídios/ano e uma taxa de impunidade maior do que 95%, observamos a tendência preocupante de evasão do país pela classe média.
          
Até o momento, ressaltava a emigração dos venezuelanos em busca de vida melhor.  Agora, uma pesquisa atribuída ao Datafolha e divulgada na internet mostra que 62% dos brasileiros de 16 a 24 anos gostariam de sair do país; e que o número de brasileiros morando no exterior cresceu 3,5% nos últimos três anos e já ultrapassa os 2,5 milhões.
          
Em acréscimo, agrava-se a tendência de fuga de investimentos do setor produtivo para o mercado financeiro, o que mantém a economia estagnada e pode ser prenúncio de uma onda de evasão de capitais. A expectativa do curto prazo, com o setor público inadimplente e um déficit fiscal crescente, não é animadora.
          
O desânimo popular decorre da descrença nas instituições e do desencanto com o país. Como alento, lembremo-nos de que tudo passa com o tempo, como ocorreu nos anos 1980, tidos como a “década perdida”, em que a inflação de 1989 chegou a 1.782,9 %. Causada pelas crises do petróleo de 1973 e 1978, quando o Brasil importava 80 % do óleo que consumia, levou ao colapso do balanço de pagamentos. Atualmente, porém, o Brasil é autossuficiente. A causa do desajuste das contas é má gestão do setor público, um problema que tem solução.
          
A sociedade ainda não se recuperou dos três choques psicogênicos recentes – o escândalo da Operação Lava-Jato (2014), o impeachment de Dilma (2016) e a tentativa de golpe contra Temer (2017) –, que desregularam todo o mecanismo institucional. O Executivo entrou em anomia quase completa, após o caso JBS; o Legislativo passou ao estado catatônico, na expectativa da Op. Lava-Jato; e a dissintonia vertical do Judiciário remeteu-o a um estado esquizofrênico, que dificulta a pacificação das demandas, gerando mais insegurança jurídica. Assim desnorteado, chega o país às eleições de 2018.
         
 A penúria atual demonstra que o modelo vigente não mais atende aos anseios do povo. Acima de tudo, o Brasil está carente de esperança, fato que potencializa a relevância do processo eleitoral como vetor de mudança. É preciso que haja absoluta credibilidade em tudo, começando pela lisura das pesquisas e transparência dos procedimentos judiciais.
          
O atentado contra a vida do candidato portador da esperança da maioria, mais do que uma ignição de barbárie ou o desvario de um fanático, tem o peso de um conúbio ideológico. As claras evidências do complô atentam contra a hipótese do “lobo solitário”. Espera-se da autoridade investigadora uma resposta à altura da inteligência mediana.
         
Quanto à autoridade eleitoral, confia-se em que garanta ao povo brasileiro o direito de exercer livremente a sua soberania. A desconfiança irada pode ser conduzida ao desespero; e a falta de esperança pode ignizar uma convulsão.          

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