Titânio – Boeing, Airbus e Embraer em Guerra


Nelson Düring
Editor-chefe DefesaNet

 
Discretamente a partir do início da crise na Ucrânia, as empresas aeronáuticas americanas  Boeing e United Technologies Corp.(holding controladora da Turbinas Pratt&Whittney) começaram a estocar de forma acelerada peças produzidas em titânio de procedência de fornecedor russo.
 
Com o início das tensões entre Washington e Moscou os setores de logística das grandes empresas aeroespaciais americanas adiantaram suas encomendas de peças de titânio oriundas da Rússia.

O Wall Street Journal mencionou o assunto titânio, na sua edição do dia 08AGO14. Porém, o desdobramento de embargos a produtos russos poderá afetar “TODA” a indústria aeronáutica mundial.

A empresa russa VSMPO-Avisma, com participação acionária de Tecnologias Russas (ROSTEC), tem o monopólio na produção na Federação Russa de titânio e grandes peças forjadas neste material. A ROSTEC é  mesma empresa que controla o conglomerado de defesa Rososboronexport.

A Rússia controla cerca de 30 % do fornecimento mundial de titânio, e praticamente mais de 50% de peças forjadas de grande porte fornecidas à indústria aeronáutica mundial. O impacto atinge a todas as empresas, em maior ou menor escala. Veja a tabela estimativa:
 

Empresa Dependência do Titânio Russo
BOEING 35 % ( B787)
AIRBUS + 60% (A350)
EMBRAER 100%

 
 
 

 

A dependência tende a subir com as novas aeronaves BOEING B787 Dreamliner e o AIRBUS A350 e a nova geração de E-jet2 da EMBRAER.

O metal titânio é de especial importância para o novo BOEING B787 Dreamliner, representa cerca de 15% do peso da estrutura da aeronave.
 
As sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos à Federação da Rússia,  até o momento, focam os bancos e empresas de energia e defesa, contornando os fornecimentos de titânio russo para a indústria aeronáutica.

A maior empresa russa e do mundo fornecedora de titânio e peças forjadas neste metal é a russa VSMPO-Avisma.   A VSMPO é subsidiária do conglomerado estatal ROSTEC State Corp., que detém  cerca de 25% do capital, assim como golden share.
 
A ROSTEC é controlada diretamente pelo Kremlin e detém também o capital da Rosoboronexport, que controla cerca de 80% das exportações russas de defesa.

Quatro empresas controlam o fornecimento mundial em 90%, das cerca de 60.000 toneladas empregadas na indústria aeroespacial a cada ano. A VSMPO participa com cerca 30% do fornecimento mundial.

O restante é fornecido pelas empresas americanas: Allegheny Technologies Inc.,  RTI International Metals e RTI Titanium Metals Corp (uma divisão da Precision Castparts Corp.).

A VSMPO fornece cerca de 35% do titânio, em especial grandes peças forjadas, às aeronaves comerciais da Boeing.

A europeia  Airbus não trabalhou para ter uma reserva de peças de titânio de procedência russa como a Boeing. Embora dependa cerca de 60% do titânio de procedência russa (ver tabela).
 
Resistente à corrosão, calor e alto stress além de ser muito leve (pesando um pouco mais do que a metade do que o Aço). É o material básico para a indústria aeronáutica e de defesa
 
A Boeing e outras empresas americanas têm realizado acordos com empresas russas após o fim da Guerra Fria. A Boeing tem fornecido aeronaves comerciais a empresas russas  como a Aeroflot, abriu um centro de Engenharia em Moscou e tem um acordo com a VSMPO, desde 2007.

A Boeing afirmou recentemente que planeja uma segunda planta na região dos Urais, totalizando um investimentos de U$ 27 Bilhões, na Rússia, de 1991 a 2021, incluindo U$ 18 Bilhões em titânio.

A Boeing, segundo seu Board acredita que os grandes investimentos na Rússia "ajudaram" aos russos desistir da ideia de suspender o envio dos embarques para os Estados Unidos
 
O impacto da crise na Ucrânia traz um outro complicador na cadeia de fornecimento do titânio, já que a Ucrânia produz quase a totalidade dos concentrados necessários para que a VSMPO produza o metal titânio básico.
 
Durante todo o conflito a Ucrânia não interrompeu os embarques para a Rússia. Mesmo assim a VSMPO afirmou que tem um estoque suficiente dos concentrados. A empresa tem procurado alternativas no Vietnã, África e Austrália. (ver a matéria Ucrânia – O Indispensável Complexo Industrial Militar para Moscou Link)

EMBRAER
 
O acesso às matérias-primas críticas como titânio e ligas especiais de alumínio é de grande importância para a EMBRAER.
 
Uma das modificações mais sentidas na cadeia de fornecedores da EMBRAER foi que a gestão de acesso às matérias primas seria feita pelos fornecedores. Assim pelo novo programa seria paga a peça pronta, ficando ao fornecedor a obrigação de adquirir, importar, estocar e gerenciar a sucata da matéria-prima.  Usualmente estas matérias primas são adquiridas pelo sistema de importação draw-back (sem impostos de importação caso comprovada a exportação).
 
O impacto foi grande, no Cluster Aeronáutico de São José dos Campos, pois tirou da cadeia de fornecimento várias empresas, que não tinham capital e estrutura de gerenciamento para assumir este ônus.
 
O volume é significativo, pois a geração de sucata de titânio, em 2003, foi de 3,6 toneladas/mês. Lembrando que neste período o fluxo de produção da família EMB 170/190, ainda não estava à pleno.
 
Em 2005 a EMBRAER  escolheu a empresa VSMPO TiRus como a líderes em fornecimento de matéria prima.
 
A emprega gaúcha DIGICON que fabrica componentes de alta precisão para sistema de gerenciamento de ar condicionado dos Airbus A380 e Boeing B787 informou à DefesaNet, que tem obtido normalmente a liga de titânio, que necessita. Porém, tem acompanhado com atenção, as idas e vindas do cenário, informou o Diretor Peter Elbling à DefesaNet.
 
A produção de titânio no Brasil é mais focada em óxidos para a produção de tintas e revestimentos.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter