A mítica Kalashnikov sobra no arsenal

Víktor Litóvkin

O Ministério da Defesa não compra o mais famoso fuzil de assalto do mundo, a Kalashnikov, há 15 anos. Os estoques acumulados do armamento nas fábricas de procedência e nos depósitos de armas do Ministério da Defesa são grandes o suficiente para armar diversos exércitos com as mesmas dimensões do russo – isso para não dizer todos os exércitos do mundo.

A notícia foi confirmada há alguns dias pelo chefe do Estado Maior e vice-ministro da Defesa da Rússia, general Nikolai Makarov. “Os estoques de armas acumulados na Rússia, inclusive aqueles de fuzil Kalashnikov são dez vezes superiores às necessidades existentes”, disse o general, acrescentando ainda que as submetralhadoras em uso já não servem mais ao exército russo. 


A declaração causou verdadeira sensação. A AK-74, assim como a vodca, o cosmonauta Iúri Gagárin e o Kremlin, virou um símbolo nacional do país. O fuzil de assalto AK 47 é considerada hoje a mais confiável do mundo. Além de resistir a quaisquer condições meteorológicas, poeira, quedas em um pântano, lama ou areia sem perder capacidade operacional, basta lavar seu cano com um jato de água e a arma está pronta para agir de novo.

De fácil manejo, a arma não requer treinamentos prolongados, razão pela qual é muito popular em países africanos, asiáticos e latino-americanos, especialmente preferida por unidades paramilitares. 

Mas a Kalashnikov apresenta algumas desvantagens, dentre as quais seu baixo poder de fogo: apenas as duas primeiras balas de uma rajada atingem o alvo. As seguintes são dispersadas em leque.

Em um combate urbano rápido ou em um ataque em terra ao abrigo da artilharia, a arma é muito eficaz. No entanto, em um embate cara a cara, ou quando é necessário disparar tiros precisos contra atiradores ou lançadores de granadas, são preferíveis outras armas, como o An-94/Abakan, de Guennádi Nikonov, construída pela mesma fábrica, a Izmach, ou a AEK-971, fabricada pela Degtiariov. Ou ainda a silenciosa AC, de 9 mm, criada no centro de pesquisas de Klimovsk, na região de Moscou. A última, além de precisa, foi construída especialmente para a luta contra inimigos protegidos com coletes à prova de balas e pode ultrapassar uma placa de aço de até 5 mm de espessura, além de ser eficaz contra veículos não blindados.

Apesar da fama, portanto, a Rússia tem muitos armamentos superiores ao Kalashnikov. A An-94/Abakan e a AEK-971, de Aleksandr Konstantinov e Aleksêi Issakov, são mais complexas que a Kalashnikov e têm maior poder de fogo maior. A Abakan, por exemplo, pode atingir nas duas primeiras balas de uma rajada um alvo do tamanho de uma moeda, enquanto a AEK-971 lança, de uma só vez, três balas em um alvo do mesmo tamanho.

Caraterísticas técnicas

Soldados com várias guerras nas costas e entendedores de armas dizem que os novos fuzil de assalto superam em cerca de 10% os modelos antigos. O próprio Mikhail Kalashnikov está ciente disso, e quando a Gazeta Russa lhe pediu para comentar a notícia de que existem novas armas russas melhores que a AK, disse: “Eu sei, mas quando elas atingirem o nível de popularidade de minha arma, então conversamos”.

A popularidade da Kalashnikov é realmente inigualável. Em mais de 60 anos, a arma serviu de base para a criação de toda uma série de automáticas portáteis. Todas têm por base princípios e esquemas de funcionamento padronizados, facilitando o treinamento para uso e reparação. Como componentes de uma arma se encaixam facilmente em outra, o problema de abastecimento de peças de reposição fica resolvido em muitos casos. 

No conjunto de uma automática portátil Kalashnikov estão compreendidos um fuzil de assalto, um lançador de granadas acoplado sob o cano, equipamento de pontaria noturna e diurna, munições especiais, carregadores e uma baioneta, além de outros dispositivos acessórios. O princípio fundamental de todas as armas de Mikhail Kalashnikov é a simplicidade no manejo e a confiabilidade. 

As Abakan, AEK-971 e AC também são fornecidas ao exército e à marinha, mas em pequenas quantidades, e se destinam sobretudo a unidades especiais. Enquanto isso, os Kalashnikov têm demanda nos mercados internacionais de armas e são procuradas por dezenas de países, inclusive os EUA.
 

Números:

17.000.000
é o número de Kalashnikovs estocadas pelo exército russo no momento, segundo o Ministério da Defesa.

3.000.000
é a quantidade máxima de Kalashnikov de que precisa o exército russo.

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