MINUSCA – Militares brasileiros já se preparam para a próxima missão de paz na República Centro-Africana

Nelza Oliveira

Cobertura Especial DefesaNet

 

O Brasil ainda não confirmou oficialmente a participação na Missão Multidimensional das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA), mas o assunto foi discutido como certo por alguns palestrantes do Seminário Internacional “13 anos do Brasil na MINUSTAH: Lições aprendidas e novas perspectivas”, realizado nos dias 28 e 29 de novembro, no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC), na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. 

O convite da ONU para que o Brasil se juntasse à MINUSCA aconteceu oficialmente, no dia 22 de novembro, após o Conselho de Segurança aprovar o envio de mais 900 soldados da paz para proteger civis no país. O país afundou em 2013 em um violento conflito entre uma coalizão pró-muçulmana e milícias pré-cristãs. Mais de 600 mil pessoas foram deslocadas dentro do país e 500 mil fugiram para o exterior. Cerca de 2,4 milhões de pessoas, metade da população, dependem da ajuda humanitária internacional para sobreviver.

“Tudo depende de uma aprovação do poder político para que a tropa seja desdobrada. O nosso processo decisório é bastante extenso. Recebemos a consulta formal por meio da Missão do Brasil na ONU e o Ministério das relações Exteriores, que é protagonista nesse processo, e o Ministério da Defesa estão em estudo para levar ao presidente da República e daí para aprovação do Congresso Nacional”, afirmou o Contra-Almirante (FN) Rogério Ramos Lage, Subchefe de Operações de Paz do Ministério da Defesa no painel “O Brasil e o futuro das Operações de Paz após a MINUSTAH”.

“Já temos no Ministério da Defesa a constituição desse batalhão, a estrutura logística, custo, está sendo organizado e estudado para que tenhamos condições no menor tempo possível enviar um batalhão de 750 homens, que irá se juntar aos outros quase 12 mil militares lá”, continuou.

Mostrando que a preparação para isso já está em curso, o Almirante Lage apresentou uma série de slides com estudos sobre a situação política, social, econômica e dos conflitos no país onde está previsto a próxima missão brasileira.

“O país tem alto índice de pobreza, idioma francês, praticamente não se fala inglês, índice de desenvolvimento humano muito baixo e uma expectativa de vida de 45 / 51 anos, muito baixa. Inúmeras são as causas de conflito e grande crise humanitária. Pelo menos 30 anos de governo fraco e corrupto, grupos rebeldes são sintoma e não a causa dessa instabilidade”, afirmou o militar.

Exposição de viaturas dos Fuzileiros Navais

O Almirante disse que o fato de não haver incidência de terrorismo era uma boa notícia para o Brasil.

“Os grupos armados são bastante fracos, armamentos rudimentares. Embora existam indícios de armas como a AK-47, não é a maioria dos armamentos que está lá. Alguns grupos se reúnem, se separam, bastante dinâmico. O objetivo não é muito aspiração política, mas controle dos recursos naturais para obtenção de recursos financeiros”, explicou o Almirante.(Ver Nota DefesaNet abaixo)

Para ele, a logística é o grande desafio missão.

“Os 750 militares das três forças necessitam efetivamente de proteção blindada para a proteção de nossas tropas, mobilidade de deslocamento e instalações, que não podem ser fixas, têm que ser moveis. Necessitaremos alta suficiência e há grande preocupação com a evacuação”, disse o Almirante.

O Almirante Lage afirmou que o Brasil corre contra o tempo por conta das condições logísticas. O Brasil precisa confirmar se fará parte da MINUSCA até o final de janeiro e fazer o envio de tropas brasileiras até abril, antes do período de chuvas naquele país. Isso porque o índice pluviométrico local é muito alto, provocando péssimas condições nas estradas e pontes. O envio de tropas, equipamentos e suprimentos encaram três dias de viagem incluído avião, barco e estradas para chegar ao país africano. 

O Almirante porém está otimista e conta que a justificativa para o envio de tropas para a MINUSCA é a grande ligação histórica do Brasil com a África, o aprimoramento da doutrina e o fortalecimento da imagem do país perante a ONU e a comunidade internacional.

“Há a convicção muito grande que temos condições excelentes de participação na MINUSCA, de cumprir o mandato da missão apresentando alto desempenho em função da nossa capacidade e das lições aprendidas durante os 13 anos no Haiti”, acrescentou o Almirante.

O General-de-Divisão Ajax Porto Pinheiro, último Comandante da Força da MINUSTAH, foi mais cauteloso e alertou que a missão na África pode ser ainda mais perigosa e desafiadora do que foi a do Haiti.

“Nós temos que estar prepararados para a República Centro-Africana porque os nossos soldados vão morrer, a sociedade tem que estar preparada, as famílias têm que estar preparadas e nós temos que nos preparar para quando houver o primeiro fracasso porque nós não tivemos até agora. A preparação para a República Centro-Africana é de muito cuidado. Nós não podemos transformar esse sucesso de agora em armadilha. Temos que ter cuidado, temos que estar preparados”, disse o General.

Em dezembro (4), um capacete azul da Mauritânia morreu em uma emboscada no sul. No total, 14 soldados da ONU morreram no país este ano, até esta data 05DEZ2017.

Outra questão levantada foi o uso da força, conforme preconiza o capítulo 7 da Carta da ONU (Ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão). A previsão para a África é de uma missão considerada mais robusta.

“A possibilidade de atuação na África, República Centro-Africana, Congo e Sudão, onde seguramente existe a possibilidade de utilização da força, maiores riscos e o que ressalta muito a importância da preparação adequada em todos os níveis da nossa tropa. Nossas Forças Armadas hoje estão muito melhor preparadas para a utilização da força em operações de paz do que há 13 anos”, defendeu o Contra-Almirante (FN) Carlos Chagas Vianna Braga, Comandante do CIASC e Assistente do primeiro Force Commander MINUSTAH.

O Almirante Lage confirma que “é um mandato que reforça a proteção de civis, assim como a maioria dos mandatos, e que precisa de uma postura proativa energética dos contingentes que lá estão”.

O Seminário Internacional “13 anos do Brasil na MINUSTAH: Lições aprendidas e novas perspectivas” contou com a participação de quase mil inscritos e foi promovido pelo Ministério da Defesa, por meio da Marinha do Brasil, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), Academia Brasileira de Letras (ABL) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), reunindo militares das Forças Armadas, autoridades nacionais e internacionais e acadêmicos.

 Nota DefesaNet

A redação recebeu informações de operadores na África, que a região da República Centro Africana (RCA), tem vários grupos de mercenários incluindo chechenos, que trabalham para grupos islâmicos e garimpos ilegais. Sistemas MANPADS Igla também tem sido reportados assim como o comprovado uso de IEDs. Ver Comentário do representante da ONU abaixo.

‘In some places we have a peace to keep. Here we have no peace to keep. Groups are not only fighting each other, but they are fighting us. This place has become the most dangerous for peacekeepers – we lost [14 Update5thDec) just this year. It’s also the most dangerous place for humanitarian workers … It’s just a brutal war … It’s just inhumane,’ Parfait Onanga-Anyanga, MINUSCA head and the United Nations Secretary-General’s Special Representative to the CAR

The world’s most dangerous peacekeeping mission? ISS Institute for Security Studies – South Africa Link

 

Nota DefesaNet

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MINUSCA – Incerteza quanto à participação do Brasil Link

O Editor

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