Ucrânia quer lutar ‘até o fim’ na cidade sitiada de Mariupol

(AFP) A Ucrânia quer que seus últimos defensores em Mariupol lutem "até o fim", e não obedeçam ao ultimato feito pela Rússia, neste domingo (17), para que depusessem suas armas nesta estratégica cidade portuária do sudeste do país.

"A cidade não caiu. Nossas forças militares, nossos soldados ainda estão lá. Eles vão lutar até o fim", garantiu Denys Shmyhal, o primeiro-ministro ucraniano, em entrevista à emissora americana ABC.

As declarações do primeiro-ministro chegam depois de expirar o ultimato de Moscou, que pediu aos últimos soldados ucranianos entrincheirados em um enorme complexo metalúrgico em Mariupol que se rendessem e deixassem o local antes das 13h00 (07h00 em Brasília).

"Todos aqueles que abandonarem suas armas terão a garantia de salvar suas vidas […] É sua única chance", escreveu o ministério russo no Telegram.

Além disso, as forças russas anunciaram que bombardearam neste domingo outra fábrica militar nos arredores de Kiev, no momento de intensificação dos ataques em torno da capital ucraniana.

Mas os ataques de Moscou se concentram, sobretudo, no leste e no sul do país. A conquista de Mariupol, onde a situação é "desumana", segundo o presidente ucraniano Volodimir Zelensky, suporia uma importante vitória para Moscou.

Com 440.000 habitantes antes do início da guerra, Mariupol é o último obstáculo para a Rússia garantir seu controle na faixa marítima que vai dos territórios separatistas pró-russos de Donbass até a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

A Rússia garante ter controlado quase toda a cidade, algo que Shmyhal negou durante a entrevista para a ABC.

O presidente ucraniano assinalou que só havia "duas opções": o fornecimento de "todas as armas necessárias" dos países ocidentais para romper o longo cerco da cidade, ou "a via da negociação", na qual "o papel dos aliados deve ser igualmente decisivo".

Zelensky afirmou em uma entrevista à emissora americana CNN que convidou o presidente francês, Emmanuel Macron, a visitar à Ucrânia.

O objetivo da visita seria que Macron visse com seus próprios olhos que as forças russas estão cometendo um "genocídio", um termo que o líder francês tem se recusado a usar até agora, detalhou o governante ucraniano.

Putin 'acha que vai ganhar a guerra'

O papa Francisco fez um apelo neste domingo para "ouvir o grito de paz" nesta "Páscoa de guerra", e aludiu a uma "Ucrânia martirizada", em sua bênção "urbi et orbi" diante de 50.000 fiéis na Praça de São Pedro, em Roma.

Por outro lado, de acordo com o chanceler austríaco Karl Nehammer, que se reuniu com Vladimir Putin na segunda-feira em Moscou, o presidente russo acha que venceu a guerra desencadeada por sua invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro.

Shmyhal, o primeiro-ministro ucraniano, rechaçou as afirmações do líder russo e lembrou que "nenhuma só cidade grande" ucraniana havia caído.

Por sua parte, o chefe de governo italiano Mario Draghi lamentou neste domingo, em entrevista ao jornal Il Corriere della Sera, a aparente ineficácia do "diálogo" com Putin, observando que isso não impediu a continuidade do "horror" na Ucrânia.

A criação de corredores humanitários em algumas regiões continua sendo um quebra-cabeça. As autoridades ucranianas informaram hoje que a falta de um acordo com os russos para um cessar-fogo suspenderá, por ora, a evacuação de civis do leste do país.

"Esta manhã, não conseguimos negociar um cessar-fogo nas rotas de evacuação com os ocupantes [russos]. Por esta razão, infelizmente, não vamos abrir hoje os corredores humanitários", escreveu a vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk no Telegram.

A líder indicou que as autoridades estão fazendo todo o possível para reabrir os corredores humanitários "o mais rápido possível". Vereshchuk também exigiu a abertura de uma estrada para evacuar soldados feridos na cidade de Mariupol.

Redirecionar a campanha

Embora tenha redirecionado sua campanha militar para o leste e para o sul, a Rússia voltou a bombardear a capital nos últimos dias após o naufrágio de seu navio no Mar Negro, o cruzador Moskva, que a Ucrânia afirma ter atingido com mísseis Neptune.

Moscou nega essa versão e atribui o naufrágio a um incêndio causado por uma explosão de munição a bordo.

O ataque deste domingo a uma fábrica militar perto de Kiev foi precedido na sexta-feira pelo bombardeio de uma fábrica também perto da capital, onde os mísseis Neptune foram produzidos.

No leste, onde é esperada a próxima grande batalha desta guerra, uma série de ataques deixou cinco mortos e 20 feridos em Kharkiv, a segunda maior cidade do país.

"Sabe quando um cachorro ouve um 'bum' e começa a tremer, mesmo que o barulho esteja longe? Eu estou assim agora", conta Zinaida Nestrizhenko, de 69 anos, encolhida com seu gato ao lado de uma estrada em Kharkiv.

O Ministério da Defesa russo, por sua vez, disse hoje que "mísseis de alta precisão destruíram depósitos de combustível e munições" em Barvinkove (região de Izyum) e Dobropillia (região de Donetsk), também no leste.

E nos arredores de Luhansk, "o bombardeio constante da região continua", disse neste domingo o governador ucraniano, Sergei Gaidai.

Na localidade de Zolote, "atacaram deliberadamente um edifício de cinco andares […] duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas", acrescentou.

Embora não estejam diretamente envolvidos no conflito, os membros da Otan forneceram amplo apoio de armas à Ucrânia, que aumenta na medida em que a guerra avança.

A Rússia alertou, em uma nota diplomática, os Estados Unidos contra o envio de armas "mais sensíveis" para a Ucrânia, que colocam "gasolina no fogo" e podem provocar "consequências imprevisíveis", segundo o jornal The Washington Post.

Cerca de 5 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde 24 de fevereiro, segundo a ONU, que diz que mais 40.200 refugiados deixaram o país nas últimas 24 horas.

Soldados ucranianos resistem em Mariupol, ponto estratégico para Rússia

Soldados ucranianos resistiram neste domingo a um ultimato russo para rendição na já bastante danificada cidade portuária de Mariupol, que Moscou alega ter sido tomada pelas forças de seu país no que seria o maior prêmio de guerra em quase dois meses de conflito.

O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, disse que as tropas em Mariupol ainda estão lutando, apesar da exigência russa de se render ao amanhecer.

"A cidade ainda não caiu", disse ele ao programa "This Week", da ABC, acrescentando que os soldados ucranianos continuam controlando algumas partes da cidade.

A Rússia disse no sábado que tinha o controle de partes urbanas da cidade, com alguns combatentes ucranianos permanecendo na siderúrgica Azovstal, com vista para o Mar de Azov.

Capturar Mariupol, o principal porto da região de Donbas, no sudeste ucraniano, seria um prêmio estratégico para a Rússia, que assim conectaria o território ocupado por separatistas pró-Rússia no leste com a região da Crimeia anexada por Moscou em 2014.

Depois de não conseguir superar a resistência ucraniana no norte, os militares russos reorientaram sua ofensiva terrestre em Donbass, mantendo ataques de longa distância em outros lugares, incluindo na capital, Kiev.

Zelensky: 'Eliminação' dos últimos soldados ucranianos em Mariupol acabaria com as negociações com a Rússia

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, alertou neste sábado (16) que "a eliminação" de soldados ucranianos em Mariupol, cidade sitiada pela Rússia, "acabaria com qualquer negociação de paz" com Moscou.

"A eliminação de nossos militares, de nossos homens [em Mariupol] acabará com qualquer negociação" de paz entre Rússia e Ucrânia, declarou Zelensky durante entrevista ao site Ukraïnska Pravda, na qual também advertiu que ambas as partes se encontrariam em um "beco sem saída".

Em termos de mortes, "Mariupol pode ser dez vezes Borodianka", uma pequena cidade ucraniana perto de Kiev atacada e destruída por soldados russos, disse Zelensky.

"Quanto mais [casos como] Borodianka forem apresentados, mais difícil será" negociar, frisou.

"Para ser honesto, não temos nenhuma confiança nas negociações sobre Mariupol", destacou Zelensky.

Depois que o exército ucraniano anunciou, em 11 de abril, que se preparava para uma "última batalha" nesta cidade do sudeste, o presidente da Ucrânia reconheceu uma "situação muito difícil".

"Nossos soldados estão cercados e, apesar de tudo, continuam se defendendo", disse.

“Isso significa morte para alguns de nós e cativeiro para outros”, postou a 36ª Brigada de Fuzileiros Navais no Facebook.

No dia seguinte, as autoridades ucranianas disseram que os combates deixaram entre 20.000 e 22.000 mortos em Mariupol, uma cidade estratégica onde 441.000 pessoas viviam em tempos de paz.

Quarenta dias após ter começado, os combates agora se concentram na vasta área industrial de Mariupol, perto do mar de Azov.

O "contato" é mantido com a forças ucranianas no local, afirmou Zelensky.

"É uma crise humanitária, não há alimentos, água ou medicamentos", acrescentou, acusando a Rússia de "rejeitar" a criação de corredores humanitários.

As negociações estão paralisadas há vários dias. Estão "extremamente difíceis", admitiu na terça-feira um conselheiro da presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak.

O presidente russo Vladimir Putin, por sua vez, acusou os negociadores ucranianos de "falta de coerência".

Neste sábado, Zelensky afirmou querer um tratado de paz com Moscou que consista em "dois documentos separados".

"Um deles será sobre as garantias de segurança para a Ucrânia e o outro será diretamente dedicado a suas relações com a Rússia", acrescentou.

Rússia diz que todas as áreas urbanas de Mariupol estão sem forças ucranianas

(Reuters) – O Ministério da Defesa russo anunciou neste sábado que liberou toda a área urbana de Mariupol das forças ucranianas e disse que apenas alguns combatentes permanecem na siderúrgica Azovstal, palco de repetidos confrontos.

Em uma publicação online, o ministério disse que até 16 de abril as forças ucranianas na cidade portuária sitiada haviam perdido mais de 4 mil pessoas.

Os combatentes russos tentam há várias semanas tomar o porto, que fica no Mar de Azov, a nordeste do Mar Negro.

"Toda a área urbana de Mariupol foi completamente liberada… os remanescentes do grupo ucraniano estão completamente bloqueados no território da usina metalúrgica Azovstal", disse o ministério.

"A única chance de eles salvarem suas vidas é abaixar voluntariamente suas armas e se render."

Não houve reação imediata de Kiev à declaração do ministério russo, que também disse que 1.464 militares ucranianos se renderam até agora.

Rússia faz ultimato a soldados ucranianos em Mariupol para que se rendam

A Rússia fez um ultimato neste domingo (17) para que os últimos soldados ucranianos que resistem em Mariupol se rendam e entreguem as armas. Moscou afirma controlar a maior parte da cidade, após semanas de combates.

“Todos os que abandonarem as armas terão a garantia de ter as vidas salvas”, afirmou o Ministério russo da Defesa no Telegram. “É a única chance de vocês”, ameaçou. De acordo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em um vídeo divulgado em redes sociais na noite de sábado (16), a situação em Mariupol é “desumana”.

Zelensky reiterou o pedido para que os países ocidentais forneçam “imediatamente” armas pesadas para reduzir a pressão russa sobre a cidade. Em entrevista a um site de notícias, o presidente ucraniano afirmou que "a eliminação" de soldados ucranianos em Mariupol, "acabaria com qualquer negociação de paz" com Moscou.

A conquista da cidade seria uma vitória importante para os russos porque permitiria consolidar os ganhos territoriais de Moscou nas costas do Mar de Azov, que liga a região do Donbass à Crimeia, anexada à Rússia em 2014.

As negociações entre a Rússia e a Ucrânia estão paralisadas há vários dias e chegaram a um ponto extremamente difícil, de acordo com representantes ucranianos. Já o presidente russo, Vladimir Putin, acusou Kiev de falta de coerência. O exército russo também anunciou ter bombardeado e destruído, neste domingo, outra fábrica de armamentos ucraniana nas proximidades de Brovary, subúrbio de Kiev.

Suspensão de corredores humanitários

As autoridades ucranianas anunciaram neste domingo a suspensão de corredores humanitários para evacuação de civis no leste do país. A decisão foi tomada, segundo a vice-primeira ministra da Ucrânia, Iryna Verechtchouk, por falta de acordo com Moscou sobre um cessar-fogo.

A vice-premiê declarou nas redes sociais que todos os esforços estão sendo feitos para reabrir os corredores humanitários o mais rápido possível. Verechtchouck também pediu a abertura de uma via de evacuação para os militares feridos na cidade de Mariupol.

De acordo com o diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA), David Beasley, mais de 100.000 civis sofrem com a falta de comida, água, eletricidade e aquecimento em Mariupol. (Com informações de agências de notícias)

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