Exclusivo – DefesaNet entrevista a Vice-Ministra da Defesa da Ucrânia Hanna Maliar

Hanna Maliar – “A civilização ocidental moderna não está protegida da barbárie medieval”

 

Exclusivo – DefesaNet entrevista a Vice-Ministra da Defesa da Ucrânia Hanna Maliar

 

Text in English – Exclusive – DefesaNet interview the Deputy Minister of Defense of Ukraine Hanna Maliar

 

Entre inúmeras reuniões com delegações estrangeiras vsitando a Ucrânia e aompanhamento  à linha de frente a Vice-ministra da Defesa da Ucrânia Hanna Maliar respondeu uma série de perguntas de DefesaNet sobre a situação do conflito na Ucrânia.

Recomendamos a leitura do currículo da Professora e Advogada Hanna Maliar e a sua preparação para assumir o Viice-Minstério da Defesa neste momento crucial da história Ucraniana.

Mostra que a Ucrânia, luta tanto enfrentando as forças militares russas, mas também no cenário diplomático com pessoas qualificadas.

DefesaNet:   A invasão russa na Ucrânia é a maior e mais perigosa violação da Lei Internacional desde a Segunda Guerra Mundial. Como a Ucrânia vê os países que ainda não entendem a situação e os perigos que essa guerra impõe à segurança internacional?

MD Maliar: Para muitos países era muito dificil de acreditar numa guerra de uma escala tão grande, que no século 21 os mísseis poderiam ser enviados para o centro de um Estado europeu. E é por isso que entendemos aqueles países que simplesmente não conseguiam acreditar no começo. Mas dois meses de nossa luta mostram que a Rússia não vai parar no território da Ucrânia, mas vai usar esta situação para seguir para a Europa. E achamos que agora os países que não acreditavam nisso – entenderam plenamente a situação.

DefesaNet: As Forças Armadas e a sociedade ucraniana mostraram forte resistência aos ataques russos impondo uma série de derrotas, muitas vezes humilhando os russos no campo de batalha. Qual é o ponto do sucesso militar da Ucrânia?

MD Maliar: Se você comparar os exércitos russo e ucraniano, realmente há diferenças entre eles. O exército russo supera significativamente em quantidade de militares e quantidade dos armamentos. Ao mesmo tempo, o exército ucraniano está bem mais preparado. Nosso comando militar usa estratégias intelectuais modernas de planejamento de combate. Mas devo dizer que a Rússia é um inimigo forte.

E isso pode ser visto pelo número dos mísseis disparados contra a Ucrânia – quase 2.000 mísseis. É claro que a Rússia tem um enorme estoque de armas, e este é o seu ponto forte. A chave do sucesso ucraniano é que estamos fazendo uma guerra justa e estamos defendendo nosso território, ao contrário da Rússia, que está fazendo uma guerra criminosa e está atacando um país independente.

DefesaNet: O apoio internacional à Ucrânia através das sanções econômicas e a entrega de equipamento militar tem sido fundamental para sustentar essa luta. O que a Ucrânia ainda precisa em termos de equipamentos militares neste momento?

MD Maliar: A Ucrânia precisa de armas pesadas para fazer a guerra. Armas antitanque são necessárias e meios de defesa aérea. Mas toda a lista que precisamos é secreta e nós a repassamos para outros países por meio de nossos canais diplomáticos. Para que a Ucrânia ganhe esta guerra e para que a Rússia não avance mais na Europa, precisamos mesmo é de armas.

DefesaNet: O Presidente Zelenski, ex-ator e showman, tornou-se um verdadeiro estadista, sendo um dos líderes mundiais mais respeitados da atualidade. Mesmo sem uma experiência política, ele liderou o país na guerra diante de uma ameaça existencial. Qual é o principal fator de sucesso de Zelenskyi que está sendo essencial para condução desta guerra?

MD Maliar: O Presidente Zelenski já tem experiência, ele está liderando um país em estado de guerra há três anos. Ele chegou ao poder quando já tínhamos uma guerra, apenas de outra escala. A segunda coisa é a força de seu caráter, ele realmente é um homem muito forte e corajoso. E com seu próprio exemplo ele mostrou aos ucranianos que nós nunca desistiremos. Ou seja, ele é um verdadeiro líder que lidera a nação.

DefesaNet: Brasil e Ucrânia têm laços históricos muito profundos. De qual forma o Brasil poderia contribuir para a resolução da guerra na Ucrânia?

MD Maliar: Nós realmente precisamos de ajuda política de todos os países do mundo e ajuda com armamentos. Países como a Rússia devem ser isolados dos processos econômicos e políticos internacionais normais. E se todos os países do mundo não condenarem a Rússia agora, será um sinal de que isso é possível, e haverá mais casos como a guerra na Ucrânia.

DefesaNet: Recentemente, o ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, culpou Zelenski pela guerra. Enquanto Bolsonaro, o atual presidente do Brasil, é neutro, mas ainda mantém algumas relaçôes com o presidente russo Vladimir Putin. Como a Ucrânia vê a política brasileira em relação à guerra russo-ucraniana?

MD Maliar: O Ministério da Defesa não pode comentar sobre isso, apenas o Ministério das Relações Exteriores.

DefesaNet: A Ucrânia está lutando pela liberdade e a democracia. Quais lições seu país pode dar para o resto do mundo?

MD Maliar: Nossa guerra mostra ao mundo a fraqueza dos sistemas internacionais de segurança. E seria bom se, como resultado de nossa guerra, o mundo criasse um novo modelo de defesa coletiva que realmente acabasse com as guerras no mundo. A Ucrânia é realmente muito menor que a Rússia, e neste caso é muito importante que os sistemas de defesa coletiva funcionem aqui.

Nossa guerra mostra ao mundo que a civilização ocidental moderna não está protegida da barbárie medieval. Portanto, desenvolvendo os valores dos direitos humanos e da igualdade, o mundo ainda deve entender que ao mesmo tempo deve ser forte.

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A Vice-Ministra de Defesa Hanna Maliar acompanhando as ações da linha de frente contra as forças russas.

 

Currículo de Hanna Maliar

– Hanna Maliar nasceu em 1978 em Kiev.

– Ensino superior. Em 2000 ela se formou no Instituto Internacional de Linguística e Direito.

– De 2000 a 2010, ela ocupou o cargo de conferencista ao Vice-Diretor do Instituto de Direito, Professora Associada da Universidade Internacional de Kiev.

– Em 2007 recebeu um certificado do direito de exercer advocacia.

– Em 2010 tornou-se candidata a Ciências Jurídicas. Interesses de investigação: crimes contra os fundamentos da segurança nacional, crimes contra a paz, segurança da humanidade e direito internacional, comunicações estratégicas numa guerra híbrida. Desde 2010, ela trabalha no Instituto Estadual de Pesquisas das Alfândegas como Chefe Adjunta do Departamento de Problemas Jurídicos das Alfândegas. É conselheira do serviço aduaneiro de 3º escalão.

– De 2013 a 2020, lecionou na Escola Nacional de Juízes da Ucrânia no campo da qualificação do direito penal de guerra agressiva e outros crimes cometidos na zona de guerra. Hanna Maliar também desenvolveu o conceito de avaliação legal de eventos na Crimeia e no leste da Ucrânia, que é usado na prática investigativa e judicial.

– Desde 2018 é coach das divisões de segurança e defesa na especialização em comunicações estratégicas — “Operações de informação como elemento de crimes que invadem a segurança e a paz nacionais. Identificação e eliminação de tecnologias de informação de influência que ameacem a segurança nacional”).

– Ela foi treinada em negociações em conflitos armados e recebeu um certificado do Instituto Holandês de Relações Internacionais “Clingendael”. Desde 2020, ela é consultora freelancer do Comitê Verkhovna Rada de Segurança Nacional, Defesa Inteligência.

– Hanna Maliar é autora de mais de 40 artigos científicos e também coautora de projetos de lei.

– Ela é casada e tem um filho.

A Vice-Ministra Hanna Maliar recebendo parlamentares Ingleses e da Escócia.

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