O governo brasileiro prioriza “aliança com um agressor”? 

Ricardo Fan – DefesaNet

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recentemente acusou o governo brasileiro de priorizar uma “aliança com um agressor”, referindo-se à Rússia, liderada pelo presidente Vladimir Putin. Essa declaração gerou tensões diplomáticas e levantou questões sobre a postura do Brasil diante do conflito na Ucrânia.

Contexto e Cobranças

Zelensky tem cobrado publicamente um posicionamento mais firme do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde que o petista assumiu o governo. O Itamaraty, por sua vez, tem mantido uma postura de “neutralidade”, pedindo uma “solução pelo diálogo” e evitando tomar partido na guerra entre os dois países.

O Papel do Brasil nas Negociações

O governo ucraniano enxerga o Brasil como um mediador crucial nas negociações devido à sua proximidade diplomática com a Rússia. No entanto, Zelensky questiona os motivos pelos quais Lula não condena Putin com mais veemência. Ele argumenta que, em tempos de guerra, valores humanitários, como a vida e a paz, devem prevalecer sobre interesses comerciais e econômicos.

Em janeiro de 2023 Lula e Zelensky tiveram um encontro reservado em Nova Iorque (EUA) – Foto: Ricardo Stuckert/PR

A dúbia posição do atual governo brasileiro em favor da paz

postura do Brasil em relação à Ucrânia e a Israel tem sido objeto de debate e análise, especialmente considerando os conflitos recentes. Vamos examinar essas duas situações:

Ucrânia:

  • O Brasil tem mantido uma posição dúbia em relação ao conflito na Ucrânia. O governo brasileiro não se envolveu diretamente no conflito, mas porém adotou uma postura (não oficial) pró Rússia.
  • O apoio militar à Ucrânia tem sido uma questão delicada. Enquanto a base democrata de Joe Biden tem apoiado consistentemente o envio de auxílio militar, a parte da oposição republicana pede a diminuição ou o fim dessas remessas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recusou, em janeiro, um pedido da Alemanha para enviar munições de tanques de guerra à Ucrânia. O Brasil justificou essa decisão afirmando que é um “país de paz”.  
  • A compra de diesel russo pelo Brasil teve um aumento significativo em 2023. Enquanto as economias do G7 buscam medidas para asfixiar a economia russa e cortar possibilidades de financiamento da guerra, o comércio de diesel entre Rússia e Brasil explodiu. Nos primeiros sete meses de 2023, Moscou vendeu para o Brasil US$ 1,49 bilhão em diesel, quase o dobro de toda a exportação brasileira para o mercado russo. Essa compra de diesel russo tem impacto na balança comercial brasileira, e o déficit do país com os russos aumentou.
  • Recusa pelo governo brasileiro para a venda de viaturas VBTP MSR 6×6 GUARANI ao governo da Ucrania – No dia 27 de abril, o Governo da Ucrânia, por meio de seu Gabinete de Adidância da Defesa junto à Embaixada da Ucrânia, protocolou junto ao Ministério da Defesa do Brasil uma solicitação de exportação das viaturas blindadas 6X6 Guarani para emergência humanitária. Nesse documento, endereçado ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, a Ucrânia solicitou a aquisição de até 450 viaturas Guarani, na versão ambulância. Essas viaturas seriam destinadas ao Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia (Derzhavna sluzhba Ukrayiny z nadzvychaynykh sytuatsi) e seriam pintadas nas cores laranja e amarelo. Elas teriam como finalidade a evacuação de civis das zonas de conflito e o transporte de feridos das áreas de combate até os hospitais. A Ucrânia está enfrentando uma ameaça existencial desde fevereiro de 2022, após ter seu território invadido pela Federação Russa. Para o Brasil, essa venda seria de grande importância, pois garantiria o desenvolvimento da versão ambulância (sem ônus para o Exército Brasileiro), permitiria ampliar a linha de produção da IDV (Iveco) em Sete Lagoas/MG (gerando mais empregos) e possibilitaria que os royalties fossem revertidos para o desenvolvimento de outras versões, tão necessárias para a Força Terrestre. Além disso, a Ucrânia estava disposta a adquirir a viatura com um novo sistema de comando e controle (C2) nacional, aumentando ainda mais a participação da base industrial de defesa brasileira. Essa foi uma oportunidade que não poderia ser perdida, pois daria grande visibilidade aos produtos da indústria brasileira e mostrar as boas intenções do governo brasileiro em relação à proteção e ao direito internacional dos cidadãos. A negativa do Itamaraty compromete a imagem do Brasil perante a opinião pública mundial, visto que não se trata apenas da venda de um sistema de armas, mas sim de um equipamento para proteger a vida da população ucraniana
  • A Rússia tem sido criticada por potenciais crimes de guerra, como o ocorrido na cidade de Bucha, mas o governo Lula ignora deliberadamente. Em 2023, o presidente Lula investiu, sem sucesso, em tentativas de atuar como mediador em um diálogo entre a Ucrânia e a Rússia para pôr fim à guerra. Durante uma viagem à China e aos Emirados Árabes, Lula declarou que a Ucrânia também tinha responsabilidade pelo conflito, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia contribuíam para a continuidade das hostilidades. Em meio a críticas internacionais, Lula suavizou seu discurso, enfatizando que não equiparava a Rússia e a Ucrânia e defendendo a integridade territorial ucraniana. O governo brasileiro acredita que as negociações de paz devem envolver a participação de russos e ucranianos.

Israel:

  • O Brasil não classifica o Hamas como um grupo terrorista, diferentemente de outros países. Nações como China, Rússia, Turquia, Irã e Noruega também não adotam essa classificação, evocando o princípio da neutralidade e atuando como mediadores em conflitos. A postura atual do governo brasileiro, especialmente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em relação a Israel, tem sido marcada por tensões diplomáticas. Em fevereiro de 2024, o governo de Israel considerou Lula como “persona non grata” após ele comparar a resposta israelense aos ataques do Hamas com o genocídio de judeus pelos nazistas. Essa declaração gerou uma crise diplomática e resultou na retirada do embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, do cargo. Além disso, Israel expôs o diplomata no museu do Holocausto, o que foi visto como uma forma de humilhação ao Brasil. A relação entre os dois países desceu mais um degrau, e a oficialização da retirada do embaixador ocorreu em maio de 2024. 
  • O governo brasileiro tem buscado aprovar uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito entre Israel e o Hamas. Essa resolução visa diminuir a temperatura do conflito e tem enfrentado resistência de potências como Estados Unidos, Rússia e China.

Em resumo, a postura do Brasil em relação a esses conflitos é complexa e envolve considerações diplomáticas, comerciais e de equilíbrio. Porém deixa claro a “leve” preferência pelos agressores.

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