F/A-18 – Agora sim, o Voo – Parte 1

Agora sim, o voo – Parte 1

 Vianney Jr.

           
Manhã de terça-feira, 06:30h do dia 20 de março de 2012. Já de posse do Clearance Notice da NAVMED – Navy Medicine Operational Training Center (autorização aeromédica) e do grau “Q” – Qualified, do NASTP Training for Class 1 Aircraft, apresentamo-nos no VFA-106 Gladiators, na Estação Aeronaval de Oceana para o briefing. Detalhe meteorológico importante: mesmo sendo um caça fartamente provado em todas as condições de tempo, não era bem o cenário que esperávamos (vide foto) para um voo de avaliação das capacidades do F/A-18F, até mesmo porque os dias anteriores tinham sido praticamente CAVOK (termo aeronáutico para teto > 5.000 pés, visibilidade > 10 km e nenhum fenômeno de tempo significativo, ou seja, tudo ok).

Vista panorâmica da pista da NAS Oceana na manhã do vôo
 

Assim, com tudo preparado para a missão, ficamos de olho no LCD da Ready Room, que exibia imagens de satélite ao vivo juntamente com previsões atualizadas instantaneamente. Torcendo para que o sol, aquecendo o solo, ajudasse a dissipar o fog que tomara conta da Base naquela manhã, passávamos o tempo entre piadas, comentários técnicos e papo descontraído que foi das possibilidades de parceria entre Brasil e Estados Unidos até o cancelamento da compra dos Super Tucanos. Tudo regado a muitas canecas de “chafé”. O nome que melhor define o café que se costuma beber na América.      

Por volta de 10:30h, sinal verde para a decolagem. Já havia recebido durante o briefing com o Lt CDR Tommy “Schmoopy” Poulter, o plano de nosso voo, cuja sequência nos permitiria avaliar tanto as características aerodinâmicas e de controle fly-by-wire do F/A-18F, como também sistemas de radar e armas. No aspecto análise do envelope operacional, fomos além do previsto e ensaiamos até algumas manobras que não constam nos manuais de BFM (Basic Fighter Maneuvers). As que ficam guardadas na manga e que cada piloto desenvolve com um toque personalizado para virar a mesa em um eventual dogfight. Neste particular, algo bem comum aos bons pilotos de verdade: Schmoopy em terra firme é um boa praça de voz e gestos calmos. De tão gente boa, certas vezes até aparenta uma leve timidez, apesar do callsign (pesquisem se quiserem entender o que quero dizer), mas lá em cima o cara mostra sua verdadeira personalidade. Muita agressividade, precisão, uma visão de invejar (ele conseguiu desviar de um pássaro quando estávamos a uns 150 pés iniciando a corrida para ingresso em baixa altura para um ataque Pop-up – tática de ataque ar-solo cujo elemento principal é a surpresa) e muitas “cartas” na manga. Enfim, pra resumir suas qualificações eu poderia fazer minhas as palavras de Iceman para Maverick: “You can be my wingman anytime”. Mesmo com o risco de receber a resposta dada em Top Gun: “Bullshit…”.

Mas, vamos por partes. Afinal, imagino ser importante descrever tudo em detalhes. Do briefing fomos nos equipar, e aqui fica novamente o registro de dois aspectos fundamentais na segurança de voo e preservação da integridade dos pilotos: O preparo da equipe técnica de assistência e a qualidade dos equipamentos. Os novos modelos de máscara de oxigênio, colete operacional e modelo de fivelas de amarração (que prendem o piloto ao assento e consequentemente ao paraquedas) demonstram o constante compromisso com a operacionalidade, desempenho e aumento de fatores de sobrevivência. Uma vez equipados, nos dirigimos à linha de voo e recebemos o avião de uma encarregada de manutenção (viva a força – e competência – feminina!) que, pela forma de reporte de entrega, nos transmitia a segurança propiciada por um bom preparo e aprofundado conhecimento da máquina sob sua responsabilidade.
        
Durante a inspeção de pré-voo, Schmoopy ainda teve tempo de comentar particularidades da impressionante airframe do F/A-18F, AD 234, que em instantes voaríamos. Desde superfícies móveis, intakes e defletores de ar das turbinas, articulações do robusto trem de pouso (é um capítulo a parte, falo mais durante o pouso), posicionamento de antenas e sensores, dispensers de contramedidas (chaffs e flares), nacele do M61A2 (eu até propus armá-lo, para termos uma avaliação mais “molhada”) e setup do sistema de armas, que é programado ainda em solo.
           
Depois de “vestirmos” o Super Hornet, que tem um cockpit feito para big pilots Americanos, me senti extremamente confortável do alto de meus 1,73m e 65kg. Eram 11:00h, a temperatura era de 17ºC, umidade relativa de 88%, pressão na estação de 1024.3hPa, visibilidade de 6,4km e o vento soprava de Leste com velocidade de 11,1 km/h. Ah, e o céu um pouquinho melhor do que na foto.


 

Continuação próxima


Parte o F/A-18 F AD 234 Super Hornet II , com o Lt CDR Tommy “Schmoopy” Poulter 
e o correspondente de DefesaNet Vianney Jr.  Foto – DefesaNet

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