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Exército do Peru se moderniza para enfrentar as ameaças assimétricas e o narcotráfico

Marcos Ommati

O próprio presidente do Peru, Ollanta Humala, reconhece que nos últimos anos uma velha ameaça – que muitos consideravam extinta – voltou: o Sendero Luminoso, grupo terrorista cujo objetivo original na década de 80 era substituir o governo com o uso da violência. Segundo relatos do governo peruano, há centenas – talvez milhares – de rebeldes senderistas centralizados na região do Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM) para dar proteção aos narcotraficantes locais e fabricar cocaína na região.

Para falar sobre esse desafio, sobre o combate aos narcoterroristas do Sendero Luminoso e outros temas, Diálogo visitou o comandante geral do Exército do Peru, em Lima, o General-de-Exército Ricardo Moncada Novoa, que até 2010 foi comandante geral do Exército para a região do VRAEM, além de comandante geral do Comando de Inteligência de Operações Especiais Conjuntas e inspetor-geral do Exército.

Diálogo: Houve alguma mudança no preparo dos futuros oficiais do Exército do Peru em consequência do novo papel das Forças Armadas na luta contra as ameaças assimétricas e o narcotráfico?

General Ricardo Moncada: Como fruto das mudanças que vêm ocorrendo no mundo, o cenário da guerra, os conflitos e as lutas sofreram drásticas transformações que implicaram, para nossas Forças Armadas, a urgência em introduzir em sua organização doutrina, estratégias, cultura e as mudanças necessárias para que a instituição pudesse atuar de acordo com as demandas dessas novas situações.

É certo que a tecnologia desempenha um papel importante no novo contexto da guerra, mas este papel não é o único. Têm também funções importantes a informação, a inteligência, o conhecimento, o cognitivo, a competência; tudo aquilo que, para efeitos de preparo e formação dos futuros oficiais do Exército, significa que há a necessidade de se empreender uma reforma educativa para plantar nos militares as reestruturações necessárias em relação à tecnologia, à cultura, à logística e à doutrina, de acordo com as novas maneiras de se conduzir a guerra, os conflitos e as lutas.

Tal reforma significou uma mudança necessária nos currículos das escolas de formação e aperfeiçoamento do Exército; na EMCH [Escola Militar de Chorrillos do Exército do Peru], por exemplo, foi necessário reorientar a formação de um oficial no comando tipo ordem para o comando tipo missão pois, de acordo com o que vem ocorrendo atualmente e com as hipóteses sobre o que ocorrerá, necessitamos de um oficial que não apenas cumpra ordens, mas que tenha também potencial crítico, pensamento resolutivo e analítico, e que seja também formado nos ambientes reais de atuação, como cursos de selva, de montanha, etc.: futuros oficiais não apenas com capacidade de analisar estratégias preestabelecidas, mas que saiba também criar doutrina para as situações dissimilares e mutantes.

As guerras assimétricas, o combate às novas ameaças e os riscos emergentes implicam implantar no oficial que se forma na EMCH as bases para a utilização das novas tecnologias, o conhecimento para prever o que se executará a médio e longo prazo, além da capacidade de investigar e criar soluções para os diferentes problemas que ele deverá enfrentar. [Isto significa] que os militares deverão ser preparados para lidar com a nova tecnologia, com o planejamento estratégico e da organização por processos; a internalização crítica da legislação constitucional e sobre os direitos humanos.

Portanto, a interação permanente com grupos humanos requer o manejo analítico e crítico do direito constitucional e dos direitos humanos. Por outro lado, deve haver uma formação para tornar mais técnicas as operações especiais, para construir unidades operacionais menores e mais eficientes. Quanto às novas formas de organização, estas devem ser menos verticais e ter uma horizontalidade maior e mais flexível, onde o recebimento de uma ordem inclui a responsabilidade de decidir sobre as estratégias mais convenientes para sua execução.

Todo esse processo descrito e atualmente em execução é o que o Exército vem realizando para enfrentar as ameaças assimétricas, as novas ameaças e os riscos emergentes.

Diálogo: Além da luta contra os narcoterroristas do Sendero Luminoso, quais são as metas e prioridades atuais para o Exército do Peru na questão da segurança e do preparo das Forças Militares?

General Moncada: Ao assumir o comando da Instituição, eu tracei dois pilares fundamentais com o compromisso de alcançar os objetivos e metas estabelecidos em nosso Plano de Desenvolvimento Institucional, o “Plan Bolognesi”, que vem a ser a pedra filosofal de nossas ações.

O primeiro pilar é o treinamento: para isto se exige o mais detalhado planejamento para o treinamento cabal, profissional e estrito de todo o nosso pessoal militar, da ativa e da reserva, como a base necessária para fortalecer a capacidade que a força operacional deve ter para atuar adequadamente nas situações das quais tivermos que participar, o que significa que o pessoal deve estar em ótimas condições físicas, técnicas e táticas, e estar capacitado para enfrentar as missões impostas ao componente terrestre nos diferentes comandos operacionais.

O segundo pilar é o sustento administrativo das operações, o que demanda o mais detalhado planejamento do Estado-Maior, bem como a execução pormenorizada dos planos de abastecimento e manutenção, que requer comprometimento, entrega e eficiência para que isto seja bem-sucedido. Devemos entender que, devido às dificuldades de nossa natureza, é preciso que se estabeleçam sistemas que permitam ao combatente manter sua logística de forma adequada.

Diálogo: O Peru é um exemplo para outros países em termos de participação em missões de paz; existem cursos de preparação para oficiais do Exército nesse tipo de tarefa?

General Moncada: O Ministério da Defesa, através do Centro de Treinamento e Capacitação para Operações de Paz (CECOPAZ), programa cursos para os Observadores Militares, bem como para o pessoal militar integrante da Companhia de Infantaria “PERU”, antes de seus membros serem enviados à República do Haiti.

Além disto, o Exército vem participando, desde 2011, de exercícios conjuntos combinados regionais de operações de manutenção da paz UNASUL (I, II, III), realizados na República Argentina (o exercício se baseia na atuação de uma força de paz em apoio e assistência à população de um país fictício).

Diálogo: Em quais missões de paz está envolvido atualmente?

General Moncada: Atualmente, o Exército do Peru participa com seus militares das diversas Missões de Paz das Nações Unidas, que são as seguintes: MINUSTAH (Missão de Estabilização das Nações Unidas na República do Haiti), com a participação de quatro oficiais no STAFF e a Companhia de Infantaria “PERU”; MONUSCO (Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo), com a participação de seis oficiais; UNAMID (Missão de Paz das Nações Unidas na República do Sudão – Darfur), com a participação de três oficiais; UNISFA (Missão de Paz das Nações Unidas na República do Sudão – Abyei), com a participação de um oficial; UNMIL (Missão de Paz das Nações Unidas na República da Libéria), com a participação de dois oficiais; MINURSO (Missão de Paz das Nações Unidas no Saara Ocidental), com a participação de um oficial.

Diálogo: Como o Exército do Peru está contribuindo para os objetivos de inclusão social que o governo do país vem aplicando?

General Moncada: A participação do Exército é principalmente dirigida à execução de projetos de infraestrutura terrestre, além do desenvolvimento de obras de apoio à comunidade, de assentamento rural na fronteira, de ação cívica e proteção ambiental. Para isto, emprega todos os componentes de sua estrutura organizacional, sendo as Unidades de Engenharia as que têm a maior participação na execução de tais projetos.

Durante o ano de 2012 foram assinados sete convênios e durante 2013, nove convênios de colaboração interinstitucional entre o Ministério da Defesa – Exército com o Ministério de Habitação, Construção e Saneamento, com os governos regionais de Junín, Pasco e Ayacucho, além das cidades de Ica, Pisco, Túpac Amaru Inca, San Clemente e Chincha.

Diálogo: Quais são as projeções do Exército quanto à modernização e preparação de seu pessoal?

General Moncada: Sob meu comando, continuamos com o Plano Institucional, que tem em princípio um horizonte de médio prazo. Com esse objetivo, buscamos efetivamente a ampliação do potencial existente em nosso Exército, dentro de Plano de Modernização. Facultamos o acesso de nosso pessoal aos cursos de formação e capacitação, bem como aos cursos universitários e carreiras liberais.

A ideia é formar uma massa crítica sobre a qual cimentar o desenvolvimento de nossa instituição em um sentido de união e integrado ao país e seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que incrementamos a educação militar de nossos oficiais e soldados, também enfatizamos seu preparo para quando deixarem o Serviço Militar Voluntário e se reintegrarem à sociedade, com um desenvolvimento técnico que lhes possibilitará serem úteis e encontrar rapidamente uma vaga no mercado de trabalho.

Em alguns casos, graças a convênios firmados com instituições do Estado, nossos soldados se incorporam, desde as fileiras, a outras tarefas de segurança, como ocorre no caso do Instituto Nacional Penitenciário (INPE), ou continuam seus estudos universitários ou técnicos superiores, graças ao programa Beca 18, totalmente gratuito.

Através do programa de bolsas “Presidente da República”, nossos oficiais têm acesso a estudos integrais de mestrado e doutorado, que trazem benefício a nossa instituição, nas melhores universidades do mundo.

No entanto, apesar dos notáveis avanços que tivemos na tentativa de modernizar o Exército, tanto em seu material, apoio administrativo ou Força Operacional, como produto de uma contínua avaliação, somos conscientes de que devemos ir além, de que o segundo passo estratégico mais importante é a transformação da Força Terrestre.

Isto implica romper com muitos paradigmas, transformar nossa visão e nossa missão, acrescentar novas missões táticas e, consequentemente, novas funções no campo de batalha. Daí a importância da profissionalização de nossa força com altos padrões de qualidade e eficiência, para que ela se torne parte integral desse novo contexto do Século XXI.

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