Mariane Rossi
Encantado com os aviões que via passando pelo céu quando era jovem, o aposentado italiano Pietro Loporchio decidiu sair da rotina empresarial que vivia na Itália para se aventurar como piloto no Brasil. Hoje, aos 74 anos, Loporchio se dedica a arte de reformar aviões raros e antigos, das décadas de 1930, 1940 e 1950. O objetivo do aposentado é montar um museu para contar a história da aviação no Brasil, mostrando para as novas gerações o encantamento que tem pelos 'objetos voadores'.
ietro Loporchio veio a passeio para o Brasil. Ele voltou para a Itália, casou-se e retornou para as terras brasileiras. “Acho que não tem ninguém que não se apaixona por essa terra”, fala o italiano. Durante uma viagem a Peruíbe, no litoral de São Paulo, ele se encantou pela aviação brasileira, o que acabou o trazendo definitivamente para morar no país. “A vida lá era muito difícil, não tinha emprego. Em 1972, em um passeio pela cidade de Peruíbe, eu vi um avião voando. O avião era do extinto aeroclube de Praia Grande. Fui atrás do avião até o aeroporto. No mesmo dia, fiz uma inscrição e comecei a voar. De lá para cá eu não parei mais”, conta ele.
Loporchio fez os cursos de piloto privado, piloto comercial, piloto de planador, piloto agrícola, e piloto de garimpo. Ele também trabalhou como instrutor de avião, na formação de pilotos. Conheceu a cidade de Itanhaém, ainda na época de aluno, durante treinamentos de pousos. Pouco depois, decidiu morar definitivamente na cidade. “Eu me estabeleci aqui com o hangar em 1986. Depois construímos outro hangar. Há três anos, eu decidi ficar na cidade definitivamente”, lembra o italiano, que foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Aeronaves Antigas e Clássicas.
Loporchio decidiu parar com a atividade de instrutor de pilotos para se dedicar ao restauro de aviões antigos. Ele quer que as outras gerações conheçam a história da aviação. “Há 40 anos na aviação, 15 mil horas de voo, já voei em 95% dos aviões que existem no Brasil. Tenho uma biblioteca de manuais”, conta. Por isso, começou a comprar antigos aviões, motores, peças e a conhecer todos os tipos de livros sobre o assunto. Grande parte dos aviões que ele tem atualmente são da Força Aérea Brasileira. Esse material com um alto valor histórico, às vezes, é encontrado no lixo ou está abandonado. “Foram achados todos em ferros velhos, jogados em fazendas. Eu vou atrás de aviões. Os caras me dão. A despesa é só de transporte. Garimpo as peças, procuro, ligo para amigos. Fazemos tudo, o motor, a pintura. Mas não é uma firma, é restauro”, explica ele.
Em um hangar, ele montou sua ‘oficina’ e, em outro, passou a guardar as preciosidades. São aviões de vários tamanhos e cores. Alguns deles, usados durante a guerra, por volta de 1945. Outros, utilizados pelas forças armadas americanas e brasileiras, como o PT19 e o T-6, que formou o início dos cadetes da Força Área Brasileira, em Pirassununga, no interior de São Paulo. Há também o Piper J3, também de 1945, especial para fazer acrobacias no ar. O restaurador também tem aviões que são feitos e planejados por ele mesmo, amigos e sócios. É o caso do Cap Sol, um avião híbrido, uma mistura de vários aviões, e o Skyballet, que é um projeto 'bem arrojado e louco', segundo Loporchio.
Entre as raridades, estão o J-5, o único do Brasil, e o Taylor, que só existem cinco em todo o mundo. Ambos estão em fase de restauro. O xodó do italiano, porém, é o PT 19, de 1943. Nas cores azul, amarelo e vermelho, ele também foi usado pelas forças armadas americana e brasileira. Mas o Ryan, construído em 1938 é o especial, entre tantos dentro do hangar. “Esse avião foi três vezes campeão mundial de acrobacias. É um avião raríssimo. Existem poucos no mundo. Depois de muito trabalho nós conseguimos comprá-lo. Esse avião estava em um museu nos Estados Unidos e pertencia a um dentista. Depois de um ano de exaustiva conversa, o dentista resolveu vender. Reformamos ele inteiro. Demorou dois anos”, conta ele.
Aviões de alta tecnologia não interessam para Loporchio. A busca é sempre por antiguidades. “Se você traz um avião moderno eu não quero. Avião moderno não tem história”, afirma. O seu grande desejo é completar a primeira esquadrilha da Força Aérea Brasileira. Para isso, falta apenas uma unidade.
Após isso, o italiano quer realizar o sonho de deixar essas raridades para os olhares de novas gerações. Ele garante que todos os aviões que foram reformados voam aos finais de semana em Itanhaém, mas a ideia é criar um museu com essas peças e mostrar como elas podem funcionar normalmente, mesmo após muitos anos. “O nosso intuito é fomentar a aviação para essa juventude nova. Queremos fundar um museu para atrair as escolas para a visita, para mostrar o que é a aviação. Nossa história aeronáutica que não tem muita divulgação. Quero incentivar mais a molecada e difundir a história da aviação antiga. A aviação moderna todo mundo conhece pela internet”, finaliza o italiano.