Liderança militar: lições da história de três “Mestres do Comando”

General-de-Divisão R1 Joarez Alves Pereira Junior

Algumas das virtudes do líder são: aprender com as lições do passado, refletir sobre as experiências vividas por ele próprio e por outros, transformar esse conhecimento em sabedoria e, naquilo que for pertinente, criar sua visão própria de futuro a ser aplicada nas suas decisões.

O presente artigo tem por base o livro Mestres do Comando, de Barry Strauss, na sua edição de 2014, da Texto Editores Ltda, cuja tradução é de Marcelo Barbão. O livro relata a história de três grandes líderes do passado:

– Alexandre, o Grande, ou Alexandre Magno, rei da Macedônia, que viveu entre 356 a.C. e 323 a.C. e criou um dos maiores impérios do mundo antigo, que se estendia da Grécia até o noroeste da Índia;

Aníbal, general cartaginês que viveu entre 247 a.C. e 183 a.C. e executou um dos épicos feitos da antiguidade: partiu da Hispânia (Península Ibérica), atravessou os Pirineus e os Alpes e derrotou os romanos em diversas batalhas campais no norte da Itália; e

Júlio César, líder militar e político romano que viveu entre 100 a.C. e 44 a.C., considerado um dos mais destacados comandantes militares da história, e que conquistou fama durante as Guerras Gálicas, expandindo os domínios romanos até o Canal da Mancha.

O livro, embora não foque especificamente na questão da liderança, traz vários ensinamentos que podem ser aplicados ao tema. Tais ensinamentos têm servido de motivo para a reflexão dos líderes militares atuais, nas suas construções pessoais no exercício da liderança, particularmente dos líderes sêniores, que certamente poderão retirar ensinamentos desses que foram muito além de mestres da arte do comando, pois exerceram com maestria a arte de liderar.

As descrições abaixo apresentam um extrato de palavras textuais do autor do livro, compiladas de forma sintética, listando as dez principais qualidades que, na visão do autor, construíram a base de sucesso desses três grandes comandantes e que carregam ensinamentos preciosos para o desenvolvimento da liderança militar. Vamos a eles.

1. Ambição

A autoconfiança deles não tinha limites. Eram homens com elevada ambição e tinham fome de honrarias e necessidade de conquistas.

2. Julgamento

Eram inteligentes e tinham intuição estratégica. Tiravam a experiência do passado para oferecer a resposta correta. Eram inabaláveis sob pressão e capazes de pensar de forma criativa, rápida e eficiente. Conheciam as pessoas.

3. Liderança

Eram decididos, vigorosos e seguros. Tinham equipes que podiam ser consultadas e, em muitos casos, as opiniões dessas equipes prevaleciam sobre suas opiniões. Os homens obedeciam-lhes não apenas pelo posto que ocupavam, mas porque tinham ganhado o respeito de seus homens. Apesar da habilidade oratória, seus gestos eram mais eloquentes. Eram mestres da recompensa e da punição.

4. Audácia

A honra estava no coração de seus caracteres. Coragem era o sangue em suas veias. Ousaram fazer o que não podia ser feito. Sempre tentavam aproveitar as oportunidades.

5. Agilidade

Velocidade era o lema, e mobilidade, sua marca registrada. Eram mestres da multitarefa. Eram workaholics hercúleos que gerenciavam o tempo com habilidade.

6. Infraestrutura

Possuíam força armada combinada e treinada para lutar em conjunto. Tinham consciência de que uma coisa o dinheiro não podia comprar: sinergia; era preciso construir isso sozinho.

7. Estratégia

Tinham em mente que era preciso ter uma estratégia e surpreender. Pensavam com antecipação e eram persistentes.

8. Terror

Realizavam destruições com agressividade, impondo o medo.

9. Estilo

Todos tinham estilo próprio com ares de grandeza. Nenhum deles era homem do povo, mas todos eram populistas.

10. Divina Providência

Precisaram de sorte em momentos decisivos. Segundo o autor, Napoleão, muito mais tarde, queria generais que não fossem apenas bons, mas que também tivessem sorte.

Cabe lembrar, no entanto, como afirmou o famoso treinador e ganhador de cinco dos sete torneios nos anos 60 da NFL (National Football League), Vincent Lombard, que “sorte é a combinação de preparação e oportunidade”.

PARA CONCLUIR

É preciso recordar que as ações desses “Mestres do Comando” se deram em um período antes de Cristo, e o mundo, de lá para cá, vem sofrendo constantes transformações, em um ritmo cada vez mais acelerado.

No entanto, as qualidades desses grandes comandantes militares do passado abrem um excelente espaço para refletirmos sobre as características pessoais que emolduram suas histórias, verificando a sua aplicabilidade para a construção dos líderes militares dos tempos atuais.

Podemos destacar, entre as características marcantes, aspectos ligados diretamente à capacitação profissional, à habilidade de tratar com as pessoas, à incorporação de valores morais, à disposição de ser exemplo e à visão estratégica, dentre outras. Todas elas basilares para a formação de grandes líderes militares.

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Sobre o autor:

Formado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1982. Cursou a Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME) em 1997/98. No exterior realizou o Curso Básico de Inteligência, no Forte Huachuca; o Curso da Escola de Guerra, no War College; e o Curso de Política e Estratégia da National Defense University; todos nos Estados Unidos da América. Foi instrutor da AMAN e da ECEME e comandou a Escola de Administração do Exército e Colégio Militar de Salvador. Exerceu a função de Adjunto do Adido do Exército junto à Embaixada do Brasil em Washington. Comandou a 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Bagé-RS e a 6ª Região Militar, em Salvador-BA. Foi Subchefe do Estado-Maior do Exército para Assuntos Internacionais. Exerceu, como última função no serviço ativo, a Vice Chefia do Departamento de Educação e Cultura do Exército. Atualmente é o Coordenador Executivo do Grupo de Trabalho que irá realizar o planejamento para a implantação de uma Nova Escola de Formação e Graduação de Sargentos de Carreira do Exército Brasileiro.

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