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ITA busca aumentar número de mulheres na ciência

Ten Emília Maria

Ciência e tecnologia são, sim, coisas de mulher. É acreditando nisso que professoras e alunas do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – escola de engenharia da Força Aérea Brasileira – estão engajadas em um projeto que visa a incrementar o número de mulheres em áreas nas quais elas ainda são minoria.

Denominada STEM2D, a iniciativa faz menção às áreas nas quais pretende-se fomentar o ingresso de mulheres. São elas: Ciências, Tecnologia, Engenharia, Matemática, Manufatura e Design (STEM2D – Science, Technology, Engineering, Math, Manufacturing and Design, em inglês). Para isso, o projeto seleciona instituições em todo mundo e desenvolve ações que incentivam mulheres a desenvolver o conhecimento nessas áreas.

Segundo o último Censo da Educação Superior, de 2014, as mulheres representam apenas 28% do total de formandos nos cursos de graduação em engenharia do País. No ITA, a situação não é diferente: as alunas somam cerca de 10% do total das turmas e algumas aulas chegam a ter apenas uma mulher em sala. “Para reverter isso, temos que atuar com crianças e jovens para despertar seu interesse e apresentar caminhos de atuação profissional”, afirma a professora do ITA Juliana Bezerra, que é coordenadora do projeto no âmbito da instituição. A ideia consiste em envolver as alunas para que elas, ao mesmo tempo em que se desenvolvam tecnicamente e tenham contato com outras profissionais, também atuem junto às escolas, incentivando as estudantes.

A professora acredita que essa é uma grande oportunidade de aumentar o interesse das meninas em estudar nas áreas de Ciência e Tecnologia. “Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development), somente 5,18% de mulheres estão na liderança de empresas no Brasil, apenas 6% das meninas e 17% dos meninos brasileiros se interessam pelas áreas de Engenharia e Computação. Então, o grande desafio é fomentar o interesse pelas áreas”, pontua Juliana. 
 

No ITA, 24 alunas participam da iniciativa, o que representa cerca de 40% do universo feminino de discentes – adesão considerada “excelente” pela professora, visto que elas adicionam uma responsabilidade a mais em uma rotina de estudos que já é bastante pesada. “As alunas estão muito empolgadas com o projeto. É incrível ver suas ricas ideias nas iniciativas que participam. Também é maravilhoso ver como as profissionais que já atuam nessas áreas ficam encantadas e querem participar através de palestras para nossas alunas. Esses exemplos acabam inspirando a todas”, conta Juliana.

Iniciativa global

O ITA foi a única instituição de ensino escolhida na América Latina para desenvolver ações práticas voltadas à melhoria desse cenário. O projeto e o financiamento são da empresa Johnson & Johnson. Ao todo, foram selecionadas nove universidades pelo mundo: além do ITA, são seis instituições nos EUA, uma na Irlanda e uma no Japão.

Segundo a apresentação do projeto, que começou no início desse ano, o intuito é acelerar o desenvolvimento de mulheres líderes e apoiar as mulheres em todas as fases de suas vidas para melhorar a saúde global e o bem-estar, impulsionando o crescimento econômico sustentável.

Leia, abaixo, os depoimentos das voluntárias:

Érika Rizzo Aquino, 19 anos, Goiânia (GO), Engenharia Aeronáutica

“Desejo corrigir a carência de incentivo à ciência e tecnologia a essas meninas, enquanto ainda é possível convencê-las de que a ciência também é coisa de mulher. Acima de tudo, desejo que essas meninas corrijam a carência de incentivo na formação de seus futuros filhos ou filhas, percebendo como é importante desenvolver atividades que estimulem o desenvolvimento intelectual e a criatividade da criança, seja menino ou menina.

Para mudar esse cenário, necessitamos uma mudança cultural que envolva pais, responsáveis e escolas. Enquanto permanecer o conceito de ‘coisa de menina’ e ‘coisa de menino’, muitas meninas serão excluídas de ferramentas de desenvolvimento incríveis existentes hoje, como os blocos de montar, majoritariamente comprados para meninos, ou aulas de robótica, majoritariamente frequentadas por meninos.

Quando você vai a empresas ou palestras relacionadas à ciência e tecnologia, é muito difícil passar despercebida, pois somos poucas na área. Considero como maior desafio conseguir ser reconhecida por minha capacidade e não por ser parte de uma minoria feminina. Provavelmente, desafios ainda maiores surgirão no ambiente de trabalho”.

Sarah Villanova Borges, 23 anos, Juiz de Fora (MG), Engenharia Aeronáutica

“Fazer parte de um ambiente majoritariamente masculino certamente é um desafio. E é sempre uma surpresa. Você pode dar a sorte de ser bem recepcionada e nunca ter problemas ou o contrário. Podem duvidar da sua capacidade, podem te excluir por ser mulher. Você nunca sabe quando o preconceito vai aparecer. Além disso, muitas vezes as pessoas não percebem que estão cometendo preconceito, logo, é difícil pedir que mudem suas atitudes.

Minha mãe é formada em Engenharia Civil e teve influência em minha escolha pelo ITA. Como ela conhece o preconceito que mulheres sofrem nessa área, sempre me incentivou a ir para as melhores faculdades, para que nunca duvidassem da minha capacidade e do meu conhecimento só porque sou mulher. Essa oportunidade de trabalhar em uma iniciativa que possa incentivar mulheres a trabalharem nas áreas de ciência e tecnologia é realmente gratificante”.

Thaís de Souza Cabral, 22 anos, Anápolis (GO), Engenharia Aeronáutica

“Desde pequena era apaixonada por aviões e vi na área de ciência e tecnologia uma possibilidade de conciliar o gosto pelas Ciências Exatas e pelas aeronaves, o que me permitiria trabalhar exatamente com o que me motivava. Meu desafio é o mesmo dos colegas homens: aprender bem as matérias, manter um ritmo constante de estudo e apresentar bons resultados.

Mas, já vi muitas amigas desistindo da área de Ciências Exatas por receio de serem menosprezadas ou por falta de incentivo. Elas ouviram de muitas pessoas o discurso retrógrado, inadequado e desprovido de fundamentação de que ciência e tecnologia são assuntos apenas para homens.

Participar do projeto está fazendo muita diferença para mim, pois estou aprendendo com a organização de palestras e workshops, estou aprendendo a história de mulheres inspiradoras e desenvolvendo capacidade de liderança, trabalho em equipe e gestão, além de contribuir para incentivar outras meninas a não temerem ingressar nas áreas de ciência e tecnologia”.

ITA está com as inscrições abertas

O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) abriu, na última segunda-feira (08/08), as inscrições para o vestibular 2017. São oferecidas 110 vagas para os cursos de engenharia nas especialidades Aeroespacial, Aeronáutica, Civil-Aeronáutica, de Computação, Eletrônica e Mecânica-Aeronáutica. As inscrições são feitas pela internet no valor de R$140,00 e encerram-se em 15 de setembro.

 

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