8JANBSB – ABIN admite ‘erro material’ em relatórios enviados pelo ex-GSI de Lula

Câmeras de segurança flagraram presença de Gonçalves Dias no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro Reprodução/ CNN

Malu Gaspar
O Globo
01 junho 2023

A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) admitiu em novo documento sigiloso à Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso (CCAI) que há divergências entre as duas versões do relatório com alertas sobre o risco de atos golpistas de 8 de janeiro e entregues anteriormente à comissão.

Os parlamentares constataram ontem em sessão secreta que a primeira cópia do relatório de informes da Abin, enviada em 20 de janeiro e produzida na gestão do general Gonçalves Dias no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) , omitiu a informação de que o próprio ministro recebeu em seu celular pessoal onze alertas sobre os crescentes riscos de tumulto e de invasão de prédios públicos.

Só que esses mesmos alertas constam de outra versão do documento enviado pela mesma ABIN à mesma comissão em 8 de maio – agora com o GSI já sob o comando de outro general, Marco Antonio Amaro dos Santos.

Contudo, segundo esse novo documento da Abin, espécie de errata enviada à comissão do Congresso na última segunda-feira (29), o que houve foi um “erro material”. A justificativa é de que o primeiro relatório – um compêndio de mensagens de WhatsApp enviadas pela agência a órgãos do governo entre 6 e 8 de janeiro – chegou aos parlamentares sem os alertas a Gê Dias porque teriam sido incluídos no relatório apenas as mensagens enviadas a grupos e não a indivíduos.

A primeira versão do documento foi enviada ao Congresso por requisição da própria CCAI. Já a segunda foi entregue por ordem do ministro Alexandre de Moraes, em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral da República.

Moraes não só mandou que a ABIN e a PM do DF fornecessem os relatórios à PGR como também determinou que a CCAI enviasse todos os relatórios de inteligência que recebeu das autoridades.

Além disso, a própria comissão requisitou à Casa Civil em 2 de maio que levantasse em 30 dias o sigilo imposto aos documentos. O prazo, portanto, vence amanhã. O ministério já informou ao GLOBO que vai torná-los públicos.

Na comissão de inteligência do Congresso, este último relatório da Abin foi entendido como uma tentativa de se antecipar à constatação de que o primeiro relatório foi adulterado para omitir os registros de que Gê Dias foi avisado sobre o risco de invasão na praça dos Três Poderes em 8 de janeiro.

Isso porque tanto na oposição bolsonarista como entre os próprios aliados de Lula, a avaliação é de que será difícil evitar que Dias seja indiciado por prevaricação (quando o servidor público deixa de cumprir seu dever legal).

O general negou à Polícia Federal ter recebido os alertas, além de impor sigilo também às imagens do circuito interno de TV da Presidência da República que o mostram sem ação diante dos invasores que depredaram o Palácio do Planalto. E continuou negando ter sido informado do risco de invasão na semana seguinte, quando a Folha de S. Paulo publicou em primeira mão o conteúdo das mensagens enviadas ao seu celular.

As imagens, assim como as versões do relatório que mostram a adulteração realizada na gestão de Gê Dias, serão encaminhados agora à Comissão Parlamentar de Inquérito mista que investiga os responsáveis pelos atos golpistas.

A adulteração dos documentos oficiais pelo GSI de Lula deve se tornar o primeiro foco de disputa política na CPMI do golpismo, que está fortemente polarizada entre bolsonaristas e lulistas.

Desde que a comissão foi instalada, na semana passada, já foram apresentados quase 500 requerimentos com pedidos de convocação de autoridades ligadas ao 8 de janeiro.

Desses, cerca de 300 pedidos são de autoria da oposição, e o principal alvo é justamente Gê Dias. Já são mais de 13 requerimentos pedindo a convocação do general.


Ex-GSI de Lula falsificou relatório do 8JAANBSB enviado à comissão de inteligência do Congresso

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias Charles Sholl/Brazil Photo Press

Por Malu Gaspar
O Globo
31 Maio 2023

Um conjunto de documentos da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) sobre o 8 de janeiro entregues ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes e exibidos nesta tarde aos parlamentares da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional promete incendiar a CPI sobre os ataques às sedes dos Três Poderes.

O material é composto por dois relatórios da Abin sobre o episódio, e a comparação entre eles mostra que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, então comandado pelo general Gonçalves Dias, adulterou o primeiro relatório de inteligência enviado ao Congresso e retirou do documento os registros de que o general foi informado por mensagens enviadas para seu celular dos crescentes riscos de tumulto e de invasão de prédios públicos.

A informação foi confirmada à equipe da coluna por parlamentares que tiveram acesso nesta tarde aos dois documentos, numa sessão secreta da CCAI. Os documentos também deverão ser encaminhados à CPI do 8 de janeiro. Após a publicação da reportagem, o governo informou aos integrantes da comissão que levantará o sigilo dos relatórios, como revelou O GLOBO.

Os parlamentares constataram que o primeiro documento, entregue à comissão no dia 20 de janeiro e assinado pelo diretor-adjunto de Gê Dias, Saulo Moura da Cunha, não traz os onze alertas que o ministro recebeu no próprio telefone celular entre 6 e 8 de janeiro sobre a movimentação dos golpistas.

Só que esses mesmos alertas constam de uma outra versão do mesmo documento, enviada pela mesma Abin à mesma comissão, só que em 8 de maio passado – agora com a Abin sob o controle da Casa Civil e com o GSI já sob o comando de outro general, Marco Antonio Amaro dos Santos.

A primeira versão do documento foi enviada ao Congresso por requisição da própria CCAI, logo depois dos atos golpistas. Já a segunda foi entregue por ordem do ministro Alexandre de Moraes, em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral da República.

No último dia 4, Moraes não só mandou que a Abin e a PM do DF fornecessem os relatórios à PGR como também determinou que a comissão do Senado enviasse todos os relatórios de inteligência que recebeu das autoridades.

Na segunda versão do documento, assinada pelo atual diretor-adjunto da agência, Alessandro Moretti, aparecem 11 envios de alertas ao celular do ministro Gê Dias – incluindo três mensagens enviadas só a ele.

Lidas em sequência, elas não deixam dúvidas de que a percepção dos agentes de inteligência do próprio governo identificaram o “risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”.

Diz o documento enviado no dia 6 de janeiro às 19h40m: “Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios da Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo das ações violentas.”

A mensagem seguinte, do dia 7, informa que 18 ônibus de outros estados chegariam a Brasília no dia 8 para engrossar o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército. E acrescenta: “Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios”.

Uma das mensagens que só Gê Dias recebeu foi enviada na manhã do próprio dia 8, alertando que cem ônibus já haviam chegado a Brasília para os atos.

O general Gonçalves Dias pediu demissão depois que a CNN exibiu alguns vídeos gravados pelas câmeras do interior do Palácio do Planalto no momento da invasão. Nas imagens, que antes haviam sido colocadas em sigilo pelo próprio ministro do GSI, ele aparece perambulando pelo Palácio sem tomar nenhuma atitude em relação aos invasores, enquanto alguns funcionários indicam a saída aos golpistas.

O ministro também negou em depoimento à Polícia Federal ter recebido alertas da Abin sobre os riscos de invasão e ataques aos edifícios-sede dos Três Poderes.

O ministro continuou negando ter recebido os alertas na semana seguinte, quando a Folha de S. Paulo publicou em primeira mão o conteúdo dos alertas.

As negativas do ministro vinham intrigando os investigadores da Polícia Federal e integrantes da própria Abin, que conheciam apenas o conteúdo dos relatórios originais e não sabiam que o material entregue ao Congresso havia sido adulterado.

A comparação dos dois documentos, feita agora, ajuda a esclarecer por que Gê Dias manteve a versão de que não recebeu nenhum aviso.

O relatório de inteligência foi produzido pela Abin entre os dias 2 e 8 de janeiro e contém uma extensa tabela com três colunas. A primeira indica a data e o horário do envio; a segunda, o conteúdo das mensagens; e na terceira coluna aparecem os nomes contatos de quem recebeu cada mensagem.

Parlamentares que tiveram chance de analisar as duas versões do documento na sala-cofre da CCAI afirmam que a diferença das duas versões é muito evidente. Mas não é possível saber ou inferir, apenas pela observação, quem no GSI suprimiu as informações e como isso foi feito.

A cúpula da Abin também participou da reunião secreta da CCAI desta tarde e tomou conhecimento da divergência entre os documentos.

A adulteração dos documentos oficiais pelo GSI de Lula, porém, tem tudo para se tornar o primeiro grande foco de investigação da CPMI do golpismo de 8 de janeiro, que abriu seus trabalhos nesta quinta-feira em um plenário do Senado e já soma quase 500 pedidos de requerimentos para ouvir autoridades ligadas ao 8 de janeiro, entre outras solicitações de quebra de sigilo.

Desses, cerca de 300 pedidos foram apresentados pela oposição bolsonarista, e o principal alvo é justamente Gê Dias. Já são 13 requerimentos pedindo a convocação do general.

Procurei, nesta tarde, o advogado de defesa do ex-ministro Gonçalves Dias, assim como o diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti, e Saulo Moura da Cunha, mas não tive retorno até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto aos citados.

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