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Gen Ex Pinto Silva – Excepcionalismo Americano e Francês

EXCEPCIONALISMO AMERICANO E FRANCÊS

Carlos Alberto Pinto Silva [1]

25 Janeiro 2021

 

1. O EXCEPCIONALISMO AMERICANOGENERALIDADES

“A expressão excepcionalismo americano refere-se à crença segundo a qual os Estados Unidos são um país qualitativamente diferente de outras nações. Constitui uma variante da doutrina do destino manifesto e está relacionado a duas outras crenças. A primeira é a de que a história dos Estados Unidos é essencialmente diferente da história de outras nações, sendo “a primeira nova nação” e desenvolvendo umaideologia exclusivamente americana, o “americanismo”. A segunda é a de que os Estados Unidos têm a missão exclusiva de transformar o mundo.[2]

Nessa concepção podemos citar a existência de dois consensos fundamentais, na elite americana,seja Republicana ou Democrata:

“Os EUA trabalham para manter sua liderança econômica e militar dentro do sistema mundial,[3] e não podem deixar de financiar a expansão global permanente da infraestrutura indispensável ao exercício do poder.

realismo político articula-se, dessa forma, em torno de dois conceitos chave, o poder e o conflito, e identifica a natureza humana como egoísta, predatória e propensa à conquista.

Nas relações internacionais a função do Poder e do Conflito é fazer prevalecer o interesse nacional de um Estado sobre o dos outros.

2. ESTADOS UNIDOS – EXCEPCIONALISMO GOVERNO BIDEN

SegundoTiago Moreira de Sá, Presidente da Comissão de Relações Internacionais do Partido Social-Democrata Português e Coordenador da Secção de Relações Externas do Conselho Estratégico Nacional do partido, em análise com o título“Joe Biden e o excecionalismo[4] americano”, a ideia de uma cruzada contra os que são considerados adversários não democráticos pode ser contraproducente. Numa das partes mais perigosas da sua agenda internacional, Biden defende que é preciso “estar ao lado da sociedade civil russa”, que tem “feito frente com bravura” ao regime de Putin. Trata-se de uma intromissão nos assuntos internos russos, o que é inaceitável para Moscovo”.[5]

Em relação ao Brasil, “em entrevista, Joe Biden, vice-presidente no governo Barack Obama e então candidato, pelo Partido Democrata, à presidência dos EUA em 2020, alerta Bolsonaro que ‘reunirá o mundo’ para garantir a proteção da Amazônia”

3. FRANÇA – PSEUDO EXCEPCIONALISMO

“A França, manteve um sentido persistente de excepcionalismo, mas fez as pazes com a perda de seu império externo e da sua missão especial no mundo, recalibrando sua ideia nacional para atender seu papel reduzido e unindo-se a poderes menores e países pequenos na Europa em termos de igualdade; porém alguns argumentariam que suas elites ainda não o fizeram plenamente[6].

Provavelmente em razão disso ou também por isso é queo presidente da França, Emmanuel Macron, que não gosta do Brasil, nem dos brasileiros, nem do presidente que ele elegeu há dois anos, tem se manifestado.

“Mais do que qualquer outra coisa, Macron não gosta da agricultura e dos agricultores brasileiros; sempre faz questão, nos cinco minutos por ano em que pensa alguma coisa em relação ao Brasil, de repetir que a produção de soja por aqui (sem falar no milho, carne, frango e todo o resto) está destruindo a “floresta amazônica” e, com isso, tirando o oxigênio que a França, a Europa e o mundo precisam para respirar[7].(J. R. Guzzo, O Estado de São Paulo,17 de janeiro de 2021).

Uma grande potência fala e tem a capacidade de intervir militarmente praticamente em qualquer parte do planeta, o que a França só seria capaz com apoio da União Europeia e dos Estados Unidos.

4. AMBIENTE GEOESTRATÉGICO

“A nova estratégia americana de desconstrução dos velhos parâmetros ideológicos e morais, e de questionamento das antigas alianças e lealdades, deve provocar uma grande fragmentação dentro do sistema interestatal, com a multiplicação dos seus conflitos locais, em que os EUA estarão sempre estimulando as divisões internas de cada país e de cada região, essa mesma fragmentação deve alcançar um nível muito mais grave e incontrolável no Leste da Ásia e na Europa”.[8]

“Os EUA, portanto, renunciam à ideia de uma hegemonia ética e cultural universal e optam pelo uso da força e das armas, se necessário, para impor seus interesses em todos os tabuleiros geopolíticos e geoeconômicos do mundo, mesmo que seja por meio da mudança de governos e regimes que sejam considerados uma ameaça política ou econômica aos interesses norte-americanos. Da mesma forma, assumem seu direito de utilizar sua economia e suas sanções econômicas como instrumentos de guerra.”[9]

Em mundo multipolar emergente, a capacidade dos Estados Unidos e de seus aliados de defender seus interesses está sendo confrontada com resultados positivos para Potencias Regionais com Poder de Combate Equiparado, uma vez que Estados nacionais demonstram capacidade crescente de se oporem ao poderio bélico norte-americano ou estão determinados a reduzir a influência americana em áreas de interesse e críticas ao seu redor.

Por outro lado, “Rússia e China, as duas grandes “potências revisionistas” querem alterar a hierarquia do poder mundial, enquanto“Coreia e Irã, os dois grandes “Estados predadores”, ameaçam seus vizinhos e o equilíbrio geopolítico do nordeste da Ásia e do Oriente Médio”[10].

Dessa forma, “A União Europeia se vê forçada a rever sua estratégia internacional devido a mudanças na diplomacia dos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump,em particular no que diz respeito à China, organizações internacionais e presença militar na Europa”[11].

A Estratégia Indireta, por sua vez, ganha destaque no planejamento estratégico de conflitos contra “Estados com poder de combate equiparado” aos EUA, e assim as tradicionais operações e ocupações militares dão lugar a desestabilização de governos através as Revoluções Coloridas seguidas, se necessário, de uma Guerra não Convencional, envolvendo ações de 4ª e sua atual vertente, a 5ª Geração da Guerra.[12]

5. ESTADOS QUE DESAFIAM A HEGEMONIA ESTADUNIDENSE[13]

5.1 CHINA

Espera-se que a China ultrapasse os EUA até 2028, e não mais em 2033, apontou o Centro de Pesquisa Econômica e Empresarial (CEBR) Britânico.[14]

Esquecida pela Geopolítica Americana durante o governo Obama (Partido Democrata), a China tem sido muito clara em suas ambições de liderar o mundo nas importantes tecnologias do futuro, como robótica e Inteligência Artificial (IA)[15].

5.2 RÚSSIA

A Rússia vem desafiando com êxito a Doutrina Monroecom seu apoio em material militar a Venezuela e com a realização de exercícios militares no Mar do Caribe, podendo esse país, consequentemente, se tonar a Cuba da América do Sul.

Enquanto na Europa a eficiência devastadora na tomada da Criméia pode ser constatada no seio da OTAN, considerando que mais de sete anos após a anexação da Criméia a Organização e os Estados Unidos ainda não desenvolveram uma estratégia coerente para se contrapor às atividades da forma de Guerra Híbrida da Rússia.

A Rússia alterou, ainda,o equilíbrio de segurança no Mar Negro, Mediterrâneo Oriental e Oriente Médio pela implantação do sistema de defesa aérea S-400 na Criméia em agosto de 2016 e na Síria em novembro de 2015, e ratificou um acordo com a Síria para transformar o porto de Tartus em uma base naval russa durante os próximos 49 anos.

Na Região do Ártico, a Rota do Mar do Norte, ao longo da costa Russa, teve seu uso facilitado pelo maior degelo na atualidade, diminui distâncias e traz grandes vantagens para o comércio[16] marítimo e o Poder Naval.

5.3 ORIENTE MÉDIO

Para os Estados Unidos, o Oriente Médio (OM) consistia em um importante posto avançado para chegar até a URSS.Já para a União Soviética, o OM significava a primeira barreira contra uma possível invasão norte-americana.

No cenário do Excepcionalismo Americano observa-se, desde 1980, conflitos no Oriente Médio envolvendo os Estados Unidos, sem alcançar uma paz duradoura até nossos dias. Conflito Irã-Iraque (1980 /1988) /Primeira Guerra do Golfo (1990), Segunda Guerra do Golfo – Guerra do Iraque (2003) e A Insurgência Iraquiana ou Guerrilha Iraquiana, movimento de resistência armada à ocupação do Iraque por uma coalizão de países ocidentais liderada pelos EUA e pelo Reino Unido, entre 2003 e 2011.

Em 2014, com o fortalecimento do grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante os combates voltaram a se intensificar, e o Iraque retornou ao caos de uma nova guerra civil.

Além dissoa Guerra Civil Síria entra em seu décimo primeiro ano e, mesmo que arrefecida, ainda persiste sem um desfecho.

Enquanto uma solução política parece impossível, a União Europeia e os Estados Unidos se encontram diante do dilema de negociar com uma Síria cada vez mais orientada pela aliança com o Irã e apoio da Rússia.

A perda dissuasória americana, no Oriente Médio, ficou em evidência quando dos ataques às usinas de petróleo da Arábia Sauditaonde os alvos táticos imediatos eram sauditas, mas poderiam muito bem ter sido americanos. Nesse episódio houve um fracasso de dissuasão. Os iranianos correram um risco calculado e venceram o embate.

4.4 IRÃ

O Irã permanece determinadoa levar adiante seu programa nuclear.

A estratégia iraniana foi construída com base na ideia de defesa avançada,que era afastar as ameaças da fronteira iraniana. Essa estratégia expandiu a influência do Irã de uma forma muito pouco convencional e desestabilizadora em toda a região, mas protegeu o Irã e fomentou a projeção de Teerã em diversos países.

Para tanto, o Irã empenhar-se-á em empregar um conjunto de habilidades estratégicas (Ferramentas à disposição do Poder Nacional)[17] para anular as vantagens Americanas no conflito e para manter o “Status quo”.

5.5 CORÉIA DO NORTE

O objetivo estratégico perseguido pela da RPDC (República Popular Democrática da Coreia), é de criar uma força mais confiável para lidar com as futuras ameaças dos EUA, ao passo que a Potência Hegemônica tem a responsabilidade de prover segurança e proteção a Coréia do Sul e ao Japão.

6. CONCLUSÃO

Em relação as ameaças do Norte possíveis de serem direcionadas aos Estados em desenvolvimento devemos considerar:

– a inexistência de uma autoridade central com legitimidade e apta a afiançar a proteção das unidades constitutivas do sistema internacional. A ONU vem dando seu respaldo as ações da Potência Hegemônica e seus aliados da União Europeia[18];

– que no plano internacional não há monopólio do poder coercitivo. Dessa forma, os Estados, para serem considerados pelos diversos atores, devem ser precavidos e pensar em estratégias de segurança, e no preparo dos meios de toda ordem, com antecedência, para impedir que sua soberania seja ameaçada, e para assegurar sua sobrevivência nacional;

– a incerteza sobre as intenções dos outros atores, principalmente do Norte Desenvolvido, origina a preocupação com a sobrevivência nacional. Assim

verifica-se que há uma relação entre as situações sociais de ameaça e o incremento e a distribuição dos riscos; e

que todos os nacionais ao final serão atingidos, independentemente de classes sociais. O Estado (Nação) deve, nesse cenário, lançar mão de todos os meios disponíveis para colocar uma “motivação positiva”, que faça com que o esforço exigido de cada cidadão e da população inteira pareça necessário e significativo.  Este armamento psicológico, a motivação, é o pré-requisito para a condução bem sucedida de toda ação.

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[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES

[4] Grafia em Portugal

[13] Potencias Regionais com Poder de Combate Equiparado.

[15] “Isso é muito importante para a competição agora”, diz Bonnie Glaser, “porque se a China tivesse sucesso nessas áreas, provavelmente suplantaria os Estados Unidos como a principal potência do mundo”.

[16] Ásia /Europa

[17] Emprego “agressivo” de meios não militares, apoiados por alternativas militares de efeito não cinético (não letais), sobretudo operações de informação e guerra cibernética, e emprego de meios militares para alcançar objetivos estratégicos, sem, contudo, provocar uma intervenção norte-americana.

[18] Prioritariamente países governados pela Social-Democracia.

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