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Xisto volta a alimentar esperança de renovação de petrolíferas mundiais

Bradley Olson / Sarah Kent

O poço de petróleo e gás que a BP PLC está perfurando na cidade de Perryton, na divisa entre os Estados americanos do Texas e Oklahoma, parece comum na superfície. Mas a cerca de 2.500 metros de profundidade, tubos horizontais se ramificam em três direções, como um pé de galinha. Parte de um experimento liderado por David Lawler, executivo da petrolífera britânica, a ideia é criar três poços a partir de um.

O projeto também pretende tornar a BP uma empresa inovadora no setor de petróleo de xisto, em condição de competir com as pioneiras na técnica do fraturamento hidráulico, ou "fracking".

Grandes petrolíferas como a BP estão precisando de uma sacudida. Os projetos multibilionários que são sua especialidade sondas gigantes de petróleo em alto-mar e instalações de exportação de gás geralmente apresentam custos proibitivos em um cenário com o barril de petróleo a US$ 45.

Diante disso, os poços nos Estados Unidos são uma tentação, mas as grandes petrolíferas ainda precisam provar que podem dominar as técnicas dos pioneiros do xisto, cujas inovações alimentaram o renascimento da produção americana.

Se a BP, Exxon Mobil Corp. e outras petrolíferas puderem descobrir como extrair petróleo suficiente dos depósitos de xisto a um custo baixo o bastante para tornar o negócio lucrativo, isso poderia ajudá-las a manter a produção total em níveis altos.

Caso fracassem, elas terão dificuldade em substituir a produção decrescente de megaprojetos mais antigos, ficando ainda mais atrás na corrida das inovações que estão transformando o setor.

Seis anos após o acidente com a plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, ter causado o maior vazamento de petróleo em alto-mar da história dos EUA, a BP está voltando a apostar no país. Lawler, que é engenheiro, está encarregado de dar impulso às operações da empresa com petróleo e gás de xisto.

Se os poços em Perryton apresentarem bons resultados, Lawler deve repetir a iniciativa em outros lugares do Texas e Oklahoma, onde já tem contratos de exploração, podendo chegar a produzir em grande escala. O irmão mais velho de Lawler, Doug, é diretor-presidente da americana Chesapeake Energy Corp., fundada pelo empreendedor e pioneiro do xisto Aubrey McClendon, que morreu em março em um acidente de carro.

Os dois irmãos fazem parte da segunda onda da revolução do fracking: um movimento que se opõe à perfuração financiada com dívidas em favor do que esperam ser um futuro de práticas financeiras mais sustentáveis. O desafio de Doug é transformar a extremamente endividada Chesapeake e suas atrantes concessões de exploração em uma empresa rentável.

A missão de David é decifrar o segredo da perfuração de xisto para a BP, algo que as maiores petrolíferas do mundo até agora não têm feito muito bem.

Os processos desenvolvidos para plataformas gigantes em alto-mar não são muito aplicáveis para o fraturamento hidráulico, que exige uma infinidade de ajustes para ser bem-sucedido.

Os exploradores de xisto também precisam desenvolver uma significativa tolerância ao fracasso. Frequentemente, eles precisam perfurar dezenas de poços para descobrir as melhores técnicas para locais específicos.

Até agora, as grandes petrolíferas acumulam poucas vitórias no fraturamento hidráulico dos EUA. Suas sondas não produzem tanto quanto a dos líderes do setor porque elas ainda não dominaram a tecnologia. Elas amargaram mais de US$ 20 bilhões em baixas contábeis, algumas resultantes de aquisições de empresas de xisto quando o mercado estava no auge, e a queda dos preços do petróleo só piorou as coisas. A Exxon registrou prejuízo com perfuração nos EUA por seis trimestres consecutivos.

Em 2014 e 2015, os poços de xisto perfurados nos EUA pela BP, Royal Dutch Shell PLC, Exxon e Chevron Corp. foram cerca de 30% menos produtivos, em média, que os dos dez maiores operadores de xisto, de acordo com dados da firma americana de análise NavPort.

Seus poços têm avançado ano a ano, mas os dos concorrentes também. Muitas grandes empresas chamadas de companhias "integradas" porque têm operações de produção e refino afirmam que estão se aprimorando e já têm alguns poços lucrativos.

David Lawler, de 48 anos, reconhece os desafios que a BP enfrenta em seu esforço de atuar como uma empresa menor. Exxon, Shell e Total SA acumularam prejuízos ou baixas contábeis nas operações de xisto, mesmo antes de os preços do petróleo começarem a despencar, há dois anos.

Ainda assim, Lawler se mostra otimista e diz acreditar que a BP pode lucrar com as operações de xisto aos preços atuais, mesmo sem ter acesso às melhores reservas de xisto dos EUA conhecidas hoje. "[O que importa] é o quão rápido podemos mudar", diz ele. Se ele tiver sucesso, vai reforçar a ideia de que a era do xisto pode durar décadas, com o boom de exploração nos EUA se espalhando mundo afora.

Por enquanto, a BP tem conseguido cortar os custos de produção em áreas de xisto e estima que pode produzir até 7,5 bilhões de barris de petróleo de forma economicamente viável. Embora alguns analistas considerem que apenas metade desse volume seja viável aos preços atuais, ele equivale a 30 anos de exploração.

Atualmente, a maior parte do crescimento esperado da BP vem de regiões produtoras que não são áreas de xisto, como o Azerbaijão, Omã e Egito. A unidade de xisto dos EUA é responsável por apenas cerca de 13% da produção total. Para Bernard Looney, chefe de exploração e produção da BP, o xisto é uma opção que tem "o potencial de ser uma fonte essencial de crescimento".

Parte do desafio de Lawler, que assumiu o comando da unidade em 2014, tem sido conscientizar os funcionários que alguns fracassos são aceitáveis. Em grandes petrolíferas como a BP, os executivos estão acostumados a lidar com projetos multibilionários. Na exploração em águas profundas, uma perfuração malsucedida pode custar US$ 100 milhões ou mais. No xisto, em muitas áreas, custaria apenas US$ 5 milhões.

A BP afirma que tem melhorado. Em Oklahoma e no Texas, ela reduziu os custos de perfuração em quase 70% e agora consegue perfurar poços em uma média de 37 dias, ante 67 em 2012. Os poços se encaminham para produzir 44% mais gás natural que os perfurados há três anos.

Embora as grandes petrolíferas ainda não tenham ultrapassado os principais operadores de xisto, todas elas exibem avanços. Exxon, Chevron, Statoil ASA, Conoco Phillips e Occidental Petroleum Corp. estão entre as 20 melhores em desempenho de poços nos EUA neste ano até agora, segundo a NavPort.

A expectativa é elevada para os poços "multilaterais" da BP do tipo "pé de galinha" que envolve perfuração horizontal em mais de uma direção a partir de um único poço vertical. A técnica permitirá que a companhia explore mais de uma camada de rochas pela metade do custo de perfurar vários poços.

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