Search
Close this search box.

Revoluções no mundo árabe ameaçam Al Qaeda, dizem especialistas

As manchetes da imprensa mundial têm sido claras: "Al Qaeda tateia no escuro"; "Revoltas populares árabes decepcionam Al Qaeda"; "Al Qaeda está vendo a história passar". Todos os jornais concordam em um ponto: a organização radical islâmica a não teve qualquer papel significativo nas revoluções no mundo árabe. Até agora ela foi a grande ausente, e tem que se conformar com o fato de que sua propaganda, repetida há décadas, não impressiona mais ninguém.

"É uma lacuna que sempre houve. Só por causa dos ataques parcialmente bem sucedidos em países árabes ou no Ocidente, acreditávamos que a Al-Qaeda era mais forte do que realmente é", afirma o especialista em islamismo Albrecht Metzger.

Al Qaeda é minoria no mundo árabe

Segundo Metzger, isso é uma prova de que a organização é minoria no mundo árabe, e de que sua ideologia da chamada "guerra santa" não conseguiu convencer as massas. Assim, enquanto a Al Qaeda propagava a violência como o único meio de se livrar dos ditadores, o povo demonstrou no Egito e na Tunísia que há outra maneira, pacífica e civilizada.

A rede terrorista deve sair como perdedora das crises do mundo árabe. Esta é a opinião de Mohammad Abu Rumman, pesquisador e especialista em Oriente Médio do Centro de Estudos Estratégicos em Amã, capital da Jordânia. Ele está convencido de que a Al Qaeda nunca foi considerada um porta-voz da juventude árabe.

"A Al Qaeda sempre ofereceu suas próprias respostas a uma crise política geral dos regimes árabes. Uma crise que se manifestava na falta de perspectiva para uma mudança pacífica e democrática, ou para uma aliança entre os regimes árabes e do Ocidente. Uma aliança que priorizava os próprios interesses, em detrimento de uma abertura democrática", afirma.

Anseio por democracia

As aspirações democráticas dos países árabes e as demandas por justiça social, igualdade e pluralismo são o oposto dos princípios da Al Qaeda. Isto faz com que a rede terrorista perca terreno ideologicamente, avalia Abu Rumman.

Também é curioso o fato de Osama bin Laden, sempre muito afeito a comentários na forma de mensagens de vídeo, não ter até agora se manifestado. Parece que ele ainda não encontrou as palavras certas diante dessas enormes transformações, escreveu recentemente para a revista alemã Der Spiegel Yassin Musharbash, especializado na Al Qaeda. Segundo ele, não foi a organização que mostrou ser de vanguarda, mas sim a juventude do mundo árabe, mundana e afinada com a internet.

Mas, apesar de sua incapacidade de lidar com as modernas redes sociais, como Facebook e Twitter, a Al Qaeda não ficou completamente em silêncio após os acontecimentos no Egito. Em um vídeo inserido na plataforma YouTube, Ayman Al-Zawahiri tentava reinterpretar as revoltas dos egípcios e tunisianos à própria maneira.

O segundo homem da Al Qaeda as classifica como revoltas islâmicas contra os déspotas não islâmicos. Ele rejeita a democracia, como uma forma secular de governo em que tudo depende dos caprichos da maioria. Para Zawahiri, ela é anti-islâmica: uma interpretação que difere muito das exigências dos manifestantes na Líbia e no Egito.

Grupos radicais ficam supérfluos

No geral, a maioria dos especialistas em Oriente Médio e Al Qaeda concordam num ponto: a irrelevância da ideologia da Al Qaeda pode significar sua ruína. A verdadeira democratização e o surgimento de Estados constitucionais tornam tais agrupamentos desnecessários.

Mas isso não se aplica necessariamente a todo o mundo árabe, adverte Muhammad Abu Rumman. "Não se pode igualar a influência da Al Qaeda em todos os Estados. Na Líbia, por exemplo, que é influenciada fortemente por uma cultura tribal, ou no Iêmen, onde as diferenças sociais são muito grandes, a situação é diferente da Tunísia ou do Egito”, avalia.

Caso os governantes da Líbia e do Iême não permitam uma mudança pacífica e democrática em seus países, precipitando-os no caos e na guerra civil, a Al Qaeda pode sair lucrando. Para o perito em islamismo Metzger, o papel de agrupamentos islâmicos em países onde não existem estruturas democráticas não pode ser subestimado.

"O Paquistão, por exemplo, que está um pouco longe da atenção mundial. Este é um país muito importante para o jihadismo [doutrina da 'guerra santa']. Porque lá os radicais talibãs estão tomando o poder, ou determinando, em princípio, as estruturas sociais e políticas. Acredito que este sim, será um campo de batalha importante para a Al Qaeda. O mundo árabe, no momento, creio que não."

Autor: Nader Alsarras (md)
Revisão: Augusto Valente

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter