Em meio a denúncias de fraude nas eleições legislativas da Rússia ocorridas no início de dezembro, o primeiro-ministro, Vladimir Putin, foi à TV nesta quinta-feira para rechaçar as acusações que abalaram seu histórico de 12 anos no poder, hoje como premiê e antes como presidente. Em um esforço para manter sua imagem de "homem forte", Putin defendeu sua candidatura à presidência para 2012, ironizou a oposição, fez piada com os protestos por novas eleições e acusou o Ocidente de orquestrar os distúrbios. O primeiro-ministro atacou principalmente os Estados Unidos, acusando-os de querer países submissos ao invés de aliados.
A entrevista de Putin na televisão ocorre anualmente – e, nos últimos anos, o premiê vinha dedicando esse espaço para falar principalmente sobre os avanços do país e feitos do governo. Mas a última edição do programa foi caracterizada por perguntas e respostas agressivas envolvendo as denúncias de corrupção, as relações da Rússia com os Estados Unidos e até a morte do ex-ditador líbio Muammar Kadafi.
Vladimir Putin defendeu que os resultados das eleições do dia 4 de dezembro foram um genuíno reflexo da vontade do povo. Ele ironizou as acusações da oposição, afirmando que ela "sempre dirá que as eleições não são honestas". "Isto é o que acontece em todas as partes e em todos os países", disse o premiê. Putin zombou da fita branca usada pelos manifestantes como símbolo do grupo: "pensei que fosse parte de uma campanha contra a aids", afirmou o primeiro-ministro.
Segundo Putin, os protestos – que foram os maiores da Rússia nos últimos 20 anos – ocorreram sob ordens do Ocidente. "Eu sei que estudantes foram pagos (para protestar contra as eleições). Bem, isso é bom se eles conseguiram ganhar algum dinheiro", afirmou o premiê. "Gostaríamos de ser aliados dos Estados Unidos, mas o que vejo hoje (..) não é uma aliança. Às vezes tenho a impressão de que os Estados Unidos não querem aliados, mas sim vassalos", afirmou Putin. "As pessoas estão cansadas dos ditames de um país", disse o primeiro-ministro.
Os Estados Unidos também foram alvo de Putin em acusações sobre a morte do ex-ditador líbio Muammar Kadafi, capturado e morto por opositores em 20 de outubro. Segundo o primeiro-ministro russo, as forças americanas tiveram envolvimento direto no assassinato do general. "Drones, principalmente americanos, atacaram o comboio. Depois, com seus rádios, por meio das forças especiais que não tinham nada o que fazer ali, chamaram a pseudo-oposição e os combatentes que o eliminaram sem julgamento e sem investigação", disse ele.
O premiê russo também atacou o senador americano John McCain, um de seus maiores críticos, que havia postado no Twitter uma mensagem para Putin dizendo que "a Primavera Árabe está chegando a um bairro perto de você". "McCain combateu no Vietnã. Ele tem o sangue de civis inocentes nas mãos, e não consegue viver sem o tipo de cenas nojentas e repugnantes como as do assassinato de Kadafi", disse o primeiro-ministro. "McCain foi capturado e o mantiveram não só na prisão, mas em um poço por vários anos. Qualquer um (no lugar dele) teria ficado louco", afirmou Putin.