Pressionado, Paquistão acena à China

IGOR GIELOW

De olho no seu maior aliado contra a pressão americana pela presença de Osama bin Laden em seu território, o governo do Paquistão anunciou ontem uma viagem de seu primeiro-ministro à China na semana que vem.

Yusuf Raza Gilani passará quatro dias em Pequim para supostamente retribuir visita do colega chinês no ano passado, mas a leitura a ser feita é política. Na versão século 21 do Grande Jogo, o Paquistão está no centro das atenções por sua posição geográfica e problemas que pode causar.

O Grande Jogo é o nome dado à disputa entre Reino Unido e Rússia por influência na Ásia no século 19. No século 20, os EUA substituíram os britânicos, e, agora, a China escanteia os russos.

Com a morte do terrorista em um ataque a Abbottabad, sede da Academia Militar do Exército paquistanês, Washington passou a pressionar os aliados em Islamabad para explicar como Bin Laden estava lá. O resto do Ocidente e principalmente sua arquirrival Índia fizeram o mesmo.

Já Pequim, buscando se posicionar para o novo Grande Jogo, evitou críticas.

Os EUA tomaram a potência emergente Índia como parceira estratégica preferencial, inclusive na polêmica área nuclear, ganhando contrapeso ao mamute chinês na Ásia. O passo lógico da China é namorar mais intensamente Islamabad.

Há, é claro, motivos econômicos. Como no resto do mundo, a China busca negócios no Paquistão -são chinesas as pequenas mototáxi da cidade de Peshawar e também as 120 maiores obras em andamento no país.

No encontro bilateral do ano passado, a China anunciou US$ 20 bilhões em investimentos diretos até 2014.

Deflacionando o tradicional exagero desses anúncios, fato é que há 15 mil operários chineses no país. O comércio entre os países deve passar dos atuais US$ 7 bilhões para US$ 18 bilhões em 2015.

MAIOR INVESTIDOR
Pequim é a maior investidora externa no país e ganhou praticamente todo o direito de exploração do petróleo que vier a ser achado sob o deserto do Baluquistão.

"Eles chegaram aos poucos, com um acordo comercial importante nos anos 60, mas hoje dominam tudo", diz o analista Syed Haider.

A preferência chinesa por infraestrutura tem motivos. Um Paquistão aliado pode significar saída para o oceano Índico; hoje, não por acaso, o maior investimento é na região de Gwadar -onde estão sendo feitos porto de US$ 1,6 bilhão e aeroporto.

Na área militar, na qual o Paquistão tem poder regional grande, são parceiros: desenvolveram um caça leve conjuntamente, e ninguém duvida que os chineses poderão analisar os restos do helicóptero com tecnologia invisível a radares explodido na operação em Abbottabad.

Assim, a visita de Gilani é um recado de que o Paquistão pode não prescindir hoje da ajuda bilionária americana, mas estuda alternativas.

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