Líbia – França e Itália enviarão oficiais para ajudar rebeldes a depor ditador líbio

Andrei Netto

A coalizão liderada pela Grã-Bretanha e a França contra Muamar Kadafi deu ontem um passo inédito no conflito: o envio de assessores militares para a Líbia. A Itália também enviará soldados. O objetivo é orientar as operações realizadas por rebeldes e treiná-los. Em Paris, o ministro da Defesa da França, Gérard Longuet, defendeu abertamente uma resolução da ONU autorizando o envio de militares.

A intervenção dos assessores já havia sido definida pela Grã-Bretanha na terça-feira. Ontem, em Paris, o porta-voz do Palácio do Eliseu, François Baroin, informou que a França seguirá o exemplo, implicando no conflito dez militares de elite que serão deslocados à sede do Conselho Nacional de Transição (CNT), que congrega os rebeldes.

"Haverá um pequeno número de oficiais de ligação, de algumas unidades, ao lado do CNT para efetuar uma missão de ligação, para organizar a proteção de civis", confirmou Baroin.

A decisão foi tomada após o encontro entre o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o líder da oposição líbia, Mustafa Abdel-Jalil, no Palácio do Eliseu. Na reunião, o chefe de Estado teria garantido aos insurgentes que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) intensificará seus bombardeios para impedir o avanço das tropas pró-Kadafi. Além disso, ficou acertado o envio dos assessores militares. Na mesma tarde, o ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, disse que Roma também deve enviar de uma dezena de militares para reforçar a oposição. "Está claro que os rebeldes precisam de treinamento", disse o italiano.

Na terça-feira, o chanceler da Grã-Bretanha, William Hague, já havia anunciado que dez oficiais seriam enviados à Líbia. Os militares "vão aconselhar o CNT sobre como aprimorar as estruturas militares, suas comunicações e logísticas, incluindo como melhor distribuir ajuda humanitária e oferecer assistência médica", afirmou.

Nova fase. O envio dos assessores especiais também inaugura uma nova etapa do conflito na Líbia. Se até aqui a coalizão liderada pela Europa estudava o fornecimento de armas aos rebeldes, mas negava o envio de tropas, o discurso agora começa a mudar. O ministro italiano já defendia a intervenção militar por terra. Ontem, o ministro da Defesa da França, Gérard Longuet, defendeu uma "reflexão internacional" sobre o envio de soldados à Líbia, que considera um "verdadeiro tema" de discussão.

No Parlamento da França, a questão também vem sendo discutida. Na terça-feira, o deputado Axel Poniatowski, presidente da Comissão de Relações Exteriores da casa e membro do partido de Sarkozy (UMP), defendeu o envio de 200 a 300 militares de forças especiais à Líbia. As propostas teriam de passar primeiro pelo convencimento do próprio governo francês. De acordo com o ministro das Relações Exteriores do país, Alain Juppé, a intervenção está fora de questão. Nos bastidores do ministério, as declarações de Longuet foram definidas por um diplomata ouvido pelo Estado como "um erro político do ministro".

Além de gerenciar as divergências internas, uma eventual intervenção por terra poderia exigir uma nova resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), já que as duas aprovadas até aqui – 1.970, sobre o embargo de armas, e 1.973, sobre a zona de exclusão aérea – não autorizariam o envio de tropas.

Em Trípoli, o ministro das Relações Exteriores da Líbia, Abdul Ati al-Obeidi, disse em entrevista aos jornais The Guardian e Washington Post que seu país estaria pronto para promover eleições livres e fiscalizadas pela ONU em até seis meses após o cessar-fogo. Nesse período, o governo seria interino.

Ontem, a Comissão de Direitos Humanos da ONU advertiu que os ataques de Kadafi contra os rebeldes em Misrata podem constituir crimes internacionais. "Visar deliberadamente instalações médicas é crime de guerra", advertiu.

PONTOS-CHAVE

O Ocidente contra Kadafi

– Grã-Bretanha
Foi o primeiro país a anunciar a intenção de enviar assessores militares para auxiliar os rebeldes a depor Kadafi

– França
Desde o início do conflito armado, assumiu a vanguarda da ofensiva diplomática e militar em favor dos rebeldes

– Itália
Embora tenha um histórico de defesa diplomática de Kadafi ante a comunidade internacional nas últimas décadas, passou a apoiar os rebeldes

– EUA
Apoiam a iniciativa francesa de enviar assessores, mas, envolvidos em duas guerras no exterior, evitam um compromisso maior na Líbia

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