Guerra de palavras substitui diplomacia na crise da Ucrânia

Richard Galpin

A cada dia que passa, a escalada da crise na Ucrânia tem feito com que a linguagem da diplomacia de Estados Unidos e Rússia esteja sendo substituída por palavras de confronto e recriminação.

A declaração feita na quinta-feira pelo Secretário de Estado americano, John Kerry, elevou a retórica a um novo nível: ele acusou o governo russo de não fazer nada para reduzir as tensões no leste da Ucrânia, conforme o estabelecido pelo acordo fechado em Genebra na semana passada.

"Tendo fracassado em adiar as eleições na Ucrânia, tendo fracassado em paralisar um processo político legítimo, a Rússia optou por seguir um caminho ilegítimo de violência armada para tentar conseguir, com armas e grupos violentos, o que não conseguiu de outra maneira", disse Kerry.

O secretário de Estado prosseguiu, descrevendo o comportamento da Rússia como sendo um "um esforço gritante de sabotar o processo democrático". Desde o final da Guerra Fria, mais de 20 anos atrás, não se ouviam tamanhas palavras carregadas de ira dirigidas pelo Departamento de Estado ao Kremlin.

E isso tudo durante o governo de Barack Obama, aquele que, em seu primeiro mandato, tentou "reiniciar" relações com o Kremlin a fim de criar uma atmosfera de engajamento construtivo e cooperação.

No que aparentou ser um desdobramento altamente significativo, em 2010, os dois países chegaram inclusive a assinar um tratado para reduzir ser arsenais nucleares.

Mas aquele breve período de otimismo, no qual Rússia e os Estados Unidos normalizaram suas relações, são hoje uma memória distante.

Primavera árabe

A frustração e a raiva em ambas as capitais aumentaram significativamente desde que as revoluções da Primavera Árabe se espalharam pelo Oriente Médio, há três anos.

A Rússia, institivamente desconfiada de movimentos revolucionários, ficou alarmada com a intervenção ocidental no Líbia que levou à queda do coronel Muammar Khadafi.

Desde então, a Rússia consistentemente apoiou o regime sírio, envolvido em uma Guerra Civil, e barrou todas as tentativas de potências ocidentais de pressionar o presidente Bashar al-Assad a renunciar que foram propostas ao Conselho de Segurança da ONU.

Mas a retórica empregada nessas rusgas iniciais entre a Rússia e o Ocidente agora parece amena se comparada com a empregada atualmente. Todos os vestígios de diplomacia foram abandonados e substituídos por um crescente guerra de palavras.

O primeiro-ministro do governo pró-Ocidente de Kiev, Arseniy Yatsenuk, até mesmo acusou a Rússia de querer começar uma Terceira Guerra Mundial.

"As tentativas de agressão militar da Rússia no território ucraniano levarão a um conflito militar na Europa", disse ele.

"O mundo ainda não esqueceu a Segunda Guerra Mundial, mas a Rússia já quer uma Terceira Guerra Mundial."

Inevitavelmente, houve uma rápida e contundente resposta a tudo isso por parte de Moscou, que acusa as potências ocidentais de criarem uma crise na Ucrânia ao apoiar o movimento revolucionário que derrubou o presidente Yanukovich em fevereiro.

"O oeste quer (e é assim como tudo começou) assumir o controle da Ucrânia por causa de suas próprias ambições políticas, não por causa dos interesses do povo ucraniano", disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.

Guerra Fria

Assim, as tensões da Guerra Fria estão voltando e com grande velocidade.

Soldados russos estão sendo remanejados aos milhares na região da fronteira leste da Ucrânia, esperando uma ordem do Kremlin para realizar uma invasão.

Por outro lado, a oeste e norte da Ucrânia, contingentes de soldados russos e aviões militares adicionais estão sendo enviados para reforçar a segurança de países-membros da Otan, preocupados em relação às intenções mais amplas da Rússia.

E, enquanto isso, Washington está ameaçando impôr sanções que poderiam causar danos significativos à economia russa.

A retórica alarmante reflete o quão perigosa se tornou a situação.

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