Alguns especialistas atribuem a migração de traficantes internacionais para a Bolívia à repressão na Colômbia e ao aumento da violência entre os cartéis no México. Mas, para o colombiano Ricardo Vargas, investigador associado ao Transnational Institute (TNI), isso é "uma ficção".
"O que há é uma ampliação de rotas do narcotráfico muito dinâmica nos últimos cinco anos, onde aparecem Equador, Bolívia, Peru, o sul da Colômbia, que antes não era tão importante", diz.
Segundo ele, os colombianos que atuam na Bolívia não estão desconectados de rotas, associações e acordos com narcotraficantes que seguem atuando na Colômbia. "Foi criada uma figura cômica que diz que o clima está tão contundente na Colômbia que os traficantes estão fugindo daqui. Isso não é certo", afirma.
Um dos principais instrumentos utilizados pelo governo colombiano para combater o narcotráfico foi o chamado Plano Colômbia, um convênio assinado em 2000 que prevê a ajuda financeira e militar dos Estados Unidos. O principal alvo do plano foram as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), uma guerrilha de esquerda que utiliza o narcotráfico para se financiar.
"Está muito claro que o eixo principal das atuações do governo em matéria antidrogas foi evitar que o narcotráfico financiasse a guerrilha", afirma Vargas. "Esse foi aspecto principal desde o governo de Álvaro Uribe [2002-2010]."
Mas, de acordo com Vargas, as Farc seguem exercendo um alto poder de controle sobre todas as zonas produtoras da droga na Colômbia, apesar de ter sofrido duros golpes com a morte de vários de seus líderes. "De qualquer maneira, as guerrilhas foram mais golpeadas do que outros setores ilegais, que se consolidaram muito articulados à institucionalidade colombiana." (FM)