EUA reciclam presença militar no mundo

OPINIÃO

Não é a primeira vez que um presidente democrata escolhe um republicano para sua equipe mais próxima, em especial a Secretaria de Defesa. O próprio Obama, ao assumir o primeiro mandato, manteve no posto Robert Gates, do governo de George W. Bush. Outro democrata a confiar o cargo a um republicano foi Bill Clinton, com William Cohen, ex-deputado e senador pelo partido adversário. Há evidentes acenos políticos nessas nomeações.

Além de ser a Defesa uma área sempre olhada com atenção pelos republicanos. A escolha, portanto, feita por Obama de Chuck Hagel, ex-senador republicano, para a Defesa nada tem de inédito.
 

Com a indicação de Hagel veio a de John Brennan, já assessor de antiterrorismo da Casa Branca, escolhido para dirigir a CIA, no lugar do general David Petraeus, abatido em plena ascensão profissional por um caso amoroso fora do casamento – mortal para alguém no posto dele.
 

Haveria, porém, por trás dessas opções, mais do que interesses político-partidários. O ex-senador não tem bom trânsito em alas republicanas e fez a cúpula conservadora de Israel franzir a testa ao saber de sua indicação. Afinal, Hagel se opõe a ações militares contra o Irã, pelos riscos que envolvem. Prefere a linha diplomática e coercitiva, como o chefe Barack Obama.
 

Veterano e herói de guerra no Vietnã – como o próximo secretário de Estado, senador John Kerry -, Hagel sabe, por experiência própria, o que é um conflito armado de grandes proporções, sem que a tropa tenha convicção de que se trata de uma luta justa. Não surpreende, portanto, que ele tenha criticado a intervenção americana no Iraque, feita por um presidente de seu partido.
 

Brennan, por sua vez, se completa com Hagel na visão de que os Estados Unidos, se for inevitável intervir no exterior, que o façam de maneira limitada. Brennan prefere o uso dos aviões-robôs ( drones ) – ele estaria por trás dos ataques teleguiados a lideranças terroristas -, operações de comando, como o da eliminação de Bin Laden, e é partidário de ataques cibernéticos (como aqueles contra as instalações nucleares iranianas).
 

David Brooks, em uma de suas recentes colunas no "New York Times", enxergou uma lógica na escolha de Hagel: por ser um herói de guerra com biografia republicana, seria um nome perfeito para iniciar um ciclo de cortes orçamentários nos gastos militares, impostos pela realidade, presente e futura.
 

A Defesa não se livrará de uma próxima rodada de cortes, nas negociações de Obama para superar o novo "abismo fiscal". A tendência, segundo Brooks, são os Estados Unidos seguirem a trilha da Europa: mais gastos num "estado de bem-estar" do que em orçamento militar. A reforma na saúde pública conseguida por Obama aponta nesta direção. Faz todo sentido, portanto, rever a estratégia de atuação das forças armadas americanas no planeta.

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