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ELEIÇÃO 2014 – Política externa evidencia diferenças entre Dilma e Aécio

No primeiro turno, o tema política externa foi pouco debatido – em grande parte por ser algo distante da maioria dos brasileiros, mais atentos a questões que interferem diretamente em seu dia a dia. Porém, as ideias de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) para esse campo marcam uma diferença clara entre os dois candidatos.

Enquanto Dilma quer manter o estreito contato com países emergentes, numa aproximação muitas vezes de caráter ideológico, Aécio pretende, caso eleito, olhar mais para países desenvolvidos, com os interesses econômicos e comerciais como prioridade.

Para Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os dois programas de governo mostram diferenças claras no plano retórico.

"O Brasil é uma nação com projeção global e precisa ter uma relação forte com Estados Unidos, Europa, Ásia, África e os vizinhos latino-americanos", diz Stuenkel. "A diferença é que Aécio deve dar provavelmente um peso muito maior ao Itamaraty e dar ênfase no comércio do Brasil com outros países."

Marcos Troyjo, professor do Ibmec/RJ e diretor do BricLab da Universidade de Columbia, nos EUA, afirma que a principal diferença dos dois programas está no campo das preferências ideológicas.

"Entendo que o governo de Aécio teria uma política externa mais focada nos interesses concretos do Brasil, sobretudo em termos de comércio e investimento, e menos como um reflexo de uma visão de mundo compartilhada", afirma Troyjo.

As propostas

Em linhas gerais, Dilma pretende manter o contato político e comercial com países emergentes e reforçar a chamada cooperação Sul-Sul, que prioriza o multilateralismo. Em foco para ela, estão a aproximação com América Latina, África e os países do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul). Em segundo plano, as relações com União Europeia e EUA.

Por sua vez, Aécio quer dar uma guinada na atual política externa. Além de União Europeia e EUA, ele pretende melhorar os laços com a Aliança do Pacífico (México, Chile, Colômbia e Peru), bloco que cada vez mais ganha peso na economia da América Latina.

Entre as propostas de Aécio está a de rever o modelo do Mercosul e a posição do Brasil dentro do bloco. Com a reformulação, o país teria condições de negociar convênios comerciais sem a anuência dos outros membros do grupo e teria chances de tirar do papel – desta vez sozinho – o acordo de livre-comércio com a União Europeia. As negociações entre os dois blocos se arrastam desde 1999.

"Em relação ao Mercosul, deixaríamos de negociar a reboque do que vem sendo a 'catimba' argentina para conversar no âmbito bilateral, mesmo em relação a um acordo comercial com a UE", diz Troyjo. "Em relação ao Brics, continuaríamos na mesma dinâmica de construção constitucional."

Dilma, caso reeleita, afirma em seu programa de governo que os países vizinhos devem ser priorizados tanto no comércio quanto na integração produtiva. O programa petista frisa a importância de fortalecer o Mercosul, a Unasul e a Comunidade dos Países da América Latina e do Caribe (Celac), sem "discriminação de ordem ideológica".

Menos viagens que antecessores

Para especialistas ouvidos pela DW Brasil, Dilma tem uma política externa de menos destaque em comparação a seus antecessores. Um dos parâmetros é o número de viagens realizadas nos três primeiros anos do mandato de cada presidente.

Enquanto Fernando Henrique Cardoso ficou 135 dias no exterior e visitou 26 países, Lula viajou por 182 dias e visitou 49 países. Dilma, por sua vez, foi a 31 países e ficou 113 dias fora do Brasil, dando preferência a América do Sul (20 viagens), Europa (13) e África (sete).

"Na época de FHC e Lula, o chanceler era um dos cargos mais importantes do gabinete, o que não é o caso do governo Dilma", diz Stuenkel. "Hoje, a política externa não é prioridade da presidente, pois ela não considera o tema como peça-chave do projeto nacional."

A tendência é que, se eleito, Aécio seja mais proativo no fechamento de acordos com outros países. Em entrevista recente, o tucano criticou o alinhamento estratégico do governo petista e destacou que a atual gestão perdeu muito tempo e não fez acordos comerciais com parceiros estratégicos.

"A incapacidade do atual governo de ter uma política externa pragmática nos trouxe enorme prejuízo", afirmou.

Independentemente de quem for eleito, Troyjo afirma que são necessárias mudanças drásticas na política externa brasileira. Readequações, afirma, não bastam para a inserção externa do Brasil.

"Nosso êxito internacional só pode se dar com um modelo de 'governança da estratégica' que responda de forma estruturada à nova trama global", opina.

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