Colapso do exército iraquiano ajuda rebeldes islâmicos no Iraque

Jonathan Marcus

O colapso dos militares iraquianos treinados pelos Estados Unidos em meio à ofensiva dos combatentes do ISIS (sigla em inglês do grupo islâmico Estado Islâmico no Iraque e no Levante) e seus aliados ressalta a posição perigosa com a qual as autoridades do Iraque estão tendo que lidar.

Nos últimos dias, a ISIS, uma milícia muçulmana sunita, tem avançado pelo norte e oeste do país, tomando cidades importantes como Mosul, a segunda mais populosa do Iraque. Isso causou preocupação até mesmo em Washington, que prometeu nesta semana ajudar o governo iraquiano.
 

No papel, as Forças Armadas iraquianas são de um tamanho considerável – um Exército de 193 mil homens e 500 mil policiais e paramilitares. Isso seria suficiente para impor sérias dificuldades ao avanço dos rebeldes.

Mas as forças armadas do país ainda estão em processo de desenvolvimento. Um sinal evidente disso é a limitação de sua Aeronáutica, por exemplo.

Todavia, se esperaria dos militares iraquianos – após a retirada dos americanos do país em 2011 – um desempenho razoável em combate.

O que tem ocorrido é muito diferente: eles têm abandonado seus armamentos, jogado fora seus uniformes e desertado.

Já o ISIS têm demonstrado ser uma força muito mais competente do que indica sua descrição como um simples braço da al-Qaeda.

Porém o grupo é numericamente muito inferior às forças de segurança iraquianas. Então, por que esse colapso precipitado? A resposta pode recair sobre diversos fatores – como deficiências no equipamento militar, de organização, entre outros fatores. Mas as razões fundamentais são provavelmente políticas.

Novo modelo de Exército

Em uma medida muito criticada, os Estados Unidos simplesmente dissolveram as forças armadas do Iraque após a queda de Saddam Hussein.

Em seu lugar, estabeleceram um Exército com características ocidentais em termos de equipamento, doutrina e comportamento.

Criar qualquer força militar a partir do zero é uma tarefa descomunal. Algum progresso já está sendo feito, mas o projeto ainda precisará de muitos anos para ser concluído.

A saída das forças americanas no final de 2011 acabaram com a orientação e o treinamento dado pela potência às unidades iraquianas.

Olhando em retrospectiva pode ter sido um engano tentar estabelecer uma força militar ao estilo ocidental, que tem formas muito diferentes de lidar com o apoio logístico, entre outros aspectos.

Talvez uma abordagem híbrida devesse ter sido usada, alguma que misturasse elementos de uma força moderna com tradições e aspectos culturais mais familiares às tropas iraquianas.

Objetivos internos

A força militar iraquiana foi primariamente desenvolvida para realizar tarefas de segurança interna.

Presumiu-se que a defesa das fronteiras iraquianas – no caso de uma ameaça do Irã por exemplo – seria assumida pelos americanos.

Assim, questões como o desenvolvimento de uma Aeronáutica ou de uma rede de defesa antiaérea, que requerem tempo considerável para equipar e treinar, não foram a maior prioridade.

O desafio do ISIS se provou estar além da capacidade da força militar iraquiana. Um dos motivos é que falta ao país, por exemplo, a capacidade aérea que poderia ser usada como uma intervenção rápida e decisiva para barrar o avanço do ISIS no campo de batalha.

Partida americana antecipada

A saída americana teve um impacto fundamental nas capacidades do Iraque, assim como na habilidade de Washington de entender o que se passa no terreno.

O governo do premiê Nouri Maliki, dominado por xiitas, aparentou limitar qualquer apoio para uma parceria estratégica significativa com Washington.

O país queria comprar armas dos Estados Unidos, mas também as buscou na Rússia, Bulgária e em outros locais.

As reservas de petróleo do Iraque deram ao país a possibilidade de comprar armas de outras regiões, o que limita a influência dos Estados Unidos sobre Bagdá.

Contaminação sectária no Iraque

Mesmo antes da partida das tropas americanas, o premiê Maliki tentou colocar pessoas de sua confiança em posições de comando.

Com a partida americana esse fenômeno se acelerou. Posições de comando cada vez mais se tornaram relacionadas a relações sectárias ou familiares.

A corrupção se tornou frequente entre os militares – resultado oposto do ideal de profissionalismo que os americanos queriam criar.

Além disso, os militares passaram a ser vistos como uma força sectária, usada pelo governo de Maliki para seus próprios objetivos.

Com o avanço dos insurgentes, o medo da provável retaliação das forças do governo, assim como das forças irregulares do ISIS, fizeram milhares deixarem suas casas.

Em resumo, a dimensão política é um dos aspectos fundamentais das possíveis explicações para o fracasso das forças de segurança. Ela também impede um apoio maior americano às forças iraquianas.

Uma intervenção dos Estados Unidos poderia conter o avanço das forças do ISIS.

Mas sem uma mudança fundamental vinda do governo de Maliki ou a boa vontade de sunitas e xiitas para assumir os compromissos necessários para a viabilização de um governo nacional o país até pode superar a crise, mas não de forma definitiva.
 

Ajuda dos EUA e Irã


Os Estados Unidos anunciaram neste sábado que estão enviando para a região do Golfo Pérsico um navio de guerra para dar opções a Washington, caso a situação no Iraque piore mais nos próximos dias.
O secretário de defesa, Chuck Hagel, determinou que o envio do porta-aviões USS George HW Bush, capaz de carregar dezenas de caças.

Por sua vez, o governo iraniano indicou que está preparado para trabalhar em conjunto com os americanos na luta contra insurgentes sunitas no Iraque.
 
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, disse ter oferecido ajuda a Bagdá, mas negou que, até o momento, tenha enviado tropas ao país vizinho.
 
Entretanto, um jornalista da BBC no Iraque disse ter recebido a informação de que mais de 130 membros da Guarda Revolucionária Iraniana já estão no Iraque para ajudar em treinamentos e dar assessoria aos militares locais. Um general iraniano também já teria chegado a Bagdá.

 

 

 

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