Brasil adere à “coalizão de alta ambição” em Paris

A um dia do acordo final na Conferência do Clima em Paris (COP21), a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira anunciou que o Brasil vai aderir à “coalizão de alta ambição”, grupo formado por mais de 100 países e até agora cercado por mistério.

“É uma iniciativa feita pelas Ilhas Marshall que mobilizou vários países para que pudéssemos fazer progressos [nas negociações] e ficar abaixo [da elevação da temperatura] de 1,5?C e trabalharmos juntos”, respondeu.

Até então, a coalizão era formada por países poderosos, como Estados Unidos, Canadá e o grupo da União Europeia, e algumas nações em desenvolvimento, como Colômbia e México. Brasil, China, Índia e África do Sul não teriam sido convidados para se juntar ao grupo. No dia anterior, Gao Feng, da delegação chinesa, não quis comentar o fato de não ter sido “convidado”.

“O Brasil defende a posição que está no texto de sairmos abaixo de 2?C pontos e irmos para 1,5?C e depois evoluir”, afirmou Teixeira.

Questionado sobre o porquê de esses países não terem sido “convidados”, o ministro das Relações Exteriores das Ilhas Marshall, Tony de Brum, respondeu: “Outros países são bem-vindos, mas é preciso trazer alta ambição para o acordo”, comentou, sem dar mais detalhes.

Segundo um representante do governo norueguês, a ideia da iniciativa nasceu há três anos, com União Europeia e Noruega, mas ganhou corpo durante as negociações na COP21.

O grupo defenderia principalmente quatro pontos: querem que o Acordo de Paris tenha forca de lei; que o documento sinalize uma meta de longo termo para conter a temperatura seguindo o que a ciência indica; uma revisão a cada cinco anos das metas de redução das emissões; e ainda um sistema unificado para avaliar o progresso dos países no corte da poluição. Este último é especialmente controverso, por os países em desenvolvimento temerem serem expostos de maneira indesejada.

“Esperamos que Paris seja um ponto de virada na luta contra mudanças climáticas”, disse ainda sobre a coalizão Tina Sundtoft, ministra de Meio Ambiente da Noruega.

Para a ministra Izabella Teixeira, a última versão do texto melhorou muito em relação ao primeiro rascunho. “Sinaliza caminho de convergência”, comentou. “O Brasil facilitou junto com Alemanha e Cingapura conversas na área de diferenciação. Ainda há algumas dificuldades, o dia será de reuniões bilaterais.”

“Não adianta ter um acordo em que os grandes emissores não estejam a bordo. Eu não acredito num acordo em Paris se Estados Unidos, China, União Europeia não estiverem a bordo. A gente tem que entender quais são as condições que eles também colocam”, completou Teixeira sobre o pacto prestes a ser fechado na COP21.

França anuncia proposta para acordo global sobre clima

Com um apelo emotivo, o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, apresentou neste sábado (12/12) aos representantes de 195 países reunidos na Conferência do Clima (COP21) o rascunho do acordo final sobre alterações climáticas, que visa conter o aquecimento global abaixo dos 2ºC e limitá-lo a 1,5ºC.

Ao lado do presidente francês, François Hollande, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, Fabius propôs um acordo climático que prevê uma verba de 100 bilhões de dólares, a partir de 2020, em ajuda para os países em desenvolvimento e, ainda, um ciclo de cinco anos para analisar ações nacionais de combate às emissões de gases do efeito estufa.

O documento precisa agora da aprovação dos delegados de 195 países, que vão se reunir nesta tarde (horário europeu). O texto é considerado um grande avanço nos esforços globais para evitar as consequências desastrosas de um planeta superaquecido.

"Estamos quase no final do caminho e, provavelmente, no início de um outro", afirmou o chanceler francês e presidente da COP21. "Nossa responsabilidade com a História é imensa", afirmou Fabius, pedindo ainda que os países não repetissem a experiência mal-sucedida da Conferência do Clima de Copenhagen (COP15), na Dinamarca, em 2009.

Logo depois, Hollande afirmou aos negociadores que "vocês têm a oportunidade de mudar o mundo".

"O dia [12 de dezembro] poderá ver um acordo histórico, e poderá ser uma data de grande importância para a humanidade", afirmou o presidente francês, lembrando que há quase um mês Paris foi devastada por ataques terroristas que mataram 130 pessoas.

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