AIEA: Irã elevou enriquecimento de urânio

VIENA . Apesar dos avanços, ainda que tímidos, no diálogo com as potências, o Irã não para de dar motivos de desconfiança à comunidade internacional em relação ao seu programa nuclear. Ontem, inspetores das Nações Unidas revelaram num relatório a descoberta de partículas de urânio enriquecido acima de 20% em instalações iranianas, nível superior ao informado por Teerã e que representa um passo importante para a fabricação de uma bomba atômica.

Entregue à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o relatório trimestral foi elaborado com base em amostras obtidas em 15 de fevereiro nas instalações de Fordow, central de enriquecimento de urânio subterrânea em montanhas no Noroeste do país.

O texto contempla a justificativa do Irã, que atribuiu enriquecimento mais alto a falhas técnicas, e sugere que os resíduos de urânio encontrados podem ser resultado de um fenômeno resultante da calibragem no início da operação de uma nova rede de centrífugas em Fordow. Mesmo assim, os EUA cobraram uma investigação mais detalhada.

– Há uma série de explicações para isso, inclusive as proporcionadas pelos iranianos. Mas vamos esperar que a AIEA vá mais a fundo nisso – ressaltou Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado americano.

Os resíduos de urânio encontrados estavam enriquecido a 27%, nível superior aos 19,75% informados por Teerã. Para se chegar a uma bomba atômica, é necessária uma pureza de 90%, mas o que preocupa o Ocidente é o fato de ser mais difícil alcançar 20% do que avançar deste ponto até 90%. O relatório não detalha a quantidade representada pelo material coletado.

O Tratado de Não Proliferação Nuclear não faz restrições quanto ao nível de enriquecimento de urânio, mas deixa claro que um programa nuclear civil não pode ter implicações militares – a principal suspeita das potências em relação ao Irã.

Apesar de Teerã garantir que enriquece urânio para abastecer reatores de pesquisas médicas, os inspetores da ONU dizem não ter acesso suficiente às instalações iranianas para confirmar tal justificativa. O relatório entregue à AIEA afirma que não há, por parte do Irã, a cooperação necessária para uma verificação completa, e reforça as preocupações com o complexo militar de Parchin, onde imagens de satélite mostram "extensas atividades" nucleares.

Uma fiscalização mais detalhada é ponto-chave nas negociações com o chamado grupo P5+1 (EUA, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha), que realizou nesta semana em Bagdá o segundo encontro após uma paralisação de 15 meses. A reunião terminou sem avanços. O diálogo será retomado em junho, em Moscou.

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