Afeganistão: Paris e Washington divergem sobre permanência de tropas

Um dia depois de a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, ter afirmado que a França não cogita antecipar a retirada de seus soldados do Afeganistão, Paris emitiu um comunicado informando que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, avalia qual será a sua decisão. Neste domingo, o soldado afegão que matou quatro franceses na sexta-feira disse que atirou em represália ao vídeo em que soldados americanos urinam sobre os corpos de talibãs.

“O ministro Alain Juppé informou [Hillary] Clinton sobre as decisões tomadas pelo presidente da República em 20 de janeiro: suspensão das operações de formação e apoio ao Exército nacional afegão, envio do ministro da Defesa e do chefe do Estado Mario do Exército no Afeganistão para esclarecer as circunstâncias do atentado e dialogar com autoridades afegãs”, afirma o comunicado divulgado pelo ministério das Relações Exteriores da França. “Com base no relatório deles, o presidente da República vai decidir sobre as consequências do atentado perpetrado contra as nossas forças por um membro do Exército nacional afegão”, conclui o texto.

Na sexta-feira, quatro soldados franceses foram mortos por um militar afegão, aumentando para 82 o número de franceses que perderam a vida no país. Instantes depois, Sarkozy declarou que “se as condições de segurança não forem claramente garantidas, nós pensaremos em um retorno antecipado das tropas francesas”. No total, 3,6 mil soldados participam da missão.

Na própria sexta, Clinton declarou que não havia “nenhuma razão para pensar” que a França sairia do país antes do prazo estabelecido, em 2014. Ontem, o Departamento de Estado americano abordou novamente o assunto, ao publicar uma nota segundo a qual Clinton e Juppé haviam conversado por telefone e “chegado ao acordo” de que os Estados Unidos e a França “continuariam com os trabalhos” da missão, em parceria com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

O presidente afegão, Hamid Karzai, atribuiu hoje o atentado – que feriu outros 15 militares, oito deles com gravidade – a “um ato isolado”. O soldado afegão, de 21 anos, abriu fogo contra os franceses enquanto eles jogavam futebol, sem armas ou proteção. Interrogado, ele afirmou hoje que atirou em represália ao vídeo, divulgado na internet, que mostra soldados americanos urinando sobre os corpos de quatro talibãs. As imagens provocaram revolta no país.

França suspende missão no Afeganistão após morte de militares

O presidente Nicolas Sarkozy suspendeu temporariamente as atividades de treinamento e combate das tropas francesas no Afeganistão, após a morte de quatro militares franceses baleados na manhã desta sexta-feira por um homem vestindo uniforme militar afegão. O incidente aconteceu perto da base francesa do distrito de Tagab, no vale do Kapisa.

O atirador feriu outros 17 soldados franceses e foi detido, segundo o comando das forças internacionais da OTAN.

"Nós somos amigos do povo afegão, aliados do povo afegão, mas eu não posso aceitar que soldados afegãos atirem em soldados franceses”, afirmou Sarkozy.

O chefe de Estado informou que o ministro da Defesa, Gérard Longuet, vai ao Afeganistão avaliar as condições de segurança. Sarkozy disse que poderá antecipar a retirada das tropas francesas, inicialmente prevista para o fim de 2014.

O assunto será discutido pessoalmente com o presidente do Afeganistão, Ahmid Karzai, durante sua visita a Paris no dia 27 de janeiro.

A Força Internacional da OTAN anunciou em um comunicado a morte de 4 soldados por um militar afegão, mas sem mencionar a nacionalidade das vítimas. O secretátio-geral da OTAN Andres Fogh Rasmussen disse que é “um dia triste” para a Aliança Militar.

No dia 29 de dezembro, dois legionários franceses foram mortos por um soldado do Exército nacional do Afeganistão na região de Kapisa onde os talibãs estão infiltrados.

Com as mortes de hoje, a França já perdeu 82 militares em dez anos de ocupação das tropas da OTAN. Em outubro 400 homens voltaram para casa, mas 3.800 militares franceses ainda estão em solo afegão.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter