Artic Sunrise – Mãe – Ela não fez nada de errado

 

Nota DefesaNet,

A ação do Greenpeace contra a plataforma Prirazlomnaya da empresa estatal russa Gazprom, no dia 18 de setembro de 2013, no Oceano Ártico, será um padrão de ação possível contra as plataformas do pré-sal?

Certamente sim. O governo brasileiro, leia-se Itamaraty tem conseguido conter certos arroubos, mas a militante EBC não resiste em sair à rua, mesmo que no futuro a mesma ação certamente será empregada contra o Brasil e afete aliados do Governo Brasileiro.

A reportagem de Zero Hora, faz parte do roteiro de pressão internacional, agora usada contra a Rússia, no futuro contra o Brasil.

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LÉO GERCHMANN


Rosângela Maciel, 56 anos, mantém, no micro-ônibus em que conduz 12 alunos da Escola Menino Deus, uma garrafa d’água, pirulitos e a mais recente edição da revista Agulhas de Ouro. A água serve para aplacar a sede nas horas que passa levando as crianças de casa para a escola e da escola para casa. Os pirulitos, para dar aos garotos na sexta-feira, dia em que eles já encontram “Tia Rose” sabendo que ganharão a guloseima. A revista, para novas técnicas de ponto-cruz, maneira discreta de aplacar a ansiedade provocada pela ausência da filha Ana Paula Maciel, 31 anos.

Ana Paula é bióloga do Greenpeace e está presa desde o dia 18 na Rússia com um grupo de 30 ativistas que protestava perto da plataforma de petróleo no Mar de Pechora, no Ártico.

Esportiva, vestindo tênis e um blusão cinza, Rosângela parece tranquila quanto ao comportamento da filha, de quem diz sentir orgulho. Queixa-se, porém, de não ter recebido telefonemas dela e de desconhecer se a última decisão da Justiça russa é de prisão por três dias corridos ou úteis. Leia trechos da entrevista:

Zero Hora – As poucas informações sobre Ana Paula são seu maior fator de angústia?

Rosângela Maciel – Sim. A gente não ouve a voz dela. Ela nem entra mais no Facebook. É, sim, a maior angústia. Qualquer recadinho dela já seria suficiente para me deixar mais calma, para tirar essa ansiedade que estou sentindo.

ZH – Pelas fotos, é possível avaliar como ela está?

Rosângela – As fotos dão um alento. Vi a fisionomia dela, o jeito que ela estava. Ela está tranquila.

ZH – Dá para ver isso pela expressão dela?

Rosângela – Pela expressão dela, está tranquila. É uma mensagem nas entrelinhas para nós. Que está bem, que está tudo sob controle. Na última foto, de ontem (publicada na edição de quinta-feira de Zero Hora), ela estava sorrindo, um sorriso bom. Numa outra vez, ela parecia cansada.

ZH – Vocês ficam, então, atrás de detalhes para decifrar o estado emocional de Ana Paula?

Rosângela – Exatamente isso. Por exemplo, tem uma em que eles estavam dentro do barco, ela está meio de costas, compenetrada, ouvindo o que estavam dizendo. Eu a conheço até no andar. Posso dizer que ela está tranquila.

ZH – O que ela faz aqui?

Rosângela – Ela vive para o ambiente, fazendo campanha, explicando até o detalhe de como usar sacolinha, sobre o toco de cigarro. Ela não usa sacolas plásticas. Me trouxe várias sacolas da Europa. Não admite que usemos sacolas plásticas, está nos reeducando. Me ajuda. É contratada pelo Greenpeace, como marinheira. Ganha pelos três meses em que viaja, trabalha como bióloga, consegue empregos de dois ou três meses, vai embora de novo.

ZH – Quanto tempo ela fica em Porto Alegre?

Rosângela – Depende do que ela está planejando. Se vai viajar, se vai fazer um voluntariado, depende da grana que ela tem. Ela participa do projeto Tamar (de preservação de tartarugas marinhas).

ZH – Como a senhora se sente durante essas ausências?

Rosângela – Era como sair para uma balada que dura três meses. Mas como ela é uma menina forte, guerreira e determinada, não me preocupo tanto quanto no início. Porque, quando ela saiu daqui, saiu sem conhecer nada. Nem falava inglês. Hoje, fala inglês fluentemente. Ela se vira, nunca perdeu um avião, uma conexão. Ela é do mundo.

ZH – A pena por pirataria chega a um máximo de 15 anos, mas já houve algumas decisões segundo as quais os ativistas ficaram presos dois meses. Se forem dois meses, é suportável?

Rosângela – É, existe o recurso. Mas, sim, dá para administrar. Só sabendo que ela está bem.Vi nas fotos que aquelas cadeias de lá são limpas, quase individuais, tratam as pessoas bem.

ZH – A senhora tem recebido solidariedade de amigos e familiares?

Rosângela – Sim, sim, tu não imaginas o quanto. As primas, os tios, as primas, as avós, os conhecimentos, os ex-colegas de trabalho.Ela sempre foi muito benquista.

ZH – A senhora já procurou informações sobre o sistema penitenciário da Rússia?

Rosângela – Sim, já. Para mim, qualquer coisa de informações de lá está valendo. Por isso falo das fotografias. Pelo aspecto dela, ela está bem. Bem vestida, bem limpa. Claro, o aspecto de cansada, até eu estou com aspecto de cansada. Mas está bem alimentada. Um funcionário graduado do Greenpeace esteve com ela, conversou com ela e me ligou dizendo: “Dona Rosângela, a senhora fique tranquila que a Ana Paula está bem”.

ZH – Ela mandou um recado para a senhora?

Rosângela – Ela pediu que ele dissesse a todos que está bem, que fiquem tranquilos.

ZH – Ela tentou telefonar?

Rosângela – Pelo que entendi, os russos não estão admitindo essa comunicação. Mas o pessoal está lutando, está batalhando. Inclusive, vai outro colega dela para lá, para ver se consegue uma ligação de todos os ativistas com as famílias.

ZH – A senhora tem quantos filhos, além de Ana Paula?

Rosângela – A Ana Paula é a mais jovem. Tenho mais um filho e uma filha e dois netos. Todos estamos muito unidos, somos uma família muito unida.

ZH – Como dá para definir o seu sentimento?

Rosângela – É uma angústia que dói. Mas, ao mesmo tempo, é um orgulho de ela ser tão valente. Ela é uma leoa no que defende. Como é que não vou me orgulhar de uma filha que está dando a cara a tapa para mudar o ambiente? Eles estão todos, lá, lutando para mudar o mundo, por todos, mesmo por quem não tem essa consciência. A Ana Paula não é nada materialista, não é nada apegada a coisas materiais, é 100% idealista, acredita na causa, no que está lutando.

ZH – Como foi o envolvimento dela com a ecologia?

Rosângela – Desde cedo ela gostava de bichinhos. Sempre cuidou de formiga, de cascudinho, de tatuzinho-bola. E assim ela foi crescendo.

ZH – E a senhora sempre a incentivou?

Rosângela – Incentivei, sempre, sempre, sempre.

ZH – Em 2006, ela ingressou no Greenpeace e foi presa no Caribe. No início do atual episódio na Rússia, essa experiência anterior era tranquilizadora?

Rosângela – É, ela foi presa, mas houve pouca repercussão. Ela já estava solta fazia quatro dias quando fiquei sabendo. Na verdade, isso é esperado sempre nas viagens. Faz parte do trabalho deles, do ativismo deles. E isso não é de condenar, é de aplaudir.

ZH – São os chamados ossos do ofício?

Rosângela – Sim, são os ossos do ofício. Tenho certeza de que em nenhum momento ela se arrependeu do que fez. Ela não fez nada de errado.

ZH – A senhora é uma ecologista?

Rosângela – Pode-se dizer que sim.

ZH – Daqui a pouco, a senhora vai dar pirulitos às crianças. Onde eles vão colocar os papéis que embalam os doces?

Rosângela – Vão naquela sacolinha ali. Eles põem tudo ali dentro e depois eu ponho no lixo. Nada eles põem pela janela. Eu também ensino isso.

ZH – A convivência com as crianças ajuda?

Rosângela – Ajuda muito, como mãe, como avó. É muito bom. Adoro o que faço. Enquanto eles estão comigo, sou uma extensão do pai e da mãe. Também temos de ajudar a educar. Eles me perguntam por que a minha filha está presa e torcem muito por ela. É um carinho. É muito bom.

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