Sucesso Dos Mega Eventos No Brasil Depende Da Interoperabilidade Entre Todas As Forças Envolvidas

Marcos Ommati/Diálogo

Recentemente, o Brasil foi anfitrião de dois eventos de porte: os V Jogos Mundiais Militares e a conferência Rio+20. O êxito no quesito segurança foi total e a participação das Forças Armadas brasileiras foi decisiva para isto. No entanto, o país será a sede de pelo menos outros quatro importantes eventos entre 2013 e 2016: a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo FIFA 2014 e as Olimpíadas de Verão de 2016. Novamente, as FF. AA. entrarão em campo (em alguns casos, literalmente) para garantir a lei e a ordem.As atribuições dos militares brasileiros para os chamados mega eventos estão previstas em portaria assinada pelo Ministério da Defesa.

O documento diz que as Forças Armadas atuarão na defesa e no controle do espaço aéreo; na defesa de portos, rios e áreas marítimas; na segurança cibernética; no preparo e emprego de equipes antiterrorismo; na fiscalização de explosivos e na atuação de forças de contingência contra agentes químicos, biológicos, radiológicos ou nucleares em todas as cidades-sede ou outros locais onde os eventos ocorram.

De acordo com o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil, General-de-Exército José Carlos de Nardi, que concedeu uma entrevista a Diálogo em Brasília, no final de janeiro de 2013, quem trabalha com segurança sabe a importância de aprender com as lições de eventos anteriores. “A experiência acumulada durante os V Jogos Mundiais Militares, a Rio+20 e, antes deles, os Jogos Pan-Americanos de 2007, nos permitirá aprimorar procedimentos operacionais e o planejamento, a formulação e a execução das ações destinadas às Forças Armadas”, declarou o Gen Ex De Nardi.

Espaço aéreo

O general cita o plano de segurança executado durante os V Jogos Mundiais Militares e a Conferência Rio+20 como exemplos do quanto as Forças Armadas do Brasil se preocupam com a questão da segurança do espaço aéreo, uma vez que artilharia antiaérea é pré-requisito dos comitês internacionais que organizam a Copa do Mundo e a Olimpíada. Segundo ele, a artilharia antiaérea é parte da equação, mas não representa, sozinha, a solução para tudo. O Gen Ex De Nardi assegura que cada uma das cidades envolvidas nesses eventos esportivos terá uma capacidade de defesa aérea adequada às suas necessidades (ver quadro).

Ainda de acordo com o general, as Forças Armadas brasileiras já adquiriram todo o material principal necessário para dar um bom suporte para as forças públicas durante os mega eventos e estão trabalhando para complementar suas capacidades naquilo que ainda é possível ser melhorado, sem entrar em detalhes devido a questões de segurança. Ele informou, ainda, que serão usados pelo menos 1,5 mil militares em cada uma das 12 sedes da Copa do Mundo, com um total de 18 mil uniformizados, “mas isso não impede que novas análises sejam feitas pelas Coordenações de Defesa de Áreas e levem, até mesmo, a um aumento desses efetivos”, completou.

Comandos integrados

Haverá, também, a montagem de centros de comando e controle em cada uma das sedes do Mundial 2014. Esses centros funcionarão interligados aos centros de comando e controle mantidos pelos órgãos de segurança pública e àqueles mantidos pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, que coordena, de forma mais ampla, a atuação dos militares. “Vale dizer que a integração será o ponto-chave da segurança desses eventos, cada qual atuando em sua respectiva esfera”, disse o General Carlos de Nardi.

Outro fator primordial para o sucesso nestes eventos, de acordo com o ministro da Defesa do Brasil Celso Amorim, é a cooperação internacional, uma vez que grandes eventos exigem uma preparação especial e esta cooperação internacional, quando bem arquitetada, desempenha um papel importante nesse processo. “Por isso, temos recebido delegações de diferentes países e ampliado nossos laços de interação e confiança com todos eles”, disse Celso Amorim a Diálogo.

Interoperabilidade

Para o deslocamento das equipes dentro das cidades, haverá sempre uma coordenação combinada envolvendo, inclusive, o aparato de segurança das organizações esportivas internacionais. No caso da Copa do Mundo, por exemplo, as equipes serão escoltadas por agentes de segurança da FIFA, com o apoio da Polícia Federal do Brasil. Esses deslocamentos serão monitorados pelos centros de comando e controle dos órgãos de segurança pública disponíveis em cada cidade.
 

Para que tudo ocorra sem transtornos, é fundamental a questão da interoperabilidade entre todas as forças envolvidas porque “fazer a segurança do evento é uma coisa, e criar condições de segurança pública para que o evento aconteça é outra coisa”, disse a Diálogo o Coronel Alberto Pinheiro Neto, chefe do Estado-Maior Geral Operacional da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ). Ele explicou que os investimentos da PMERJ são para que a pessoa “venha ao Rio de Janeiro, vá assistir a um jogo no Maracanã, mas se for participar de um evento paralelo em Copacabana, que ela esteja segura; se ela quiser conhecer uma cidade do interior, que esteja segura, e não esteja segura somente no Maracanã”.

O Ministério da Defesa do Brasil informou que o plano de segurança concebido por eles foi arquitetado para influenciar o mínimo possível na rotina da população. A preocupação maior foi reforçar a segurança contra ameaças potenciais reais, como investidas terroristas e ataques virtuais, entre outras, e por isso não há previsão da ocupação pelas Forças Armadas de favelas antes e durante os mega eventos.

Ações antiterror

O General Carlos de Nardi preferiu, por questões estratégicas e de segurança, não elaborar a respeito da possível criação de uma força-tarefa conjunta de operações especiais antiterrorismo. “O que posso dizer é que nossos militares receberam treinamento adequado para lidar com os desafios a elas inerentes. Dispomos, também, de forças especiais muito bem preparadas, o que me deixa confiante em nossa capacidade de prevenção, no caso do antiterrorismo, e de resposta, nas situações de contra-terrorismo.”

No entanto, o General De Nardi comentou sobre quais ações estão sendo implementadas para desenvolver a interoperabilidade das FF. AA. durante os mega eventos que terão o Brasil como anfitrião. De acordo com ele, as Forças Armadas brasileiras atuarão em comandos conjuntos compostos por efetivos das três forças, o que permitirá integração permanente.

A divisão desses comandos, no caso da Copa do Mundo, será feita de acordo com cada cidade-sede. O Exército indicará os coordenadores de defesa de Rio, Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Fortaleza, Cuiabá, Manaus, Porto Alegre e Recife. A Marinha indicará os coordenadores de Salvador e Natal, enquanto a Aeronáutica apontará o responsável por Curitiba. “Em todo caso, o foco de atuação está em criar sinergia face a um objetivo comum, já que nenhum ramo das Forças Armadas consegue, por si só, dar conta de todos os desafios inerentes à segurança desses eventos”, finalizou.

Base Aérea do Brasil

Jurassa Peccini/Revista da Força Aérea Brasileira

Brasília será uma grande base aérea, com aeronaves das mais diversas aviações distribuídas pelo país, mobilizadas para a segurança das competições esportivas internacionais, como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O novo modelo de comando e controle foi testado no ano passado, em operações militares que reuniram as três Forças Armadas, e prevê a criação de um comando central, no caso em Brasília, para a articulação de todos os meios aéreos disponíveis no país. Antes disso, todos os aviões envolvidos eram deslocados e concentrados, acompanhados do comando, em cada região do país.

“Isso representa economia de recursos materiais, humanos e financeiros”, afirma o Chefe do Estado-Maior do Comando-Geral de Operações Aéreas (EMGAR), Major-Brigadeiro-do-Ar Antonio Carlos Egito do Amaral. A Copa do Mundo, por exemplo, será realizada em 12 cidades-sedes espalhadas pelo país, o que implicaria, pelo modelo anterior, a concentração de recursos e efetivos em cada uma dessas regiões. Pelo novo modelo, haverá um comando central, capaz de articular todos os recursos disponíveis para a segurança aérea dos eventos.

Com o planejamento centralizado, vamos colocar a aeronave certa no momento oportuno para atender as necessidades de cada área”, destaca o oficial-general.

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